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Rodrigo Lamore

Rodrigo Lamore é cantor, músico e compositor. Possui trabalho autoral e atualmente vive de shows voz e violão em barzinhos do Rio de Janeiro. É oriundo da cidade de Guanambi - BA e tem quase trinta anos de carreira musical.

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Eu Prefiro Anita

É preciso que o rock seja genuinamente brasileiro. Enquanto isso não acontecer, vou continuar preferindo ouvir Anita

Anitta (Foto: Divulgação)
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Você gosta da musica brasileira? Você está satisfeito com o que toca nas paradas de sucesso? Pra maioria das pessoas, a resposta é sim; mas existem umas pessoas que acham que não. Essas pessoas são conhecidas como roqueiros. Se existe uma definição acabada do ser mimizento, esse ser é o “indivíduo roquista”, dono de frases icônicas do tipo: “a música de hoje não presta”, “antigamente era melhor”, “rock é que é música de verdade”, “eu odeio funk”, “tem que proibir essas músicas de bandido”, etc, etc...

Todas essas frases poderiam ser substituídas por uma única apenas: “socorro, não sou mais o centro das atenções”. Iria dar no mesmo. Essa é a verdade.

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O rock de tiozão já morreu já faz um tempo, mas o seu zumbi ainda existe e segue andando sozinho pelas ruas sem destino, como que pensasse que as coisas vão voltar ao que era antes, a era de ouro do rock! Mas não vai! O rock envelheceu e a não ser que ele se rejuvenesça e se adapte aos novos tempos e, o principal, mantenha a sua filosofia original, da música predominantemente contestadora do status quo, a tendência é seguir ladeira a baixo.

Isso é o que acontece quando o capitalismo se sobrepõe aos princípios; num mundo onde o dinheiro fala mais alto, é preciso que o artista tenha consciência do seu próprio trabalho e entenda que existe um terceiro elemento na obra artística, além do artista e da arte: o público. E é esse publico que irá aceita-lo ou rechaça-lo, caso ele siga ou não os seus princípios fundamentais. No caso do estilo rock, que estamos tratando aqui, os princípios são a não aceitação do sistema vigente que é o sistema capitalista e seus filhotes: conservadorismo, patriarcalismo, anti- ciência, individualismo.

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Aqui você já deve ter percebido que a critica é tanto para os fãs do rock quanto para o artista do rock. Isso porque se o artista erra, o publico acaba seguindo esse erro, pois o artista é acima de tudo um líder de uma tribo, e um líder que lidera errado, resulta numa tragédia. E essa tragédia é a morte do rock n roll. Mas o que isso tudo tem haver com o titulo do texto? O que Anita tem a ver com isso?

Na verdade, tem tudo a ver. Anita representa hoje o que o rock deveria ser atualmente, uma música progressista, alegre, contestadora e do povão. O rock surgiu dos guetos dos EUA, e, portanto, era “música de pobre”. O rock era a musica que os adultos odiavam por ser muito obscena. O rock era a musica que era diferente de tudo o que já haviam criado até então. O rock era contra as regras. O rock era contra a tristeza. O rock era festa e ao mesmo tempo consciente dos problemas da vida e assim, protestava para que as coisas mudassem para melhor. O lema do rock era “sexo, drogas e rock n roll”. Porém agora o roqueiro renega tudo isso, e diante de outros estilos musicais a cantores diversos que também praticam e divulgam essas mesmas características clássicas do rock citadas acima, ele se fecha e parte pro ataque, como se quisesse dizer: “não quero mais ser um roqueiro autentico e também não quero que os outros sejam”.

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Em ultima instância, eu vejo não apenas o funk carioca como o novo reduto da filosofia rock n roll, mas também o hip hop, e até mesmo, em alguns pontos, o sertanejo universitário e a pisadinha. Mas eu prefiro me focar no funk carioca por ele ser mais emblemático e simbólico, com relação a luta de classes brasileira. Isso porque o funk carioca é também um estilo musical criado nas favelas cariocas, e, portanto, feita por pessoas pobres, muitas vezes sem acesso a educação de qualidade, moradia, infraestrutura, segurança, bem estar social, etc; e mesmo diante de todas essas dificuldades, os artistas conseguem se erguer e fazer sucesso com suas composições e o seu respectivo público se mantém coerente e engajado. Já os roqueiros (artista e público), que são em sua maioria de classe média, mesmo que também sejam pobres, mas que tem melhores condições econômicas, educacionais, etc, não conseguem se sentir realizados ou não conseguem produzir nada, pois sua obra não condiz com o que o povo realmente quer, não está sintonizado com o mundo real, não demonstra estar interessado nas reais necessidades dos cidadãos, dos trabalhadores, do povo. Estão sim, presos em seus egoísmos, culpas, ignorância, arrogância. Muitos desses nem gostam de ser brasileiros, pois “não querem se misturar”, se sentem superiores à ralé; querem falar inglês e usar jaqueta de couro no calor de 40º do Rio de Janeiro. São pessoas que já morreram, mas ainda não se deram conta disso.

Portanto, é urgente que, tanto o artista do rock, quanto seu publico queiram se manter vivos e que o rock volte as paradas de sucesso, é preciso uma revolução. É necessária uma profunda reflexão, não só no âmbito artístico, mas também sócio político, cultural, e entender que o problema na verdade vai além da música, e perpassa também em questões socioculturais, econômicas e comportamentais. É preciso que o rock seja genuinamente brasileiro; não apenas no idioma, mas também no vocabulário, expressões, gírias, sons, vestuário, temas das músicas, etc. E que o roqueiro entenda que ele também faz parte do povão, que não existe musica superior, nem pessoas superiores, nem melhores nem piores, e que todos nós somos irmãos e brasileiros, que temos os mesmos problemas e lutamos pelas mesmas causas, que é a dignidade, respeito, serviços públicos de qualidade e gratuitos, educação, moradia, saúde, salários e empregos dignos. Mas enquanto isso tudo não acontecer, eu, apesar de roqueiro, vou continuar preferindo ouvir Anita.

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