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Eu já conversei com meu filho hoje, e você?

Pesquisa aponta que 70% dos estupros relatados em 2011 vitimaram crianças e adolescentes no Brasil

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Nos últimos dias não ouvi falar de outro assunto. A campanha EU NÃO MEREÇO SER ESTUPRADA esteve presente em todas as redes sociais, jornais e contou, inclusive, com o apoio da presidente Dilma.

Eu já estava refletindo sobre esse tema desde que ouvi o deputado estadual Rafael Picciani, o Dr. Nelio Andrade e o radialista Francisco Barbosa debatê-lo em um programa da rádio Tupi, há cerca de um mês. Mas o debate era outro, e eu, por ser mãe, não consegui parar de pensar naquilo. O debate discorria sobre o número de casos de estupros de crianças e adolescentes, que aumentava vertiginosamente. E percebam, o assunto não estava baseado em dados, mas sim em números de casos reportados à rádio. Diante de todo o alvoroço causado pelos dados divulgados pelo IPEA, resolvi ler a pesquisa para tentar entender o contexto, até porque, toda vez que as feministas levantam uma bandeira, minhas intuições me pedem que eu estude os fatos antes de me posicionar.

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Assim que iniciei minha busca pela pesquisa, obtive dois resultados: a própria pesquisa que tem o título "Tolerância social à violência contra as mulheres" e uma nota técnica intitulada "Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da saúde". Ambas foram publicadas em março de 2014, mas apenas uma ganhou notoriedade nacional. Embora o instituto tenha causado ainda mais polêmica ao publicar uma errata sobre os dados da pesquisa, a meu ver, isso só demonstra sua seriedade e comprometimento com a verdade. Sua validade não deve ser questionada. Apesar de eu ter minhas ressalvas sobre as intenções do alarde causado em torno do assunto "a roupa que eu uso", quero deixar claro que sou a favor da campanha, que concordo totalmente que nenhuma mulher merece ser estuprada, sob nenhuma circunstância!

Não vou discutir aqui a importância desses 26% ou dos antigos 65% dos entrevistados que causaram tanta indignação ao concordarem que mulheres com roupa curta merecem ser atacadas, até porque atacadas e estupradas são palavras diferentes com significados mais diferentes ainda, mas pretendo sim me indignar com o que me causou verdadeiro espanto: mais da metade dos casos de vítimas de estupro tinha idade inferior a 13 anos de idade, desta forma, 70% dos estupros relatados na pesquisa vitimaram crianças e adolescentes no Brasil, em 2011.

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Os dados apontam algo ainda mais alarmante: mais de 70% dos agressores no caso de estupros de crianças são pessoas conhecidas, ou seja: pais, mães, tios, irmãos, vizinhos, padrastos, amigos... E que 79% das agressões ocorrem dentro de suas casas.

Em sua conclusão, os pesquisadores alertam: "Em 50% dos incidentes totais envolvendo menores, há um histórico de estupros anteriores".

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Em uma entrevista ao programa No Safe Place, o psicólogo supervisor do presídio americano de Utah, Ron Sanchez, que trabalha apenas com estupradores condenados, afirma categoricamente que não há nenhum padrão feminino comum que os estupradores procurem. A variedade de suas escolhas não está relacionada necessariamente à roupa que as mulheres usam ou coisas do tipo. O que o psicólogo afirma reflete uma linha de pensamento que não está isolada, como afirma o coordenador do Serviço de Violência Sexual do Hospital Pérola Byington, Jéferson Drezett, que em uma entrevista afirmou que há 20 anos não vê mulheres vestidas de maneira provocante, com roupas curtíssimas, aparecerem como vítimas de estupro. Ele ainda complementa que 70% dos casos que teve ciência ocorreram quando estas mulheres faziam atividades absolutamente corriqueiras, como ir e voltar da escola ou do trabalho, o que nos leva minimamente a analisar os números e sua causalidade com um maior cuidado.

Como pedagoga, me perturba a lembrança dos casos que tive conhecimento no exercício de minha profissão, enquanto trabalhei com menores infratores viciados em crack. E eu sei muito bem o quão destruidor é o estupro na vida de uma criança. As consequências disso podem ser: estresse pós-traumático, transtornos de comportamento, depressão, fobias, abuso de drogas ilícitas, tentativas de suicídio e gravidez. A própria pesquisa afirma que os dados são absolutamente alarmantes, uma vez que as consequências psicológicas são devastadoras. O que mais me instigou sobre essa questão foi por que deram mais atenção ao acessório de uma pesquisa enquanto o ponto central da outra não ganhou o devido destaque?

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Acredito que o mais importante é o papel dos pais na observação e orientação de seus filhos. Eles devem, principalmente, estar atentos às mudanças de comportamento e humor. É possível orientá-los para a prevenção! Esteja sempre atento ao óbvio, por exemplo, se ele apresenta infecções e dores na região genital e abdominal. Observe se ele demonstra um comportamento sexual explícito ou um conhecimento sexual que não condiz com sua faixa etária de desenvolvimento. Observe a forma como ele brinca, alguns abusos podem ser demonstrados através de desenhos, onde a criança ilustra genitálias (geralmente a do agressor). As crianças que sofrem algum tipo de abuso tendem a se isolar e podem demonstrar medo de adultos de um sexo específico, se mostrar agitada ou perturbada na presença de certa pessoa, também podem apresentar preocupação exagerada com a limpeza corporal. Em casos extremos, apresentam comportamento suicida e automutilação.

É assustador saber que pessoas próximas possam ser os algozes de nossos filhos. Mais assustador ainda é saber que apenas 10% dos casos aparecem nas estatísticas, pois em geral, além do abuso, as crianças são coagidas e ameaçadas a não contarem nada a ninguém. Esse é um assunto delicado, difícil de abordar, mas conversem com seus filhos, os ensinem a cuidar do próprio corpo e expliquem que devem desconfiar se alguém tentar tocá-lo, inclusive nas partes íntimas, e que se neguem se pedirem para tocarem no próprio corpo ou no de outra pessoa. Oriente-os a gritar ou correr caso sintam-se ameaçados. Olhem, vigiem, denunciem. Isso precisa parar agora!

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Esse sim é um tema que inspira a urgência de uma campanha nacional:
EU JÁ CONVERSEI COM MEU FILHO HOJE, E VOCÊ?

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