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Tarso Genro

Advogado, político filiado ao Partido dos Trabalhadores, foi governador do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, ministro da Justiça, ministro da Educação e ministro das Relações Institucionais do Brasil

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Entre cruzes gamadas e queijos variados

"As dificuldades para a oposição democrática antifascista construir um novo grupo dirigente, que fale de forma unitária ao povo 'desencantado com tudo', não são determinadas apenas pelas ambições de poder dos partidos e frações de partidos do campo democrático, de esquerda ou não", escreve o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro

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Por Tarso Genro 

(Publicado no site A Terra é Redonda)

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A simbologia nazista, o discurso sobre a Constituição e o Direito, o gestual político do Presidente Bolsonaro e dos seus apoiadores – sua metodologia de “governança” da Pandemia – se apreciados pelo Sistema de Justiça na Alemanha Federal, já teriam provocado sua condenação à prisão pela Justiça Penal daquele país. Sua oferta de símbolos nazis já influi na ordem jurídica concreta vivida no Brasil, face à fraca reação das instituições e dos partidos democráticos, que vem absorvendo a postura presidencial no Governo, como irresponsabilidades juvenis ou como se fossem meras aventuras de um líder sem talento político ou atos irrelevantes de um delinquente juvenil. Agora, o STF começa a reagir e isso abre uma fresta de esperança para a iminente vitória da liberdade contra a barbárie que nos espreita.

As dificuldades para a oposição democrática antifascista construir um novo grupo dirigente, que fale de forma unitária ao povo “desencantado com tudo”, não é determinada apenas pelas ambições de poder dos partidos e frações de partidos do campo democrático, de esquerda ou não. Esta vocação para busca do poder político – dos partidos e lideranças – é inerente à democracia e elemento básico do jogo democrático e da rotatividade no poder. A diferença é que, neste regime político, a ambição aparece à luz do dia, quando nos regimes fechados ela é uma guerra – nos subterrâneos da burocracia e dos grupos de pressão – tolerados pela ordem, mas só mantidos vivos se controlados a ferro e fogo pela polícia política.

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Entendo que um elemento forte desta retração da oposição de esquerda no Brasil – para o frentismo orgânico – decorre em grande parte de uma incompreensão histórica a respeito das novas possibilidades do nazi-fascismo na crise do sistema do capital. Possibilidades que existem e são ameaçadoras de toda a tradição iluminista do mundo ocidental, firmada pela Revolução Francesa, com ações articuladas hoje mundialmente a partir do esquema Trump de poder global. Outro elemento forte desta retração é a adoção de uma visão romântica sobre o empresariado, apostando que nele sobrevive um “setor democrático consciente”, que pode se mover além dos seus interesses imediatos de sobrevivência ou dos seus interesses históricos de acumulação, para unir-se à luta justa pela democracia.

Os indivíduos singulares, todavia, que no meio empresarial defendem a democracia contra qualquer ditadura são poucos, não lideram a sua classe social ou significativamente seus fragmentos de classe, nem representam os seus interesses reais. Vejam o comportamento empresarial na pandemia, quando eles pressionam pela violação do isolamento social ou quando vendem a sua “cultura” democrática, adorando o fascismo pornográfico do Presidente, em troca da garantia da realização das “reformas” anti-trabalhistas. Em algum momento os empresários, a direita democrática e a centro-direita, aparecerão como anjinhos da democracia no cenário nacional, quando Bolsonaro se mostrar inviável para continuar as reformas – e é muito bom que o façam! – e a esquerda ainda não terá se apresentado de forma unitária.

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Esclareço: é claro que existem empresários singulares que são democratas, assim como existem professores que não sabem ensinar, mas o conjunto das classes empresariais (e frações de classe) não se movem – na luta política pela democracia –  fundamentalmente por prezarem a vida democrática, mas sim quando os seus interesses concretos de acumulação são ameaçados e, em algum momento, são prejudicados por uma ditadura ou por um Governo autoritário.

Lembremos um pouco da História recente. Em 1944 um terço dos trabalhadores alemães foram escravizados nas linhas de produção da indústria – tanto alemães como estrangeiros – não só para a produção militar e logística da Guerra, mas também para a fabricação dos bens de consumo necessários à população alemã, no transcurso do conflito. Somam centenas as fortunas bilionárias e milionárias de famílias europeias, que herdaram parte dos recursos acumulados com o Holocausto e com a rapina da riquezas dos países ocupados, durante o confronto bélico.

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O conflito redesenhou a geopolítica mundial, reestruturou a economia ocidental, mas manteve os grupos empresariais e familiares que apoiaram Hitler, com a sua sucessão praticamente intocada, para reerguer a devastada economia européia. A resistência interna, armada, esteve em todas as classes, mas as que aderiram ou conciliaram em maior proporção ao inimigo ocupante foram as classes privilegiadas, os setores conservadores dos proprietários no campo e o militarismo de extrema-direita, que se opunha ao General De Gaulle, que no exterior sintetizava a ideia de soberania nacional antifascista.

As informações acima, sobre o comportamento dos ricos no nazismo, não foram publicadas por jornais comunistas ou de esquerda, mas pela Revista “Forbes”, baseadas em estudos feitos por economistas e historiadores depois de 1945. A colaboração no Brasil, da maior parte do empresariado com os grupos marginais da política tradicional – dentre eles a extrema-direita fascista bolsonariana – que se apresentaram, como de costume como “não políticos” repete a saga francesa na 2a. Guerra: o colaboracionismo teve alto grau de adesão nos setores da elite que se venderam a Hitler (aqui para bolsonafro) preservando o que era possível para depois tentar “salvar” o país: para si.

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O General Charles de Gaulle, criticando o tecido institucional e político francês, ao defender a convocação das eleições em 1962, perguntou-se – publicamente – com vistas a unificar um campo político para o reerguimento do “pós-guerra”: “como se pode governar um país que tem 246 espécies de queijos?”. De Gaulle firmara-se no exílio londrino – separando-se do Governo de Vichy – como o grande líder que se oporia ao General Petain, que instalara um Governo para controlar o seu próprio povo, facilitando a ocupação nazista da França. Ele dissera num discurso, na BBC, em 18 de junho de 1940: “a chama da resistência francesa não deve se apagar nem se apagará.”

Como não temos 246 espécies de queijos e a resistência, no nosso país, jamais se apagou trabalhemos para ter uma voz pública comum em defesa da democracia, contra o fascismo e para reduzir os efeitos brutais da Pandemia. A tarefa é preparar o país para um próximo ciclo democrático, pois só esta mudança poderá colocar Bolsonaro no lixo da História. Mas falemos e lutemos juntos, para não parecermos poucos, pois só isso nos garantirá uma conversa justa e produtiva com os que só agora se deslocam para o campo democrático contra o fascismo, para formar conosco uma nova maioria política. A resistência brasileira jamais se apagou e como até Bolsonaro praticamente colabora, dia pós dia para se enterrar, a democracia poderá vencer. E vencerá.

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