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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Ficarão impunes os que debocham da volta da CPI do Genocídio?

"Pedido serve como admissão de que, ao contrário do que foi alardeado, o mais provável é que não aconteça nada mesmo", escreve Moisés Mendes

CPI da Pandemia (Foto: Pedro França/Agência Senado)
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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia 

É longa e penosa a ressaca da CPI do Genocídio. O relatório da comissão, com o pedido de indiciamento de 81 figuras do bolsonarismo, foi aprovado em 26 de outubro e logo depois encaminhado ao Ministério Público.

Cumpriu-se o roteiro mais pessimista e não aconteceu nada. Não acontece nada até agora contra Bolsonaro, generais, coronéis, contra o véio da Havan, os chefes da clínica dos horrores da Prevent Senior e contra os traficantes de vacinas e de cloroquina.

É comovente o apelo do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que pediu ao Senado a reabertura da CPI. Mas muito mais para que os senadores voltem a fazer barulho e a assustar e, quem sabe, corrigir seus erros. Será que dá para investigar mais e o quê?

Randolfe argumenta que há fatos novos, como a sabotagem da vacinação das crianças e o apagão de dados do Ministério da Saúde, com claros indícios de que foi deliberado.

O outro argumento é o de que, se não deu em nada até agora, por inação do MP em relação a acusados com foro, a CPI deve ser levada adiante, em segunda etapa, para que algo aconteça.

O pedido de Randolfe também pode não dar em nada. Mas serve como admissão de que, ao contrário do que foi alardeado ao final da CPI, o mais provável é que não aconteça nada mesmo.

Não vai acontecer porque a Procuradoria-Geral da República sentou em cima dos pedidos de indiciamento e porque ninguém vai querer mexer com Bolsonaro, generais e coronéis em ano de eleição.

Sobrará apenas para a chinelagem sem proteção especial, mas essa terá de esperar o tempo do MP, que só teve velocidade acima do normal na Lava-Jato.

O próprio véio da Havan já desafiou em tom de deboche a ideia de Randolfe, avisando no Twitter: “Já estou com a roupa de ir. Me chamem que eu vou”.

O véio, com pedido de indiciamento por incitação ao crime por disseminação de fake news, chama a CPI de novela mexicana. O deboche é a arma de figuras da turma do véio. O sentimento deles é o da impunidade.

O relatório da CPI tem, por exemplo, o pedido de indiciamento de nove médicos da Prevent Senior, alguns sob a acusação de fraudes em certidões de óbito.

Mas há também o pedido de indiciamento de dois donos da clínica usada como campo de concentração para experiências com a cloroquina e o Kit Covid de Bolsonaro.

Já se sabe, por informações que o Ministério Público vazou para a imprensa, que os donos da clínica podem escapar das principais acusações. E que talvez sejam punidos apenas os médicos empregados da rede.

As provas até agora seriam todas contra os médicos. Eles é que tomavam decisões ditas técnicas, planejavam e levavam adiante as deliberações que não salvavam ninguém e podem ter matado muitos idosos.

As informações divulgadas nessa linha indicam o seguinte. Há dificuldades para que o MP encontre indícios que responsabilizem os donos, no âmbito criminal.

Vai cair no colo da conduta individual de cada médico. Será um Deus nos acuda.

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Os donos da Prevent podem escapar, e os médicos, que cumpriam ordens impositivas para uso do Kit Covid, podem ser incriminados.

Seriam condenados também os médicos que alteraram certidões de óbito, para esconder a Covid como causa das mortes? Uma das certidões sob suspeita é a da mãe do véio da Havan, mesmo que a versão dele, dada à CPI, seja de erro, depois corrigido.

A CPI conseguiu a façanha de criar uma expectativa gigantesca em torno de possíveis condenações, ameaçando pegar até generais, mas no fim talvez atinja apenas o pessoal subalterno envolvido em ilícitos na pandemia.

A pergunta que essa possibilidade aciona é inquietante: os médicos que cumpriam ordens dos donos da Prevent vão encarar sozinhos a culpa pelos receituários e pelos atestados de óbito fraudados por ordem de alguém?  

Nas quadrilhas das vacinas, vai sobrar também só para os mandaletes sob as ordens de gente graúda e graduada? A CPI conseguiu desmontar essas facções antes da concretização dos negócios. Foi um grande feito, talvez o mais importante.

Mas a comissão deve estar arrependida de alguns vacilos. Entre as quais, o recuo na decisão de pedir o enquadramento de Bolsonaro como genocida.

Recuaram nessa e em outras decisões, como a retirada de nomes de pregadores da cloroquina da extrema direita porque eram colegas de Senado. Colegas devem ser preservados.

Há hoje um sentimento de que recuaram demais. Se fosse mantido, o pedido de enquadramento como genocida criaria uma armadilha. Seria interessante ver o Ministério Público emitindo um parecer gongórico, com alguns termos em latim, declarando que Bolsonaro não é genocida.

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