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Carlos Lindenberg

Carlos Lindenberg é diretor do 247 em Minas

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Esses mineiros... vistos por outros mineiros

"Confusão mesmo parece ser com os mineiros da atual safra de parlamentares, com as exceções de praxe. Essa do senador Aécio Neves, por exemplo, é de cabo de esquadra. Aécio foi gravado pelo dono da JBS, Joesley Batista, pedindo 2 milhões de reais num diálogo inimaginável para quem obteve 50 milhões de votos para a presidência da República e se transformou depois no símbolo da crise institucional que põe o Senado contra o Supremo", afirma o colunista do 247, Carlos Lindenberg; "Por mais que o PMDB de Michel Temer queira salvar Aécio, que, aliás, já retribuiu oferecendo Andradinha como relator dessa nova denúncia, ao questionar uma decisão do Supremo Tribunal Federal, é de se perguntar por que o Senado não agiu assim quando o mesmo Aécio foi suspenso do mandato pelo ministro Edson Fachin?"

aecio (Foto: Carlos Lindenberg)
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O deputado mineiro Rodrigo Pacheco, do PMDB, até que vinha bem na condução dos problemas que envolvem o presidente Temer com a comissão que ele preside, a de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Na primeira denúncia de Rodrigo Janot contra Temer, por exemplo, ele prometeu que escolheria um deputado independente para relator e cumpriu o prometido, nomeando o peemedebista do Rio de Janeiro, Sérgio Zveiter. Mas Zveiter, ao que parece, era independente demais para Rodrigo Pacheco, tanto que o deputado carioca, achando que a CCJ era séria, fez um relatório acolhendo a denúncia do ex-procurador e obrigou com isso o governo a trocar um terço dos deputados da Comissão e colocar em seus lugares gente de sua confiança, para dizer pouco.

Foi o bastante para que a comissão, presidida por Pacheco, depusesse Zveiter e elegesse o tucano mineiro Paulo Abi Ackel como novo relator, que, como o governo queria, fez um relatório de encomenda inocentando Temer de corrupção passiva de que era acusado pelo Ministério Público. Ainda assim, o governo torrou seis bilhões em emendas para os parlamentares que absolveram Temer e mais 11 bi para amansar a bancada ruralista com perdão de multas, juros e coisas afins da dívida que o agronegócio tem para com a União. Pois os mineiros voltam a aprontar no Congresso – e aqui não me refiro ao senador Aécio Neves, falo de outros mineiros. Falo de Rodrigo Pacheco que, quinta-feira, nomeou ninguém menos que o tucano Bonifácio Andrada, o Andradinha do clã dos Andradas de Barbacena, como relator da nova denúncia contra Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça. E contrariou, imaginem, o comando do tucanato que não queria ninguém do PSDB na condição em que Pacheco colocou o descendente do Patriarca José Bonifácio.

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Aos 87 anos e com dez mandatos de deputado federal, 51 anos de vida pública, o mais antigo parlamentar do Congresso é sem dúvida o nome que caiu do céu, não tivesse sido escolhido por Rodrigo Pacheco, para salvar o presidente Michel Temer e alguns de seus ministros, todos acusados pelo Ministério Público, de angariar propinas para o PMDB da Câmara, o chamado "quadrilhão" de que falava Janot. Ora, Andradinha é incapaz de contrariar o senador Aécio Neves até na escolha de uma gravata, quanto mais na hora de redigir o relatório para salvar Temer, que, não por acaso, está mobilizando o seu PMDB para salvar Aécio, que se tornou assim o pivô da crise que jogou o senado contra o Supremo Tribunal Federal no caso do afastamento dele do cargo e da proibição de sair de casa à noite, além de não poder viajar ao exterior, com o passaporte retido. Não fossem outros nomes, como o senador Antônio Anastasia, pra citar um tucano, por exemplo, ou a deputada Jô Morais, que fazem o contra-ponto tão indispensável neste momento, e Rodrigo Pacheco, Bonifácio Andrada e Aécio Neves estariam hoje na galeria dos parlamentares que não ilustram as melhores tradições da política de Minas – sem falar em Zezé Perrela com a inacabada história do helicóptero com os 500 quilos de cocaína, do que já não se ouve mais falar.

Aliás, confusão mesmo parece ser com os mineiros da atual safra de parlamentares, com as exceções de praxe. Essa do senador Aécio Neves, por exemplo, é de cabo de esquadra. Aécio foi gravado pelo dono da JBS, Joesley Batista, pedindo dois milhões de reais num diálogo inimaginável para quem obteve 50 milhões de votos para a presidência da República e se transformou depois no símbolo da crise institucional que põe o Senado contra o Supremo. Por mais que o PMDB de Michel Temer queira salvar Aécio, que, aliás, já retribuiu oferecendo Andradinha como relator dessa nova denúncia, ao questionar uma decisão do Supremo Tribunal Federal, é de se perguntar por que o Senado não agiu assim quando o mesmo Aécio foi suspenso do mandato pelo ministro Edson Fachin? Ou quando, com o voto de Aécio, o senado cassou o então líder do PT, Delcídio do Amaral – por que era então do PT- e por que a câmara dos deputados também não reagiu a uma decisão do Supremo quando o ministro Teori Zavaski afastou o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do seu mandato de deputado e da própria presidente da casa?

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Vê-se assim que essa crise, como a que gerou o impeachment da presidente Dilma também parece falsa, até porque se não houvessem outros motivos, ela envolve os mesmos personagens, quando não os mesmos motivos. O risco é de que o que não é sério fique sério: como a possibilidade de o senado desrespeitar uma decisão do Supremo ou de o Supremo não levar a serio uma decisão do senado. Nesse sentido, o melhor que se faz é conversar. Conversar sempre em busca do bom senso, mas sem buscar atalhos que maculem qualquer um dos Poderes da República. Ou que desconheça que a lei é feita para todos – como aliás, reconheceu o próprio o presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, de Nova Iorque.

Mas por mais que se queira levar essas coisas a sério, até mesmo a própria crise que envolve o País, fica difícil quando o presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara não acolhe o pedido do partido a que pertence o relator e o nomeia para dar o parecer no processo que envolve o presidente da República. Um deputado da própria base do Presidente e a favor do qual já votou quando a primeira denúncia do ex-procurador Rodrigo Janot foi apreciada pelo plenário. Definitivamente, esses mineiros desconhecem - mesmo o descendente do Patriarca - o que gerações anteriores a eles fizeram num passado que já vai distante, quando da tribuna falavam Pedro Aleixo e Milton Campos, ou quando no Poder atuavam Juscelino Kubistchek e Itamar Franco, para ficar apenas nestes.

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