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André Lobão

Jornalista do Sindipetro-RJ

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EUA e Rússia: cada um toma conta do seu quintal

"Em realidade, toda essa confusão na Ucrânia pode ser o prelúdio para que grandes potências militares como EUA, Rússia e China resolvam contendas antigas"

(Foto: Reuters)
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Putin e as políticas de seu governo se mostraram totalmente contraditórias. A nível externo oferecem apoio à Cuba, sempre relembrando os laços com a ilha nos tempos da extinta URSS. Apoia a Venezuela e o governo bolivariano de Maduro, com crescente intercâmbio militar, e tem na China seu principal aliado. Para um desinformado sobre política isso poderia configurar que a Rússia teria um governo de esquerda no poder, mas não é bem assim.

Putin nunca escondeu suas ligações com a extrema-direita global com seu apoio a Trump, e recentemente, até recebeu Bolsonaro, coisa que nenhum país do mundo faz. Seus opositores o acusam de impor uma soft ditadura, tutelada pela emergente burguesia do país e Igreja Ortodoxa Russa. Na Rússia movimentos identitários como o LGTBQ+ são combatidos pelo governo.

A invasão da Ucrânia seria por conta de uma possível abertura do país ao imperialismo yankee para isolar a Rússia com os mísseis da OTAN — Organização do Tratado do Atlântico Norte, um acordo militar que reúne países da Europa e EUA, criado em 1949 para se proteger do continente europeu de um possível avanço militar da URSS. Em resposta, os países alinhados com Moscou criaram, em 1955, o Pacto de Varsóvia, uma versão dos países socialistas, satélites da então União Soviética para contrapor à OTAN.

Com o fim da URSS, em 1991, acabou-se também o Pacto de Varsóvia. E aí a OTAN recebeu ao longo dos anos seguintes o ingresso de ex-alinhados soviéticos como Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Bulgária, Romênia, e do que era a antiga Iugoslávia (Croácia, Montenegro, Eslovênia, Macedônia do Norte) e Hungria. Além de ex-repúblicas da URSS como Estônia, Letônia e Lituânia. E só faltava a Ucrânia.

Em todos esses países, ocorreu um fenômeno de crescimento da extrema-direita, com campanhas políticas valorizando nacionalismos, e impondo um discurso anti esquerda e anti Rússia. Mas isso não impediu que alguns desses países ingressassem na União Europeia. Então, o que era considerado área de influência territorial da antiga URSS se bandeou para o lado da OTAN (leia-se, EUA).

Agora, pelo visto, Putin resolveu reivindicar uma antiga área de influência dos países do leste europeu para chamar de seu.

O fato é que a nível global, a extrema-direita e a esquerda se mostram incapazes de interpretar o que está acontecendo no contexto da invasão à Ucrânia, que é um país que persegue militantes sindicalistas e de esquerda, desde 2013, tendo proscrito o Partido Comunista local em 2015. A invasão russa recebeu apoios esfuziantes de intelectuais de esquerda, como sendo o retorno à ativa do velho urso soviético após uma hibernação de mais de 30 anos. Mas não é bem assim.

São muitas contradições existentes que precisam ser colocadas antes de qualquer avaliação absoluta. Neste momento, não existem, como foi no período da Guerra Fria, embates ideológicos. O que está em jogo são interesses geopolíticos, e como países que dominam a tecnologia das armas podem, a partir disso, ampliar sua capacidade de influência para atender interesses de suas burguesias locais como na Rússia.

Por outro lado, os EUA vivem um processo de ocaso econômico e tecnológico com ascensão da China. Isso leva o “Tio Sam” a ser mais agressivo no seu imperialismo e reforçar também sua área de influência. Aqui na América Latina isso está bem evidente, a partir de quem não esteja alinhado com os interesses estadunidenses. A operação Lava Jato mostrou bem como a coisa funciona.

Em realidade, toda essa confusão na Ucrânia pode ser o prelúdio para que grandes potências militares como EUA, Rússia e China resolvam contendas antigas na base da força para marcar suas respectivas influências territoriais, e estarem liberados para tomar conta de fato de seus quintais. Daí, os EUA tomam Cuba e Venezuela; China se resolve com Taiwan e a Rússia retoma o que era a sua zona de influência nos tempos da URSS na Guerra Fria. Ou seja, uma forma das coisas voltarem a ser do jeito que eram em tempos distantes.

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