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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Eu quero que morram todos os ditadores

"Entendo que desejar que algo aconteça a alguém não tem efeito algum na vida real: ninguém jamais quebrou a perna só porque um desafeto desejou", escreve Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia, sobre o caso do jornalista Helio Schwartsman

Hélio Schwartsman e Jair Bolsonaro (Foto: Divulgação)
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Não vi muitas mensagens de solidariedade ao jornalista Helio Schwartsman, que está sendo processado pelo governo Bolsonaro por ter publicado na “Folha de S.Paulo” artigo intitulado “Por que eu quero que Bolsonaro morra”, no qual defende a tese de que a sua morte por covid-19 seria benéfica, pois impediria que outras mortes ocorressem e por isso a deseja.

A tese pode ser contestada do ponto de vista filosófico e religioso, pois é disso que se trata: de uma tese. E as contestações já emergem aqui e ali.

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O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, lamentou o artigo e alegou que, por ser judeu, não admite que alguém deseje a morte de outrem.

O diabo é que Schwartsman também é e admite.

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O jornalista Reinado Azevedo sugeriu que o artigo leva água para o moinho dos bolsonaristas. Se ele pode desejar a morte de Bolsonaro eles também podem desejar a morte da democracia. Ficaria elas por elas.

Por meio de seu ministro da Justiça (que aberração!), Bolsonaro alega que o jornalista violou o artigo 26 da Lei de Segurança Nacional.

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Basta ler o seu teor para constatar que as coisas não se encaixam:

“Art. 26 - Caluniar ou difamar o Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação. Pena: reclusão, de 1 a 4 anos”.

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Alguém de plena posse de suas faculdades mentais poderá afirmar que, ao fazer uma análise filosófica acerca da morte de Bolsonaro, Schwartsman o caluniou ou difamou?

Ou lhe imputou algum fato definido como crime ou ofensivo à sua reputação?

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É claro que não!

Ouvi algumas pessoas dizerem que o diretor de redação deveria ter vetado a publicação do artigo. E até que o Otavinho Frias, se vivo estivesse, o faria. Acho essa posição lamentável. Não sei se Otavinho censuraria ou não, jamais saberemos, mas seria uma autocensura, o que é inconstitucional.

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A liberdade de expressão, tão invocada atualmente, é garantida pelo artigo 5o. da constituição. E os primeiros a respeitá-la têm que ser os jornalistas. Principalmente dentro das redações.

Não tenho a formação de Schwartsman, que é bacharel em Filosofia pela USP, mas entendo que desejar que algo aconteça a alguém não tem efeito algum na vida real: ninguém jamais quebrou a perna só porque um desafeto desejou.

Desejar também não dá cadeia porque o desejo não consta de lei alguma: ninguém pode ser condenado por desejar que o seu desafeto quebre a perna.

Ou que morra.

Apesar de não haver menção a isso no artigo 26 da LSN, o jornalista também não incitou a que matem Bolsonaro. Pediu apenas que morresse vítima da epidemia que negou.

Minha solidariedade a Schwartsman.

Eu quero que ele continue escrevendo o que quiser, desde que não incorra em calúnia, injúria, incitação ao ódio ou fake news.

E que morram todos os ditadores.

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