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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

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Enrustidos de Trump, viúvas de Eike, assustados de Doria e noivinhas de Bolsonaro

Os conservadores mudaram. Passaram a desafiar a inteligência. Historicamente, quando em circuitos intelectuais, costumavam se esconder com reconhecida vergonha dos próprios pensamentos. Norberto Bobbio mostra que após a Libertação do fascismo, a direita não precisa mais se envergonhar

Trump, Bolsonaro e Doria (Foto: Jean Menezes de Aguiar)
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Os conservadores mudaram. Passaram a desafiar a inteligência. Historicamente, quando em circuitos intelectuais, costumavam se esconder com reconhecida vergonha dos próprios pensamentos. Norberto Bobbio (Direita e esquerda, p. 39) mostra que após a Libertação do fascismo, a direita não precisa mais se envergonhar.

Mais recentemente, voltaram de forma assumida os extremistas da direita, ostentando orgulho por isso. Mas se só com ideias, ainda que patéticas, são legítimos.

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Parece que o ‘problema’ continua sendo os enrustidos, ainda que na democracia haja lugar garantido para eles. Por que, afinal, forçá-los a sair do armário? Cada um que enrusta o que lhe aprouver. Trump enruste a careca com aquele meio metro de cabelo que nasce logo acima da orelha e ele puxa lá para cima fazendo aquela pista de autorama loura no telhado. Já Eike não teve a cabeça rapada na prisão, como noticiaram barriguentos jornalões. É apenas careca. Simples assim. Como se estima que Trump jamais pegará chuva, entrará numa piscina, será visto nadando na praia ou cairá na Lava Jato, sua careca deve continuar protegida dos paparazzi.

Há 4 categorias interessantes nesta atualidade monótona, mas que promete se alvoroçar. Os enrustidos de Trump, as viúvas de Eike, os assustados de Doria e as noivinhas de Bolsonaro.

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Enrustidos de Trump seriam aqueles que sabem que Donald é uma criatura ideologicamente ‘estranha’. Não pelo seu bronzeado laranja. Mas pelas posições políticas e atitudes que o mundo inteiro já se preocupa seriamente. Nesse passo, alguém manter-se dizendo trumpista pode ser um acinte à inteligência.

O grande e preocupante problema de Trump, agora como homem público, cuidando da coisa pública, é seu ‘hábito ético’, a um só tempo ultracapitalista e ultraempresarialista. Na empresa o dono pode fazer o que quiser dela, até fali-la. Pode falar o que quiser, cismar com o que quiser. O preço a pagar é mercadológico. No caso de D. Trump sua fórmula mental parece ter lhe dado muito certo; nos negócios. Mas se podia, por exemplo, manter-se escondido no biombo do sigilo fiscal para não revelar sua riqueza como empresário – a declaração de renda-, engana-se criminogenamente se mantiver esta mesma conduta como presidente. O país não é sua empresa. A ética exigida para o homem público jamais, em tempo algum, pode ser a do comerciante.

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Edgar Morin, (O método, 6 – ética), aborda a ética e o humanismo planetários. Mostra a existência de éticas diversas nas comunidades nacionais, mas ensina que a atualidade exige ‘uma ética que respeite as éticas nacionais integrando-as’. Certamente aí está uma contramão preocupante em o que Trump representa em termos de pensamento humano.

Quem ‘no fundo’ acha que Trump está certo, com tantos ódios portáteis a nacionais diversos, etnias, gêneros e, quiçá, a ressuscitação do conceito mefistofélico de ‘raça’, parece que terá progressiva vergonha de seu louro Donald. E os velhos-novos Estados Unidos, de novo, poderão atrair sentidos tragicômicos, coisa que o ‘inocente’ povo americano não merecia.

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A segunda categoria, ‘viúvas de Eike’, não trata da figura personalista dele, o até ‘boa-praça’ do Eike Batista, mas de uma orfandade ao que ele representou, apenas isso. Estas ‘viúvas’ são os executivos, sonháticos lisérgicos que entronizam ideologicamente um capitalismo apodrecido de resultado, maniqueísta entre o ‘bem’ (ter) e o ‘mal’, ou melhor, o péssimo (ser pobre), praticamente uma ofensa cacoantibiana.

Neste jogo intelectualmente simplório e filosoficamente falido não entram valores que fundamentem qualquer coisa, a não ser a riqueza material. A prisão de Eike desmoraliza não o próprio Eike, mas esta psicanálise da riqueza inoculada, involuntária e artificialmente num brasileiro remediado e tão somente sonhador. Mas perceba-se, não inserida pelo próprio Eike, totalmente ‘desejada’ por dândis de um capitalismo onírico que simplesmente não existe.

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Estas viúvas de Eike nem almejam sua liberdade personalista, da cadeia em si, afinal não interessa o Eike, ele não se fez ‘guru’, interessa um valor sonhado numa psiquê patética que também ficou careca e desnuda com a prisão do ex-Luma.

Em terceiro lugar veem os assustados de Doria. Doria lixeiro. Doria cadeirante. Será que na parada gay haverá o Doria traveco?

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Que será que deu no prefeito de São Paulo com esse surto de populismo? Será que ele acredita que o paulistano é mesmo bobinho e governar é se fantasiar em memes? Já há eleitores do Trumpinho brasileiro que estão se dizendo assustados com suas cenas vassourinho-janistas pela cidade.

Por fim, na esteira do bom e velho conservadorismo político, as noivinhas de Bolsonaro, os crédulos eleitores dos slogans ideologicamente comerciais – e malandramente usados- como: família, ordem, progresso, moralidade e outras seduções que passaram a caracterizar o pensamento conservador. Como muitos destes não têm coragem de falar em ‘intervenção militar’, evocam Jair Bolsonaro para presidente. Legítimo é, o problema é saber se esta ‘modernidade’ no século 21 aceita bem ‘isso’.

O último livro de Amartya Sen (Identidade e violência – a ilusão do destino), o autor contextualiza o conceito de ‘identidade’, em contraposição a uma visão retrógrada e maniqueísta, porque polarizada, que seria uma aberração moral para conservadores bolsonaristas.

Ensina o prêmio Nobel: ‘A mesma pessoa pode ser sem qualquer contradição, um cidadão norte-americano, de origem caribenha, com antepassados africanos, cristão, liberal, mulher, vegetariano, corredor de longa distância, professor, romancista, feminista, heterossexual, defensor dos direitos de gays e lésbicas, amante do teatro, ativista ambientalista, um entusiasta do tênis, jazzista e alguém totalmente convencido de que existem seres inteligentes no espaço cósmico com os quais é de extrema urgência nos comunicarmos (de preferência em inglês)’.

Esta última lição é uma das grandes essências do século 21, a sociedade juntiva. Deveria ficar racionalmente depositada nas inteligências das pessoas. Sem favores, pieguices ou mitos. Apenas pelo lado racional. Antes de arroubos moralizantes e seus muros separatórios, proibições, cerceamentos, ordens, autoritarismos e patrulhamentos sobre o Outro. Esse Outro que psicanaliticamente ‘nos incomoda’ tanto, nos perturba tanto. Principalmente quando temos ódios a destilar.

Este tipo de lição não encontrada no pensamento conservador – jamais!- é a semente que faz o sonho progressista continuar. Viva a liberdade.

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