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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

199 artigos

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Eles veem tudo

(Foto: Reuters)
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A disputa entre o Ministro Alexandre de Moraes e o Telegram, despertando a ira de Jair Bolsonaro, evoca utopias negativas, algumas das quais, como 1984, de George Orwell, de sucesso, desde o seu surgimento, durante a guerra fria. O escritor inglês pensava no regime estalinista, hegemônico e absoluto no controle da população. Por ironia, das muitas que a existência gosta de exibir, o que era para ser uma crítica ao totalitarismo comunista se revelou, aos poucos, além daquilo, igualmente, uma contundente metáfora do capitalismo, tornado hegemônico em boa parte do planeta. Outras utopias negativas surgiram, sem o mesmo impacto, como no filme de François Truffaut Fahrenheit 451, baseado num romance de Ray Bradbury. De fato, sobretudo depois do fim da União Soviética, cada vez mais, a criação de Orwell se voltou, sem querer, para o ambiente do sistema capitalista, ávido para dominar o conjunto das opiniões, sobretudo as mais dóceis.

Alguns oportunistas, como Steve Bannon, aproveitaram-se das novas tecnologias, como Facebook, WhatsApp, Instagram, Telegram, para impor plataformas eleitorais junto à opinião pública - e vencer. Brasileiros, em 2018, fomos vítimas dele. Agora, no pleito que se avizinha, preocupações dizem respeito à independência, ou não, nas opções pelo voto. Certos políticos revelam preferência pelos aplicativos norte-americanos, dominantes nesta parte do mundo; outros, concentram-se no Telegram, desenvolvido pelos russos e pronto para lhes satisfazer as vontades. A maioria se mostra avessa a qualquer controle do Estado, enquanto se espalha aos quatro cantos, determinando escolhas e reunindo atitudes totalizantes. O Ministro Alexandre de Moraes não atuou gratuitamente ao questionar o Telegram que, depois de uma queda de braço, cedeu aos questionamentos e, por isso, salvou a face. No meio de uma guerra, como na Ucrânia, fica evidente a manipulação de vontades, valendo-se dos aplicativos que, de repente, tornaram-se cada vez mais perigosos. Como constituem invenções brilhantes, prestando-se a estreitar laços em termos de comunicação, o segundo lado da moeda, no que lhes diz respeito, não parece ser notado. Cumpre salientar que, assumindo a função de foco, colocamo-nos no centro de um bombardeio que não movimenta armamentos bélicos, atingindo-nos sub-repticiamente. Estamos num ambiente que valoriza a opinião. É o motivo pelo qual, jogando-se um forte estado de condenação a uma das partes, pode-se imaginar que frações da guerra da Ucrânia oferecem a impressão de ganhar, para além dos campos de batalha. 

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Os aplicativos nos transformam em objetos concretos de dominação, até quando não nos damos conta. Tornaram-se tão poderosos que resistem a iniciativas no sentido de cerceá-los. No início estávamos frente a uma discussão sobre a liberdade. Já não estamos. O Grande Irmão de Orwell, na sua eterna vigilância, voltado para nós, conhece os nossos movimentos e os induz para um lado ou para outro. Eles veem tudo. Estão conscientes das nossas qualidades e defeitos. É algo que já aconteceu no passado. Invenções maravilhosas, e importantes no desenvolvimento da humanidade, serviram, em contrapartida, para sofisticar estratégias de extermínio, como a Bomba Atômica. Por sorte, a inteligência existe e ainda se acha alerta. Pode erguer-se contra aos ataques, venham de onde vierem. Até hoje, pelo menos, ninguém logrou um controle total sobre as mentes de homens e mulheres. Frestas resistem e subsistem. 

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