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Ayrton Centeno

Jornalista

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Enfim, o julgamento das pipocas!

Nem eu, nem você, nem o país, nem o mundo agüentam esperar mais. Estorvado por ações descabidas pedindo-lhe que defenda a Constituição, o Supremo Tribunal Federal não consegue apreciar tema de muito maior e transcendental relevância: a ação dos donos de cinemas que querem, muito justamente, barrar o ingresso de pipocas alienígenas nas salas de exibição

Nem eu, nem você, nem o país, nem o mundo agüentam esperar mais. Estorvado por ações descabidas pedindo-lhe que defenda a Constituição, o Supremo Tribunal Federal não consegue apreciar tema de muito maior e transcendental relevância: a ação dos donos de cinemas que querem, muito justamente, barrar o ingresso de pipocas alienígenas nas salas de exibição (Foto: Ayrton Centeno)
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      Nem eu, nem você, nem o país, nem o mundo agüentam esperar mais. Estorvado por ações descabidas pedindo-lhe que defenda a Constituição, o Supremo Tribunal Federal não consegue apreciar tema de muito maior e transcendental relevância: a ação dos donos de cinemas que querem, muito justamente, barrar o ingresso de pipocas alienígenas nas salas de exibição. Além de crime contra a livre iniciativa, é assim que começa o solapamento das nossas instituições. Primeiro as pipocas, depois a mão boba e por fim a destruição da sacrossanta família branca, ocidental e cristã. Como a ansiedade é incontrolável, antecipamos o “Julgamento das Pipocas” destinado a atrair os olhares do planeta para o nosso intrépido STF.

       O relator é Gilmar Mendes, de resto relator compulsório e compulsivo de qualquer inquérito que investigue cidadãos cujo prenome comece com “Aé” e termine com “cio”. De tais processos, Mendes se desfez num peteleco. E as más línguas aproveitaram para acusá-lo de acobertar tais pessoas, geralmente oriundas de Minas, com cadeira no Senado e aeroporto particular. Ignoram que o ministro agiu assim pelo sentimento do dever. Era preciso entregar-se de corpo e alma às pipocas. Abraçá-las para dar um up grade na sua carreira. Que o introduzirá no panteão dos jurisconsultos notáveis, ombreando com Cícero, Beccaria, Von Lhering e Demóstenes Cachoeira Torres. Se Ruy Barbosa é “A Águia de Haia”, Mendes anseia ser chamado “O Jacu de Diamantino”.

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       Não é o único a sonhar com o olimpo jurídico. Na corte, todos estão fortemente impactados pela responsabilidade que pipoca sobre seus ombros. Teori Zavaschi, por exemplo, esqueceu-se de Eduardo Cunha durante seis meses. Abandonou até as sessões diárias de polimento craniano que usa para espargir seu brilho sob as luzes da corte. Abriu mão de tudo! E devotou-se integralmente à exegese das pipocas porque percebeu o que era prioritário para a pátria amada idolatrada naquele momento crucial.

       No plenário abarrotado, Mendes lê seu relatório sob clima de forte tensão. Frenesi de microfones, canetas, batucar de teclados. Repórteres de TV gravam boletins sussurrando com o relator ao fundo. Na fila do gargarejo, Merval Pereira rói as unhas, levanta-se e aplaude cada parágrafo. “Bravo!”, chega a gritar quando Mendes tira um pigarro. Toffoli faz beicinho e olha atravessado para ele. 

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        Então, a pipoca de Mendes estoura: Lula está por trás do Pipocagate! Choque na platéia. Repórteres saem correndo e tropeçam uns nos outros. Ouve-se a vinheta da edição extraordinária do Jornal Nacional. “Ele começou a vida vendendo pipocas. Desde criança carente pretendia minar as bases do capitalismo sadio que a todos explora para lhes oferecer uma vida melhor”, continua o relator. “Madrugou na subversão, corrompeu-se desde cedo!” avança. “E de pipoca em pipoca comprou aquele apartamento no Guarujá, enquanto o empresariado da sétima arte empobrecia, provocando brutal queda de vendas no mercado de iates”, descreve.

        Fachin pede um aparte e repara que Lula não vendia pipoca mas sim tapioca. E Mendes: “E não tem aí uma ação envolvendo a venda de tapioca em cinemas? Vamos meter a tapioca no meio da pipoca e firmar jurisprudência! Não vamos pipocar. O mundo está olhando para nós”.

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       Para irritação do relator, Luiz Fux argumenta que é impossível trocar pipoca por tapioca. “É uma rima mas não uma solução, caro colega”.

        -- Ora, Fux yourself!, replica Mendes. Arrasado, Fux vai ao banheiro retocar o laquê do topete.

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       -- Exijo saber por que chamam pipoca de pipoca, aparteia Rosa Weber. “E por que chamam tapioca de tapioca?”, insiste. “E por que chamam esta capa preta que estou usando de capa preta? Por que ninguém me responde? Eu preciso saber!”

        Fora de si, Mendes pede vistas do processo. E imediatamente senta-se em cima do volume, aquecendo-o abruptamente sob suas tórridas nádegas.

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        -- Mas como pede vistas se Vossa Excelência é o próprio relator? indaga Barroso.

       -- Não interessa. Já sentei, retruca.

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         Barbúrdia no plenário. Os ministros falam ao mesmo tempo e ninguém se entende. Nisso, ouve-se o crepitar de pipocas. Todos olham para Mendes, cercado por pipocas saltitantes.

        --Data vênia, Vossa Excelência está estralando as pipocas. Vamos ficar sem pipocas nem processo para julgar, adverte Fachin.

        -- Por que chamam processo de processo? quer saber Rosa Weber.

        A contragosto, Mendes se levanta e retoma a catilinária: “Lula é um pipoquista militante. Desde os sete anos foi tapioqueiro, tintureiro e torneiro. Tudo para não trabalhar. Vagabundo!”   

         Joaquim Barbosa, que passava por ali, ouviu “vagabundo” e pensou que fosse um ataque a sua pessoa. “E Vossa Excelência está na mídia destruindo a credibilidade do judiciário brasileiro”, corta o ex-ministro que estava na corte para resgatar sua capa já que, agora, aposentado, ganha a vida animando aniversários infantis em Miami fantasiado de Batman.

       O relator ensaia uma resposta mas apenas balbucia. “Vossa Excelência não está falando com seus capangas de Mato Grosso!”, acrescenta Barbosa já espumando. Mendes desmaia. Rosa Weber o abana, enquanto Carmen Lúcia aplica-lhe (argh) respiração boca-a-boca. Toffoli corre gritando “Ó céus, valha-nos Deus!” Logo Mendes se recupera. Toffoli o consola: “Não liga, Pápi. É pura inveja”. E bota a língua para Barbosa que, neste momento, é retirado por seguranças.

        Refeito, Mendes tira outro pigarro sob ovação de Merval. Ele invoca a jurisprudência alemã para defender sua tese contra as pipocas penetras. “Em 1683, na Baviera, impediu-se o consumo de chucrute levado de casa para a Oktoberfest. Já se percebia que era uma atividade sorrateira e nociva à economia”.

       -- Muito bem, alcandorado guru! festeja Toffoli, que prossegue: “E lembre-se, amado mestre que, na Roma antiga, Nero mandava jogar aos leões aqueles que levavam jujubas caseiras às matinês do Coliseu.”

       -- Isto mesmo! Queria ter um filho assim!, extasia-se o relator.

       -- Vossa Excelência já o tem, replica Toffoli, enrubescido e levando as mãos ao coração.

        A cena comove os demais. Celso de Mello deixa rolar uma furtiva lágrima, enquanto Rosa Weber e Carmen Lúcia, que trocavam receitas de Supremo de Frango, choram abraçadas convulsivamente.

        Lewandowski  intervém pedindo ordem na casa. Para acalmar a confusão, avisa que “o magnânimo presidente da Câmara nos assegurou a votação urgente do aumento do Judiciário que vai até 41,7%”. Alegria geral. “E mais 17 salários por ano e casa de graça!”

       -- E a Dilma nos travando esse tempo todo! protesta Toffoli. “E depois ainda queria saber porque estamos todos putos com ela!”

        -- E ela dizendo que eu só a procurava para pedir dinheiro!, reclama Lewandowski. “Essa gente não entende que um magistrado precisa de atrativos na carreira. Senão, vai acabar se relacionando com corruptos!” 

          Intensa ovação. É reiniciado o julgamento.

        Mendes pede prisão imediata de Lula para preservar a ordem pública e impedir a eclosão de uma revolta dos pipoqueiros. “Vamos sapecar-lhe 25 anos sem direito à progressão da pena”, anuncia. E pergunta se alguém possui alguma objeção.

      -- Não tenho provas mas vou condená-lo porque a literatura assim me permite, manifesta-se Rosa Weber, levantando os olhos da fotonovela onde Alessandro pode perder o amor de Bianca por intrigas da pérfida Giovanna que está apaixonada por Enzo mas odeia Bianca...”Sempre me distraem na melhor parte”, resmunga, retomando a leitura.

       Os demais, um a um, seguem o relator.

       Antes de irem merendar, Lewandowski solicita uma salva de palmas para o alto sentido patriótico do presidente da Câmara que, embora provisoriamente afastado, prometeu todos os esforços para a aprovação imediata das justas reivindicações do depauperado Judiciário. Ato contínuo, todos se levantam e marcando o ritmo com palmas, cantam:

       -- O Cunha é um bom companheiro/ O Cunha é um bom companheiro/ O Cunha é um bom companheirôôôô..../ Ninguém pode negar...

         -- Mas e o Temer? Não podemos esquecê-lo. Agora ele é que está com a chave do cofre..., interrompe um ministro.

          -- Não importa, Excelência, contesta outro. “Naquelas gravações não disseram que o Temer é o Cunha? É a mesma coisa”, argumenta. Os demais concordam imediatamente e a cantoria recomeça.

       ---  ...Ninguém pode negar/ O Cunha é um bom companheiro/ O Cunha é um bom companheiro/ O Cunha é um bom companheirôôôô..../ Ninguém pode negar...

 

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