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Forca para quem mesmo?

Se a representação do julgamento arbitrário, em praça pública, felicita uma multidão entre 5% e 10% da população da cidade, fiquei imaginando ao que poderá nos levar essa energia, essa força, se cristalizada

Se a representação do julgamento arbitrário, em praça pública, felicita uma multidão entre 5% e 10% da população da cidade, fiquei imaginando ao que poderá nos levar essa energia, essa força, se cristalizada (Foto: Pedro Fávaro Júnior)
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O resgate da forca – em oposição ao Estado de Direito – e na minha cidade me envergonhou demais. Quem se envergonharia de ver duas pessoas acusadas de corrupção, pendendo do viaduto que está sobre a principal avenida da cidade, a 9 de Julho, em Jundiaí, uma cidade sabidamente de maioria cristã? Me disseram que o povo aplaudiu aquilo que era "só" uma representação. Mas a representação é símbolo daquilo que ela realmente expressa. Assim, os aplausos e ovações revelam – me desmintam os psicólogos e psiquiatras, por favor, que o que eu mais quero é estar enganado –, o desejo de matar aquilo que é contrário ao pensamento dominante. Pelo menos dominante naquela manhã, naquela multidão que se felicitou com o sinal da forca.

Assim, se a representação do julgamento arbitrário, em praça pública, e a morte pelo enforcamento da autoridade máxima do País, sentenciada por seus opositores, felicita uma multidão entre 5% e 10% da população da cidade, fiquei imaginando ao que poderá nos levar essa energia, essa força, se cristalizada. O mesmo impulso que deve ter embalado o "desenvolvimento" nos primórdios da organização social, quando não havia ainda o chamado Estado de Direito.

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Ouvi um filósofo de Israel afirmar que muitas vezes, para se resgatar a utopia, é preciso trombar com a distopia. Uma, duas, dez vezes, disse ele num documentário que assisti. Qual seria então a utopia da multidão felicitada com aquele enforcamento simbólico? me indague. A simples eliminação, a "morte" da autoridade daquelas pessoas? Ou a morte "daquelas" pessoas? Aquilo seria o símbolo máximo do que se deve fazer com quem pensa diferente? Seria só um passo para se alcançar os sonhos? E qual seria(m) o (s) sonho (s)? Substituir os poderosos por outros para se ter uma sociedade justa, igualitária, menos excludente, mais plural... Pelo voto? Pelo impeachment? Pela ditadura? Pela forca? Por qual razão aqui na nossa cidade, a forca apareceu sem nenhum pejo?

Hã? Como assim? Eu que não estou entendendo? Eu, comunista? Petista? Lulista? Dilmista, filho da puta? Mas só estou filosofando! Por escrito ainda... Calar a boca? Ah, não! De novo não! Bem feito, o quê? Para quem? O que foi feito? Nossa mãe!

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Quem me conhece sabe que sou de paz. Por ser de paz é que estou pensando no episódio até agora. Não consegui parar de ficar imaginando o amadurecimento deste sentimento de apreço ao enforcamento que se manifestou aqui, na manhã de 15 de março de 2015.

Creio que em alguns corações, esse sentimento crescerá, mesmo que tudo mude. Mudem as pessoas, mudem as estruturas de poder na cidade, no Estado, no País, nas Américas, na Europa, na África, Ásia e na Oceania. Porque mudadas as estruturas e mudados os poderosos, o ódio terá que buscar novo argumento, novas carnes, novos pescoços para pendurar no laço das frustrações e do medo de olhar para dentro. Precisará de um novo pensamento contrário para enforcar, sem entender que pensamentos não podem ser enforcados.

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Quem poderão, então, ser os próximos pendurados no viaduto, em novas "marchas" pela Avenida 9 de Julho, mesmo que em representações e para além da política partidária?

Talvez, daqui a algum tempo, no lugar das duas autoridades enforcadas, parte do povo de Jundiaí comece a enforcar suas minorias para garantir que ela continue "cidade limpa e saudável". Assim, é bem provável que em alguma passeata se verá pendurados na forca além de quem for apontado como político corrupto, moradores de rua, guardadores de carro, prostitutas, velhos e velhas improdutivos, maconheiros e dependentes químicos, gays, lésbicas, ladrões, jornalistas, escritores, ateus, muçulmanos, católicos, evangélicos, bruxas e bruxos, e quem sabe, no ponto extremo, alguma senhora de boa reputação, algum magistrado ou promotor público que tenham se desgarrado e tenham sido apanhados em flagrante em alguma escorregadela...

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