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Ricardo Kotscho

Ricardo Kotscho é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro vezes o Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros.

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Estupidez: derrotada por goleada, esquerda lincha deputada Tabata Amaral

Para Ricardo Kotscho, do Jornalistas pela Democracia, o linchamento virtual da deputada Tabata Amaral (PDT-SP) em função de seu voto a favor da reforma da Previdência não ajuda em nada na recuperação da imagem da esquerda junto à opinião pública e "acaba jogando figuras independentes como Tabata no colo da direita", afirma

(Foto: Agência Câmara)
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Por Ricardo Kotscho, para o Balaio do Kotscho e para o Jornalistas pela Democracia

379 a 131.

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Este foi o placar da primeira votação da reforma da Previdência que aprovou o projeto do governo na Câmara, na noite de quarta-feira.

Foi uma acachapante derrota da esquerda, por margem muito maior do que o próprio governo esperava, com votos de deputados da oposição.

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Costuma-se dizer que a vitória sempre tem muitos pais e a derrota é órfã.

Neste caso, a esquerda do Facebook e do zap-zap encontrou uma culpada pela acachapante goleada sofrida: a jovem Tabata Amaral, 24 anos, deputada federal de São Paulo pelo PDT de Ciro Gomes.

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Antes mesmo de ser anunciado o resultado, começou o linchamento virtual da deputada nas redes sociais, depois que ela divulgou à tarde um vídeo em que disse:

“O sim que eu digo à reforma não é um sim ao governo. E também não é um não a decisões partidárias”.

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Outros oito deputados do PDT também votaram a favor da reforma, mas só Tabata foi massacrada como a grande traidora da oposição.

Por que isso aconteceu? Alguém procurou conhecer a história desta moça, de origem humilde, formada em ciências políticas e astrofísica pela Universidade de Harvard?

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Eu tive a sorte de conhecer Tabata, em junho do ano passado, quando estava fazendo uma série de reportagens para a Folha sobre as caras novas na eleição.

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Por isso, ao ler a quantidade de besteiras e maldades que escreveram sobre ela nas redes sociais, tenho a obrigação de sair em sua defesa porque conheço a história.

Na época, pouco depois de voltar ao Brasil, ela ainda estava em dúvida sobre a sua candidatura, mas disposta a lutar em defesa do ensino público de qualidade para que outras pessoas tivessem as mesmas oportunidades que ela teve.

Paulistana de Vila Missionária, filha de uma vendedora de flores que foi diarista e de um cobrador de ônibus, que morreu dias depois de ela ganhar bolsa integral de Harvard, Tabata Amaral já tinha o discurso pronto:

“Meu maior sonho é transformar o Brasil através da educação e da gestão pública para que o país seja mais justo, inclusivo, desenvolvido e ético” (ver a reportagem completa na Folha Online de 25 de junho de 2018).

Com essa bandeira e poucos recursos para fazer a campanha, apesar da ajuda que recebeu do Acredito, um movimento de formação de novas lideranças políticas, Tabata desembarcou em Brasília disposta a transformar seu sonho em realidade.

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Ao contrário de outros deputados que votaram a favor da reforma em troca de emendas parlamentares, fartamente distribuídas pelo governo, ela votou por convicção, por entender que era necessária, como disse no vídeo.

Foi acusada de estar a serviço do grande capital porque um dos empresários ligados ao Acredito é o bilionário Jorge Paulo Lehmann, mas só quem não a conhece pode achar que Tabata se preste a isso.

De toda forma, é melhor que grandes empresários ajudem na formação de novas lideranças do que financiem torturadores nos porões do DOI-CODI, como faziam na ditadura militar.

Por que os partidos de esquerda também não fazem o mesmo, para renovar seus quadros e programas, em vez de perseguir quem não se enquadra nos velhos modelos?

Em lugar de dar força a novas lideranças, para recuperar sua imagem desgastada junto à opinião pública, a esquerda acaba jogando figuras independentes como Tabata no colo da direita.

É o que vão acabar conseguindo, se ela for expulsa do PDT, por ter desrespeitado decisão da direção do partido.

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O Novo, que nada tem de novo, certamente a receberá de braços abertos.

Dona de forte personalidade, determinada a levar adiante seus projetos na área de Educação, Tabata não se rendeu às ameaças de Carlos Lupi, presidente do PDT, partido que fechou questão contra a reforma.

Assim que chegou a Brasília, Tabata, já tinha arrumado encrenca com um veterano deputado não reeleito, que se recusava a desocupar o apartamento funcional destinado a ela pela Câmara.

Logo ela começou a se destacar em todos os debates sobre educação, contra o projeto da Escola sem Partido e denunciando o desmantelo promovido no MEC pelo novo governo, sob a orientação de um guru da Califórnia que já nomeou dois ministros.

Como fundadora do movimento Mapa Educação, da qual é presidente, Tabata foge ao perfil clássico dos deputados de esquerda, que se limitam a empunhar placas e cartazes de protesto e fazer discursos ferozes contra as reformas em discussão no Congresso Nacional, sem apresentar alternativas, uma estratégia que não deu muito resultado até agora, como se viu na quarta-feira.

Culpar Tabata Amaral pela derrota fragorosa é mais do que um erro político, é uma estupidez.

Não vai mudar o resultado.

Vida que segue.

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