CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Hélio Rocha avatar

Hélio Rocha

Repórter de meio ambiente e direitos sociais, colaborador do 247

119 artigos

blog

Esclarecendo a tão falada questão tibetana

Se ainda restam querelas políticas na região, embora muito menos que há 10 anos, avanços foram conquistados nas últimas décadas que legaram ao povo e à etnia tibetana a soberania de escolher seu credo e ampliar o grau de escolha de seu destino político, algo impensável há um século

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Muito se fala sobre o Tibet e o budismo tibetano, no Ocidente, sem de fato conhecer a realidade local e os progressos alcançados pela população da Região Autônoma do Tibet nos últimos 70 anos, desde a fundação da República Popular da China. Se ainda restam querelas políticas na região, embora muito menos que há 10 anos, avanços foram conquistados nas últimas décadas que legaram ao povo e à etnia tibetana a soberania de escolher seu credo e ampliar o grau de escolha de seu destino político, algo impensável há um século. O Brasil 247 se prepara para viajar, no fim de julho, a Gansu, província chinesa que integra o Tibet geográfico, já sob influência cultural da Região Autônoma, e por isso dedica algumas linhas ao budismo e ao esclarecimento sobre a questão tibetana. Mais uma vez, este artigo é escrito com o suporte da China International Press, desta vez com a obra “Pluralism and Harmony in the Religions of China”, do cientista da religião Ye Xiaowen, parceiro acadêmico do notável pensador alemão Hans Kühn.

Primeiro, é importante frisar: tal como o Xinjiang, no noroeste chinês, e a Mongólia Interior, ao norte, o Tibet é uma região autônoma, o que quer dizer que, devido às suas particularidades étnicas, a região goza de princípios administrativos próprios e mais autônomos em relação ao poder central. No caso do Tibet, isso tem foco principalmente no papel conciliador e de convergência de interesses em prol da República Popular exercido pelos lamas, as autoridades religiosas locais. O mais alto líder tibetano, hoje, é o Panchen Lama, que na verdade não é o nome de uma pessoa, mas o ocupante de um cargo que leva esse nome. Acima do Panchen Lama estaria o Dalai Lama, mas o atual ocupante do cargo reivindica a administração local para si, resultando em problemas diplomáticos que fazem de principal vítima a população da região. Atualmente, o 14o Dalai Lama está banido do território chinês e recusa-se a abrir diálogo, o que faz com que a comunidade budista, majoritariamente favorável ao Governo central, aguarde a solução do caso quando vierem a nova geração de líderes. 

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

A atual conjuntura ainda é impactada pela Revolta Tibetana de 1959, quando os monges, apoiados por potências outrora dominantes na região, pleitearam o rompimento com o sistema comunista de Mao Tsé Tung e o reestabelecimento de uma teocracia comandada pelo Dalai Lama em Lhasa. O modelo desigual e feudal que tinha sido sustentado pelos colonizadores e pela antiga República da China, do Kuomintang, tinha sido rompido pela Revolução Popular, inclusive com a participação de muitos budistas tibetanos. Desta forma, a insurreição fomentada pelo ocidente foi rejeitada pelo então recente Governo popular e, desde então, o atual Dalai Lama não vive mais no Palácio de Potala, o Vaticano dos budistas chineses.  

Hoje, o edifício centenário é um museu dedicado à história dos lamas, cultuada por muitos chineses e tratada como patrimônio material e imaterial pela China. Entretanto, devido à instabilidade política gerada pelas tentativas de ingerência e desestabilização, que vêm de fora na figura de empresas e Governos ocidentais, bem como de algumas lideranças budistas, o território tem hoje acesso limitado. Apesar do patrimônio inegável, perde em absoluto recursos preciosos de turismo, que seriam necessários para o seu maior desenvolvimento.  

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Até hoje o principal fato ocorreu em 1995, quando, contra os princípios tibetanos de escolha da sucessão dos Pachen Lamas pelo escritínio da urna dourada, em que o nome de muitos meninos é colocado na urna e um é retirado por um lama ancião, sob inspiração dos espíritos, para revelar aquele destinado a ocupar o cargo, os rebeldes tentaram intervir no processo. O processo remonta ao século XVIII e, hoje, requer também aprovação do Governo central ao nome escolhido, o que na maioria das vezes resulta em mera formalidade, mas faz parte do zelo chinês para evitar o despotismo religioso. Tal modelo foi aprovado, inclusive, pelo 10o Panchen Lama, que morrera para dar lugar ao novo ocupante. Ao findar do processo, um garoto foi escolhido, Gyaincain Norbu, e aprovado pelo Estado. O 14o Dalai Lama, no entanto, contestou a escolha e apontou indiscriminadamente um outro menino, fazendo de sua força política e religiosa um vetor de desestabilização da região, explorando a imagem da criança por ele escolhida. A China interveio, protegeu a criança e levou-a a outro lugar, com outra identidade, para preservar sua integridade física e sobretudo psicológica, visto ser traumática a sua utilização para fins políticos. A questão foi solucionada, mas volta e meia outras manobras ainda são tentadas para desestabilizar o Tibet, com cada vez menos eficácia. 

O fato é que: em nada interessa à região ganhar independência. Trata-se de uma área de imensa altitude e, por isso, de solo pouco fértil, que vive da pecuária de criação de iaque, o bovino local, e do turismo religioso vinculado ao budismo. Uma vez desvinculado da República Popular, viria a ser um dos países mais pobres da Ásia, visto que depende hoje dos investimentos que vêm da economia gerada pelo Leste chinês. Para a população, a restauração do regime teocrático representaria um retrocesso de décadas, perda de direitos civis, trabalhistas, de culto e identitários. Mesmo para os lamas, poderia representar uma separação dolorosa dos milhões de chineses budistas, de etnia han, que vivem nas áreas estáveis do Leste chinês. 

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Dito isto, fica latente o quanto o Ocidente desconhece sobre a questão, e o quanto não sabe o que fala quando pede Estado laico e direitos civis dentro de suas fronteiras, mas mostra simpatia por uma autocracia religiosa que ainda insiste, de forma cada vez mais débil, em retomar um Estado religioso no planalto tibetano.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247,apoie por Pix,inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO