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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Feito bicho

Me pego acreditando, lá no fundo, que vamos chegar à curva descendente naturalmente e com o isolamento respeitado e que talvez cheguemos também a um remédio que amenize o mal. Espero chegar inteiro a esse dia e que a sociedade em geral mude seus conceitos diante da fragilidade que a nossa vida adquiriu

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Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia - De repente me vi torcendo pelo Brasil no VT da final com a Alemanha na Copa de 2002. Gritei na hora do gol do Ronaldo como se estivesse assistindo ao vivo. Novos hábitos em tempos de quarentena. Passei também a ler mais, livros que estavam sempre sendo adiados por conta da agitação do dia a dia. Agora me pego lendo. 

Estou na serra, num ambiente mais arejado e espaçoso com o risco reduzido ao imponderável total. Me pego levando o Joca, meu cachorro, para passear sem a preocupação com a hora de voltar. Ele sente isso e aproveita cachorrando sem parar pelo caminho do condomínio. 

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Me pego fazendo e refazendo minhas charges duas ou três vezes. Não só porque os assuntos mudam mas, também, porque tenho tempo de pensar e repensar o que fiz. Hoje acordei com duas charges prontas e acabei mandando uma terceira, feita logo cedo pela manhã.. 

Me pego também controlando o abastecimento de comida na casa. O que ainda temos, o que precisamos comprar. Ficar em casa é uma tentação não só para comer como para beber mais. Estou regulando isso também. Sempre trabalhei em casa. Quase nunca precisei sair para trabalhar, portanto, para mim pouco muda. Mas o fato de não dever sair acaba criando uma nova limitação e como toda limitação é difícil de ser cumprida fica mais esse desafio, não só de sobrevivência mas de consciência. 

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De repente me pego conversando mais através da internet com amigos, filhos, familiares e conhecidos em geral. Na internet também me pego segurando meu impulso para não cair em cima de pessoas que conheço que dizem barbaridades. Ainda tem gente que acha o isolamento desnecessário, que temos que voltar a circular.  Eles esquecem que não é um problema do Brasil. É um problema mundial. É só olhar para a Europa e os Estados Unidos. Olhar no computador, eu digo. 

Falando em computador me pego consultando os sites de outros países. O da Johns Hopkins é maravilhoso. Temos ali os gráficos da evolução da pandemia em tempo real. O site do jornal italiano La Repubblica também informa bem mas me deixa triste com o cenário dramático da doença na Itália.  

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Todos os dias me pego vendo séries na TV. Já gostava, agora estou viciado. Sei tudo sobre todas. Não tenho paciência para as muito fantásticas e as muitos americanóides, com sentimentos e bobeiras clássicas. Mas vejo muita bobagens também. Os espanhóis fazem muito. Fazem bem mas fazem muita besteira. Estão com uma boa qualidade de produção mas, ironicamente, contraponto com o cenário da doença no país.

Mas me pego também dormindo menos, sonhando muito, acordando cedo com preocupações variadas. Me preocupo com meus filhos em suas casas no Rio. Já não tenho mais pais. Hoje sou eu o pai que preocupa a eles. Todo dia digo que estou bem. Já fizemos lives coletivas onde falamos e nos vemos. Até quando manteremos essa mesma tranquilidade? Até quando os salários serão pagos? Até quando teremos que lidar com a ganância da iniciativa privada e a incompetência do poder público em relação à população trabalhadora? Até quando teremos que suportar um idiota no poder? Tanto incentivaram o trabalho informal e agora abandonam essa população à deriva nas ruas perigosas da cidade. 

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Acabei de ver na TV, no centro do Rio, ambulantes em busca de uma cesta básica para aliviar o abandono. Um catador recebe 10 centavos por um quilo de papelão! É um absurdo normalmente, imaginem agora com o vírus tornando as ruas desertas. Vão achar papelão aonde? Só se for no comportamento vergonhoso do Bolsonaro, mas esse não dá para catar.

Mas me pego também acreditando, lá no fundo, que vamos chegar à curva descendente naturalmente e com o isolamento respeitado e que talvez cheguemos também a um remédio que amenize o mal. 

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Espero chegar inteiro a esse dia e que a sociedade em geral mude seus conceitos diante da fragilidade que a nossa vida adquiriu. Não está em deus a solução. Mesmo que as igrejas sejam abertas não vejo como ele possa agir ou explicar isso tudo. Me pego então acreditando nesse instinto animal de sobrevivência do ser humano que como o macaco ou o tigre vai fugir da morte e preservar sua família com unhas e dentes. Literalmente.

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