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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Em que momento aprendemos a ser cínicos?

"Por que não nos chocamos ao ver mulheres e crianças selecionando numa montanha de ossos destinados aos cães ou caminhões de lixo, o almoço ou o jantar daquele dia?", questiona a jornalista Denise Assis

(Foto: Sonia Cupido (Redes sociais))
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Sras. e Srs.,  

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Em que momento aprendemos a ser cínicos? Sim, foi isto mesmo que você leu. Nos tornamos um país de cínicos.

Qual foi o instante em que nos acostumamos a ouvir o som da sirene de uma ambulância a ziguezaguear pelo trânsito, sem nos voltarmos com ar de espanto, pensando que ali ia alguém em agonia, lutando por uma gota de ar, enquanto o trajeto definia entre a sua vida ou a sua morte?

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Qual foi o ponto que marcou a nossa indiferença, frente às imagens grotescas de um presidente que imitava um doente com falta de ar, sem nos indignarmos ou nos mobilizarmos para tirá-lo do cargo, pois uma pessoa assim não merece estar onde está?

Por que nos acostumamos a ver a curva ascendente dos gráficos que computavam os nossos mortos, sem pararmos incrédulos, para exclamar que aquilo estava indo longe demais?

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Como não estranhamos que um não médico, um militar, comandava ações de quem deveria salvar vidas, sem ter a noção do que elas valem porque foi formado para matar e não para salvar?

Por que aceitamos passivamente que outros renunciassem ao uso da máscara, se ela era o único instrumento capaz de proteger a nós, aos nossos familiares e amigos?

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Como não consideramos suspeito que um presidente da República saísse do seu cercado para se empenhar na distribuição de um remédio que não tinha a propriedade de salvar, pelo contrário, levava pacientes à morte?  

Por que não nos perguntamos se era possível quebrar o seu sigilo bancário e o dos seus filhos, para saber se houve transferência de laboratórios para as suas contas correntes?

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Em que pedaço da história recente, aprendemos que um ex-presidente da República pode ter a casa invadida, a vida devassada e 580 dias perdidos numa cela, e tememos levar para uma bancada do senado um general que deveria – mas pelo visto não o fez – coordenar os trabalhos que salvaria vidas?

Por que tememos questionar este mesmo general, que deveria cuidar de reduzir as ações da milícia no Rio de Janeiro, mas saiu do cargo sem nos dizer o que foi feito do comando desta facção?   

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Por que não perguntamos todos os dias, desde aquele 14 de março de 2020, por que uma cidade sob intervenção para frear a violência, perde uma vereadora como a Marielle e seu motorista, Anderson Gomes, num crime político, sem cobrar responsabilidades?

Onde estão os juristas e advogados, para explicar à sociedade que o lugar do ex-juiz Sergio Moro, agora considerado um juiz parcial, não é mais para estar em um santinho de campanha, mas num cartaz de “procura-se”? (Poderia ser no mesmo modelo daqueles que eles espalharam com as fotos do Stuart Angel, da Marilena Villas Boas, da Rosa Kucinski e do Carlos Lamarca...)

Por que não se diz com todas as letras, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi inocentado, não porque era preciso viabilizar a sua candidatura, como escreveu aquele colunista, tampouco sua inocência foi “maquiada” num livro chamado “Memorial da Verdade”, como disse o comentarista da TV?  

É difícil encontrar algum douto que informe ao Brasil que essas decisões foram tomadas tecnicamente, com base na total ausência de provas, por terem sido forjadas por um juiz parcial?

Onde nos perdemos e pisoteamos a Constituição brasileira, a ponto de termos de negociar cada situação criminosa no varejo do dia a dia, caso a caso, como quem aparta briga de rua?

Por que normalizamos que um bando de desvalidos vá para a rua se expor aos perigos do contágio de uma pandemia, enquanto ficamos em casa, guardados com Deus, contando vil metal?

O que nos molda, que assistimos impassíveis às famílias de quatro banqueiros assaltarem o país e escoar o dinheiro colhido aqui, em barras de ouro transportadas em aviões clandestinos, ou para paraísos fiscais?

Por que não nos chocamos ao ver mulheres e crianças selecionando numa montanha de ossos destinados aos cães ou caminhões de lixo, o almoço ou o jantar daquele dia?

Onde estamos que não colocamos para correr os que nos exploram, matam de vergonha, de horror e dor?  

Por que fingimos que não vimos o ministro da economia rir da nossa cara, enquanto engorda sua conta em offshores, pois duvida de sua própria competência em gerenciar o destino do país, verdadeira nau sem rumo?

Por fim, onde enregelaram o nosso sangue, o rubor de nossas faces, que não somos capazes de mudar o nosso destino e seguimos contando os mortos por uma pandemia que já levou 600 mil filhos, pais, mães, irmãos, tios, primos, amores? Até quando vamos virar para o lado e dormirmos, como se a vida seguisse igual? Não segue. Seremos estudados no futuro e os pesquisadores se perguntarão: do que era feita aquela gente?

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