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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Enquanto Bolsonaro se fortalece, Moro entra em parafuso

"Ele simplesmente está colhendo o que plantou e pode até terminar seus dias de fama atrás das grades, caso a Justiça realmente faça justiça", escreve o jornalista Ribamar Fonseca sobre o ex-juiz Sérgio Moro

(Foto: ABr)
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Com mais de R$ 1 bilhão de argumento para emendas parlamentares o presidente Bolsonaro conseguiu convencer a grande maioria de senadores e deputados a votar em Rodrigo Pacheco e Arthur Lyra, respectivamente, para a presidência do Senado e da Câmara Federal. Com esse “argumento” a traição era inevitável, até porque os integrantes do Congresso Nacional, com honrosas exceções, se mostram mais preocupados com seus próprios interesses do que com os interesses da Nação, razão porque os dois candidatos apoiados pelo capitão foram eleitos com folga. Diante disso, com o Parlamento sob seu controle, Bolsonaro pode agora executar todas as maldades já programadas, inclusive a privatização da Caixa e do Banco do Brasil, além de ter assegurada a tranquilidade quanto ao impeachment, sepultado sem choro nem velas por covardia de Rodrigo Maia. E o Brasil, que já se habituou a assistir com naturalidade suas loucuras, vai ter de engoli-lo pelo menos até 2022, sem o menor sinal de indignação.

A cantora Anitta retratou bem o ânimo de parte dos brasileiros quando disse que eles acompanham com interesse o BBB mas praticamente ignoraram a eleição para a Mesa da Câmara e Senado, de vital importância para o futuro do país. Na verdade, afora alguns movimentos de repúdio às ações de Bolsonaro, a grande maioria da população parece anestesiada, indiferente aos acontecimentos mesmo com o coronavírus matando milhares por falta de uma ação mais efetiva do governo federal que, ao contrário dos outros países, não se preocupou em fazer um planejamento de combate à pandemia. A nossa vizinha Argentina, por exemplo, se estruturou inclusive para a produção de vacinas, fabricando os seus próprios insumos. E o mais surpreendente: Bolsonaro ainda tem a aprovação de expressiva parcela da população, que adotou seu comportamento negacionista e até se nega a receber qualquer tipo de vacina, estimulada pelas fakenews que continuam envenenando as redes sociais e que poderão ganhar mais força com a nomeação da deputada Bia Kicis para o comando da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.

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Bia, bolsonarista de carteirinha, antes mesmo de assumir a presidência da CCJ teria dito que iria atuar para acabar com o ativismo do Supremo Tribunal Federal e com a CPI das Fakenews. Ela está sendo investigada sob a acusação de espalhar fakenews e de ter estimulado ações antidemocráticas contra as instituições, inclusive o próprio STF. Nos bastidores do Congresso, no entanto, já há um forte movimento contrário à sua indicação para a CCJ. Se consumada a sua nomeação o capitão terá tranquilidade suficiente para mandar para a Casa todo projeto que conceber, pois sua aprovação estará praticamente assegurada. Conclui-se que com Pacheco e Lyra no comando do Congresso e enquanto houver dinheiro para as emendas, “argumento” irrecusável para convencer os parlamentares, Bolsonaro passará no Parlamento todas as matérias do seu interesse, não necessariamente do interesse da Nação, o que significa que no final do seu mandato de quatro anos ele terá destruído todas as conquistas obtidas em décadas, com o risco de reeleger-se caso todos os seus mecanismos de culto à personalidade continuem intactos.

Bolsonaro, na verdade, que não tem preparo nem limites para ocupar o mais alto cargo da Nação, parece ter hipnotizado parte expressiva da população de tal modo que pode fazer o que bem entender, inclusive usar recursos públicos para comprar votos, promover aglomerações sem máscara, mandar a imprensa à PQP e gritar palavrões, que ninguém mais se escandaliza com seu comportamento. Seus apoiadores tentam, inclusive, justificar a compra de R$ 15 milhões de leite condensado, mesmo alegando falta de dinheiro para o auxílio emergencial, deixando milhares de famílias passando fome. A propósito de tudo isso, o saudoso Rui Barbosa tem uma frase que, apesar de antiga, retrata o atual cenário brasileiro: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescerem as injustiças, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a descrer das virtudes, rir-se da honra e ter vergonha de ser honesto”.

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Não se pode deixar de reconhecer, porém, três grandes serviços que o capitão prestou ao Brasil: a derrocada de Sergio Moro, a extinção da Lava-Jato e o fim do poder da Globo. O até então todo-poderoso Moro, que manchou a Justiça e fez um grande mal ao país, perdeu a auréola de paradigma do combate à corrupção ao ser descoberta a sua atuação parcial criminosa à frente da Lava-Jato com a revelação das suas tramóias com o procurador Deltan Dallagnol que culminaram com a prisão de Lula e o seu afastamento da sucessão presidencial. Desesperado com a divulgação das suas conversas, autorizada pelo ministro Ricardo Lewandowski, o ex-juiz pediu ao seu protetor Edson Fachin, também ministro do STF, para impedir que outras conversas sejam reveladas. Ele sabe que toda a sua farsa montada, em parceria com a Globo, para impedir Lula de voltar ao Palácio do Planalto foi descoberta e deverá ser anulada pelo Supremo, que vai votar a sua suspeição. Retirada a sua máscara de combatente da corrupção, apesar do esforço da Globo para mantê-lo no pedestal, ele ficou desacreditado e poderá, inclusive, vir a ser punido por ter destruído a engenharia nacional, desempregado milhares de trabalhadores e traído o país.

Ninguém mais tem dúvidas da ação criminosa de Moro na Lava-Jato, com a cumplicidade dos procuradores que integravam a força-tarefa sob a coordenação de Deltan Dallagnol, o que indica como inevitável a aprovação da sua suspeição, com a consequente anulação das sentenças contra o ex-presidente Lula. O ex-juiz, que no auge das suas maldades na Lava-Jato se tornou a maior autoridade judiciária do país, aplaudido e saudado com salamaleques por onde passava, tornou-se um pária, movendo-se como alma penada em busca de holofotes. Com as últimas revelações sobre o seu comportamento na condução dos processos contra Lula, que produziram um grave dano ao Poder Judiciário, até os seus padrinhos na Suprema Corte não têm mais argumentos para defendê-lo, mesmo com a Globo tentando reabilitá-lo com um editorial exaltando sua atuação na força-tarefa. Como diz o velho dito popular: o inferno é aqui mesmo. Ele simplesmente está colhendo o que plantou e pode até terminar seus dias de fama atrás das grades, caso a Justiça realmente faça justiça, levando junto os paludos e papudos que o ajudaram nas maldades.  

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