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Gilberto Maringoni

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro.

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Ernesto Araújo é folclórico e tosco. E também um rascunho de ditador

O jornalista Gilberto Marigoni escreve sobre a exoneração do diplomata Paulo Roberto de Almeida pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo; Almeida, um embaixador alinhado às ideias neoliberais, de direita, foi afastado do cargo de diretor do Ipri depois de publicar no Facebook artigos de FHC e Rubens Ricupero; "Que em sua cruzada psicótica o terraplanista ataque Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães é coisa que está na conta. Investir contra a direita tradicional já revela uma psicopatia política com claras tendências ditatoriais"

Ernesto Araújo é folclórico e tosco. E também um rascunho de ditador (Foto: Reuters)
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Por Gilberto Maringoni, do Jornalistas pela Democracia - A notícia que o 247 veiculou nesta segunda (4) -Ernesto Araújo inicia perseguição ideológica no Itamaraty-  é surpreendente sobre o tipo de guerra ideológica empreendida pelo governo Bolsonaro. Ou pelo menos por seus setores mais hidrófobos. Vai um trecho:

"A política de caça às bruxas no governo de Jair Bolsonaro atingiu o embaixador Paulo Roberto de Almeida nesta segunda-feira (4). Ele foi demitido do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), órgão vinculado ao Ministério das Relações Exteriores após republicar, em seu blog pessoal, textos recentes sobre a crise na Venezuela [da autoria de Fernando Henrique Cardoso e Rubens Ricupero]."

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QUEM É PAULO ROBERTO ALMEIDA?

Trata-se de um diplomata e pesquisador de direita, neoliberal e professor do Instituto Rio Branco, tendo já servido em Washington. Está na carreira desde 1977 e tem vários livros e artigos escritos. É firme opositor da centralidade do Mercosul na política externa e alinha-se, em geral, com as posições do PSDB. Tem como alvos preferenciais a política externa "ativa e altiva" e a esquerda em geral.

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Quando Araujo comete essa violência com um representante do neoliberalismo, o sinal é claro. A intenção do chanceler é criar no Itamaraty uma milícia intelectual ultrarreacionária, sem nenhuma flexibilidade para com um pensamento minimamente divergente.

MUITAS VEZES, A CRIAÇÃO DO NÚCLEO DURO de determinada orientação político-intelectual se constitui em tática eficiente numa disputa de hegemonia. Vai aqui um exemplo.

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Perry Anderson (em "Balanço do neoliberalismo", artigo de 1992) investigou a genealogia histórica do pensamento econômica que se tornaria hegemônico no final dos anos 1980. Escreve ele:

"Em 1947, enquanto as bases do Estado de bem-estar na Europa do pós-guerra efetivamente se construíam, não somente na Inglaterra, mas também em outros países, neste momento Friedrich Hayek convocou aqueles que compartilhavam sua orientação ideológica para uma reunião na pequena estação de Mont Pèlerin, na Suíça. Entre os célebres participantes estavam não somente adversários firmes do Estado de bem-estar europeu, mas também inimigos férreos do New Deal norte-americano. Na seleta assistência encontravam-se Milton Friedman, Karl Popper, Lionel Robbins, Ludwig Von Mises, Walter Eupken, Walter Lipman, Michael Polanyi, Salvador de Madariaga, entre outros. Aí se fundou a Sociedade de Mont Pèlerin, uma espécie de franco-maçonaria neoliberal, altamente dedicada e organizada, com reuniões internacionais a cada dois anos. Seu propósito era combater o keynesianismo e o solidarismo reinantes e preparar as bases de um outro tipo de capitalismo, duro e livre de regras para o futuro".

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Anderson explica que tais ideias eram francamente minoritárias num mundo em que se afirmavam o socialismo real e a socialdemocracia europeia. Por vinte anos, Hayek e seus aliados teorizaram e formularam sem concessões, em uma espécie de estufa intelectual protegida do mundo externo. A dinâmica durou até a crise do dólar, no início dos anos 1970, quebrar todos os parâmetros do pós-Guerra. Foi quando o neoliberalismo emergiu como encadeamento intelectual lógico e inflexível. E se impôs.

Ou seja, Hayek criou um núcleo duro para defender ideias neoliberais antes que essas alcançassem poder político.

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ARAUJO, EM SUA BIZARRICE, nunca disputou nada, nem ideias e nem diretrizes. Não tem nem de longe a envergadura intelectual de Hayek. Quer impor a partir da caneta, cuja tinta é fornecida por Bolsonaro. A dureza - e a tosquice - de seu - vá lá - pensamento não granjeia muitos adeptos. Ele, ao que parece, não pretende realizar nenhuma disputa política. Com a caneta na mão e montado num governo de tons miliciano-militares pretende impor seu pensamento na base da porrada.

Sua meta é criar bandos de freikorps - desordeiros nazistas dos anos 1920 - intelectuais para redesenhar não apenas o Itamaraty, mas todo o arcabouço da política externa brasileira, montada desde, pelo menos, 1930. Entre suas características arraigadas estão o multilateralismo, a não-ingerência em assuntos internos de outros países e uma política externa voltada para o desenvolvimento, o que implica certa autonomia em relação aos Estados Unidos.

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Que em sua cruzada psicótica o terraplanista ataque Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães é coisa que está na conta. Investir contra a direita tradicional já revela uma psicopatia política com claras tendências ditatoriais.

Araújo é folclórico. E perigoso.

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