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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Em novo documentário Maria Augusta Ramos conta história de solidariedade na CEF e discute ameaça de privatização

A colunista Denise Assis comenta o novo trabalho da cineasta Maria Augusta Ramos. Ela diz: "o diálogo de gerações mostrado no filme evidencia o quanto a juventude que ingressa na carreira vem despreparada politicamente. Temerosos com a ameaça de privatização da Caixa, eles hesitam em discutir o tema abertamente"

Entrevista especial Cinema e Política com Maria Augusta Ramos. Dia 17-4-2018 (Foto: Ana Paula Amorim)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - “E o Oscar vai para” ... A clássica frase que antecede a escolha do filme ou de cada categoria na excelência da arte de fazer cinema consagrou, na noite de domingo (9 de fevereiro), como melhor documentário, “Indústria Americana”, de Júlia Reichert e Steven Bognar. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood optou por laurear a discussão em torno da perda de direitos dos trabalhadores, o confronto entre culturas e a disputa acirrada entre China e EUA - por mercados - além de toda uma análise da chegada da tecnologia, subtraindo postos de trabalho, como vencedor. De forma objetiva, jornalística, os autores relatam como o local onde funcionava a fábrica da GM devastada pela crise financeira de 2008, foi transformado, entre 2015 e 2017, na filial da fabricante de para-brisas, a chinesa Fuyao.

A dois dias da grande festa do Oscar, (em 7 de fevereiro), a cineasta Maria Augusta Ramos, diretora de “O Processo”, estava na cidade de São Paulo. Com “O Processo” - o primeiro documentário que abordou o golpe sofrido pela presidente Dilma Rousseff - a cineasta arrebanhou uma sucessão de prêmios importantes nos principais festivais de cinema pelo mundo: Fest Visions du Réel, Suíça; Documenta Madrid, Espanha; IndieLisboa, Portugal: melhor filme e Prêmio de público; Festival Filmer Le Travail na França; fest int doc de Buenis Aires; Fest de Havana: prêmio do júri.

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Ali, para uma plateia formada por 800 funcionários da Caixa Econômica Federal e bancários, Guta exibiu: “Não Toquem em meu Companheiro”. O novo filme da cineasta, feito no segundo semestre de 2019, também passeia pela temática do mercado de trabalho. Desta vez, na perspectiva da solidariedade em torno de um grupo de 110 funcionários da CEF (de unidades de São Paulo, Belo Horizonte e Londrina-Paraná). Os funcionários foram atingidos pelas medidas “moralizantes” do serviço público, do recém-empossado presidente Fernando Collor de Mello. Eleito como “o caçador de marajás, Collor não hesitou em colocar na rua os da “casta”, segundo a sua visão do funcionalismo. No momento, o ministro Paulo Guedes faz um “revival” das ideias de Collor sobre os funcionários públicos, mudando a classificação de “marajás”, para “parasitas”. 

O documentário “Indústria Americana” traz para a cena a disputa entre chineses e norte-americanos, usando o case de uma fábrica comprada por um empresário chinês. A produção foi resultado da parceria entre a Netflix e a produtora Higher Ground, do ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama e sua esposa, Michelle. Em plena crise financeira de 2008, a General Motors, localizada no estado de Ohio, decide fechar uma fábrica de carros na cidade levando à demissão de 10.000 pessoas. Anos depois, os moradores do local são surpreendidos com a notícia da implantação, no espaço da antiga fábrica, da empresa chinesa fabricante de vidros para carros.

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Os diretores de “Indústria Americana” optaram por mostrar o momento econômico atual em que companhias chinesas, utilizando mão de obra barata e disciplinada vai abocanhando novos mercados e substituindo marcas antes consolidadas.

A princípio a chegada da nova empresa é saudada com alegria pelos veteranos ex-funcionários da General Motors, que veem no negócio novas oportunidades de trabalho. Mas logo os baixos salários, a exigência de longas jornadas e a proibição da organização de sindicatos para garantir a preservação dos direitos trabalhistas se colocam como entrave e fator de estresse na integração cultural entre americanos e os chineses trazidos para trabalhar em Ohio, na Fuyao.

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No “Não Toque em Meu Companheiro”, de Guta, além do passeio histórico pela luta dos empregados da Caixa Econômica Federal para manter – por meio de arrecadação de um percentual dos salários dos empregados – por um ano inteiro, os colegas demitidos, a discussão também passa pela perda de direitos, a desvalorização do funcionalismo e a ameaça de privatização dos bancos públicos. Está presente, ainda, tal como em “Indústria Americana”, a desidratação, pelo governo atual, da atuação dos sindicatos. Os demitidos da CEF por atos do então governo Fernando Collor de Mello foram para a rua uma semana depois de terem concluído estágio probatório. Nem mesmo as mulheres em licença-maternidade foram poupadas. As mobilizações foram mantidas até a reintegração de todos. O título do filme é o mesmo da campanha instituída para apoiar os demitidos, em 1991.

Para Maria Augusta, trata-se de uma incrível história de solidariedade e luta dos empregados da Caixa. “Também senti que seria um filme extremamente necessário nesse momento pelo qual estamos passando no Brasil e no Mundo ataque às relações de trabalho e aos direitos dos trabalhadores”.

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As gravações aconteceram em Belo Horizonte (onde 50 trabalhadores foram demitidos); em São Paulo, (30) e em Londrina (30). O reencontro promovido por Guta para as gravações provocou emoção e lembranças do período de penúria, mas também promoveu um colóquio entre os veteranos e os jovens funcionários da CEF. “Esses momentos são o coração do filme, pela beleza da história que eles carregam, pela emoção do reencontro dos demitidos e pela urgência de falar sobre essa luta em um momento onde os direitos do trabalhador – mas não só – voltam a ser atacados”, destacou Maria Augusta.

O diálogo de gerações mostrado no filme evidencia o quanto a juventude que ingressa na carreira vem despreparada politicamente. Temerosos com a ameaça de privatização da Caixa, eles hesitam em discutir o tema abertamente, não trocam ideias entre si, e erram no time para a organização contra o anúncio, que ameaça os seus empregos. Estão visivelmente fragilizados, mas não enfrentam a questão. 

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A produção tem apoio da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae). O atual presidente da instituição, Jair Pedro Ferreira, estava entre os demitidos daquela época e ressaltou a importância de trazer esta memória, como uma forma de mostrar a importância da solidariedade e de resistência, além de classificar como “ponto alto do documentário”, o reencontro e o relato dos companheiros.

“Não Toque em Meu Companheiro” passará a ser exibido nos vários estados do país em eventos promovidos pela Fenae, e por Streaming.

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