Errou quem apostou que a eleição seria entre Lula e Bolsonaro
"Eduardo Paes, no Rio, e Pablo Marçal, em São Paulo, deslancham sem padrinhos", escreve o colunista Alex Solnik
Boulos apostou que a melhor forma de ganhar em São Paulo seria nacionalizar a eleição. Não tinha como dar errado. Lula ganhou de Bolsonaro em São Paulo, em 2022. Logo, com o apoio de Lula, ainda mais presidente, não teria como perder do candidato bolsonarista.
E já no primeiro programa da TV fez questão de mostrar que Lula é seu padrinho e que estava preparadíssimo para demolir o fascista Ricardo Nunes, embora seja difícil rotular desse modo um quadro do MDB que foi vice de Bruno Covas, neto de Mário Covas, um dos inimigos da ditadura militar. E cujo partido tem três ministérios no governo Lula.
Mas, bem, decidiu-se que a campanha seria contra o fascismo e assim foi.
Nunes também acreditou que a eleição seria nacional, e que precisava do apoio de Bolsonaro, deixou que ele indicasse o vice, assim ele entraria com tudo na campanha. E assim a reeleição estaria garantida. Ele já tinha os votos dos tucanos, via Bruno Covas e dos bolsonaristas, via Bolsonaro.
Mas eis que, de repente, surge, do nada, um “outsider” mais bolsonarista que Nunes e até mais bolsonarista que Bolsonaro. E que não tem expressão nacional, nem partido grande, nem padrinho. E vira a campanha do avesso.
As duas campanhas que já davam por garantido o segundo turno, levaram um susto. Boulos estava preparado para enfrentar um bolsonarista, polarizar com ele. Mas como polarizar com dois bolsonaristas? Decidiu atacar os dois, no estilo “farinha do mesmo saco”.
A princípio, Nunes pediu socorro a Bolsonaro, que ficou no muro, encantado com o sucesso de Marçal, “se posso ter dois candidatos, por que vou apostar em um só?” E em seguida procurou o governador.
Foi como juntar a fome com a vontade de comer. Tudo o que Tarcísio de Freitas quer é que Marçal se estrepe! É seu inimigo preferencial na sucessão de Bolsonaro. E centrou fogo no forasteiro.
A pesquisa Quaest de ontem mostrou que, depois do início da propaganda na TV, Nunes, que havia caído com a chegada de Marçal, já se recuperou; Marçal subiu verticalmente sem tirar votos de Nunes; Boulos não subiu, nem caiu e Datena caiu verticalmente. (É o cavalo paraguaio da eleição, esse título ninguém tasca.)
Agora Nunes não implora mais para Bolsonaro entrar na campanha e sim para continuar de fora, pelo amor de Deus! Boulos, ao contrário, quer mais Lula. Repete a eleição presidencial de 2018. Haddad ia a Lula na cadeia com frequência, passando a impressão de que sem ouvir as instruções de seu padrinho não saberia dar os próximos passos.
Por mais que Lula repita aos quatro ventos, em comícios ou na TV, que apoia Boulos daqui em diante, ele não tem o poder de impedir que os eleitores desistam de Datena, nem que eles migrem para Marçal, como mostrou a pesquisa Quaest de ontem. Se isso ocorrer, Marçal irá ao segundo turno contra Nunes.
Não é Lula, portanto, a bala de prata de Boulos. O seu apoio até agora não fez Boulos deslanchar.
Nem Bolsonaro é o padrinho mágico de Nunes.
Lá na Cidade Maravilhosa, Lula fez de tudo para ser o padrinho de Eduardo Paes, bastava entregar a vice ao PT, Anielle Franco chegou a ser cogitada, que “baita” nome, a irmã de Marielle!, mas Paes ficou na dele, não quis padrinho, e está liderando as pesquisas com folga, tudo apontando para a reeleição em primeiro turno.
Bolsonaro escolheu Alexandre Ramagem, que está comendo poeira.
Mas como é possível? O Rio não é o quartel-general do Bolsonaro? Não é onde ele manda e desmanda? Talvez ainda mande alguma coisa, em alguns setores do Judiciário, talvez, mas não manda nos eleitores: 2024 não é 2018.
Errou quem apostou que a eleição deste ano seria nacional e mais um capítulo da polarização entre Lula e Bolsonaro. Errou quem apostou que um deles sairia vencedor e assim teria o caminho aberto para o Planalto daqui a dois anos.
Os dois estão perdendo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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