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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Entre os muros do cancelamento

Fenômeno relativamente recente, a disseminação de mensagens de ódio e a prática do cancelamento ganham ilustração sugestiva em "Arthur Rambo – Ódio nas Redes"

(Foto: Divulgação)
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Karim D. é um jovem escritor em ascensão na França. Seu primeiro livro, baseado na história da imigração de sua mãe argelina, está sendo festejado na mídia. O mundo literário está a seus pés. Eis que de repente revela-se que Karim, sob o pseudônimo de Arthur Rambo, era também o autor de uma série de tuítes de ódio contra judeus, gays, negros, mulheres, pessoas gordas, bem como de apologia ao terrorismo. A notícia se espalha como um rastilho de pólvora. Em poucas horas, Karim passa de celebridade a um pária social. 

Fenômeno relativamente recente, que acredito ter começado com a campanha #metoo, a prática do cancelamento ganha uma ilustração sugestiva em Arthur Rambo – Ódio nas Redes (Arthur Rambo). O diretor Laurent Cantet é um fino observador de processos sociais como desemprego (A Agenda), relações trabalhistas (Recursos Humanos), choque de classes (Em Direção ao Sul), imigração (Entre os Muros da Escola) e exílio (Retorno a Ítaca). Nada mais natural que ele se volte para o tema das reputações na era das redes sociais.

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O roteiro se inspira na história real do rádio-jornalista (e hoje também escritor, cineasta e blogueiro) Mehdi Meklat, que viveu episódio semelhante em 2017. Na tela, vemos Karim ser confrontado com a decepção dos editores, dos companheiros com quem fazia um canal para dar voz a quem não tinha, da mãe, da namorada e até mesmo de amigos que antes se divertiam com seus tuítes infames. Essa é uma das várias questões colocadas pelo filme: como a cultura do cancelamento pode eventualmente cortejar a hipocrisia de muita gente. 

Outra é o efeito que as mensagens de ódio provocam em seguidores jovens, já motivados para reagir radicalmente a situações de vulnerabilidade. Disso o irmão mais novo de Karim dará um exemplo dramático no último ato do filme. Não por acaso, aparece numa cena o cartaz de O Ódio, de Mathieu Kassovitz, longa pioneiro na abordagem de imigrantes na periferia de Paris.

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Karim é um personagem um tanto opaco. Sem querer julgá-lo ou fornecer um veredito, Cantet o retratou como alguém que desconversa sobre o assunto e parece não assumir o que pensa nem para si mesmo. Afinal, o Karim real angariou 200.000 seguidores com mensagens de provocação artística ou de canalização clandestina de sentimentos verdadeiros? Seria mero erro de juventude, diversão virtual ou extremismo real sob disfarce? 

O ator Rabah Nait Oufella transmite à perfeição essa opacidade às vezes irritante. E a montadora Mathilde Muyard dá um show na sequência em que Karim vive o terror do desmascaramento transformado em paranoia numa viagem de metrô. 

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>> Arthur Rambo – Ódio nas Redes está nas plataformas Apple TV, Google Play, Youtube Filmes, Vivo Play, Claro TV+, e Sky Play.

O trailer:

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