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Hélio Rocha

Repórter de meio ambiente e direitos sociais, colaborador do 247

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Esquerda entre a cruz e a caldeirinha

Sabe-se que é para distrair. É óbvio. Ninguém é tão inocente para proferir bestialidades totalmente fora do consenso social sem, de alguma maneira, tê-lo calculado. E se o fez, por que? Só para se autossabotar. Não. É a tal cortina de fumaça, de que tanto falamos

(Foto: Foto: Pablo Nacer (Brasil 247))
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A receita já está se tornando conhecida. O Governo é pego em algum esquema corrupto com todos os indícios que apontam para o consentimento ou participação do Presidente da República, seja via verbas institucionais malversadas, seja via participação de seu antigo gabinete de deputado federal e dos de seus filhos na organização e alimentação da milícia carioca. A esquerda se vê indignada, a direita cai em resignado e consentidor silêncio, mas o barulho cresce na sociedade.

No dia seguinte, uma imbecilidade qualquer, porém com forte viés segregador, preconceituoso, o que seja, ganha as redes sociais após partir de uma figura importante do Governo. O bobo da corte de primeira hora era a ministra Damares Alves, que numa hora dessas sempre aparecia dizendo “que gays são perigosos porque transmitem a Aids”, ou “que as mulheres não devem pilotar avião porque não têm a frieza dos homens”, qualquer coisa do tipo. 

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O que joga a esquerda entre a cruz e a caldeirinha.

Sabe-se que é para distrair. É óbvio. Ninguém é tão inocente para proferir bestialidades totalmente fora do consenso social sem, de alguma maneira, tê-lo calculado. E se o fez, por que? Só para se autossabotar. 

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Não. É a tal cortina de fumaça, de que tanto falamos. 

Entretanto, o dilema da esquerda é justamente esse. Se sabe que é cortina, por que não deixa passar batido e vai pra cima da questão fundamental, que, em tese, é a corrupção ou a pauta econômica e social do Governo? Justamente porque, se deixa passar uma ofensa qualquer, como aquelas proferidas pela Damares, logo o Governo se sentirá encorajado a partir para outras. E, assim o fazendo, aos trancos e barrancos vai convencendo o povo de que “isso pode, aquilo também”. 

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Esses arroubos esquizofrênicos do Governo, geralmente com ataques despropositados a conquistas sociais e identitárias com as quais a sociedade já se acostumou e já tem por consensual (meninas poderem vestir azul, as ongs não estarem queimando a Amazônia, o óleo não ter sido mandado pela Venezuela, etc), uma vez ignorados, vão formando a bola de neve que termina num vídeo da Secretaria de Cultura abertamente inspirado em Goebbels, o “marketeiro” do nazismo.

Alguém acha que o secretário não conhecia aquela estética? Portanto, ele fez de propósito. Se fez, alguém acha que ele fez por convicção? Ok, talvez seja nazista, talvez não. Em sendo, seria burro ao ponto de gravar uma mensagem oficial do Governo com gritante inspiração no nazismo, para ser desmascarado de imediato? Claro que não. Se há nazistas por lá, eles são inteligentes o bastante para ressignificar sua ideologia, já que repeti-la identicamente à original apenas traria a indignação das instituições (nem digo revolta popular, porque o povo, coitado, está alheio a tudo isso, fazendo entregas de bicicleta, uber, vendendo doce e afins).

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Assim sendo, claro que o vídeo do secretário Roberto Alvim foi tramado, justamente para se tornar o debate número um do Brasil, das instituições de centro-direita da sociedade civil (Globo, sociedade israelita, empresas etc) até nós, da esquerda, que não podemos deixar passar uma mensagem nazista. Há de se reagir de forma proporcional à gravidade do que isso representa.

Porém, e o escândalo dos repasses de verba para empresas de comunicação? Parece que foi há um mês, depois do vídeo de Alvim. E foi mesmo. Passou. Nós deixamos passar, e não é nossa culpa.

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Entre a cruz e a caldeirinha, a esquerda tem que encontrar o ponto correto entre a defesa das pautas econômicas e sociais na luta contra o Governo atroz de Jair Bolsonaro, e a indignação e denúncia das violências identitárias praticadas pelo viés ideológico mais discriminador que já passou pela Presidência.

Esta coluna ainda não consegue sugerir caminhos. Como diria a ex-presidenta Dilma, “são tempos difíceis e bicudos...”.

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