Frete “das Mina”
"Em silêncio e muito ágil, o trio fez o serviço sem deixar pistas"
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O primeiro a saber só podia ser ele, o morador mais informado do condomínio, Mendes, o zelador.
Homem organizado, no dia combinado da mudança, Mendes ajeitou aquela proteção interna no elevador de serviço e botou dois cones laranja e um caixote de madeira para marcar o terreno em frente ao prédio. Às nove da manhã, o caminhão encostou com facilidade.
Mendes, que já viu piano entrar pela janela, passou trinta anos de olho em caixas de discos, livros, faqueiros, baús; também enceradeiras, cômodas, tevês enormes e cristaleiras. Um sobe e desce interminável.
“Não sei por que esse povo troca tanto de casa, não passa dois meses sem mudança aqui no prédio.”
Dessa vez, acompanhou sem surpresa o fogão elétrico, uma esteira dessas de academia, três bicicletas, uma guitarra, um beliche. Vieram também, nas caixas adequadas e com farto estoque de alimentação e brinquedos, dois cachorros e uma gata malhada.
“É o pessoal do 32 que chegou”, me avisa.
Então, ele acrescenta que tem uma novidade. Antes da revelação, faz uma introdução com as mãos nos bolsos. É o estilo Mendes.
“As mulheres são cada vez mais independentes, eu vejo pela minha filha que pensa muito diferente da mãe. Então, quando fiquei sabendo, que no sala e dois quartos vão morar quatro moças achei normal. “
Aí, eu pergunto pela novidade.
“Vou chegar lá, calma.”
Nessa hora ele dá o sorriso dos poderosos e pigarreia.
“Já perdi a conta dos fretes que eu vi, trinta anos de portaria, mas igual a esse...
“Mendes, por favor”, eu peço olhando as horas.
“O frete foi todo feito por mulheres. A motorista e as duas carregadoras desceram a mobília do caminhão e montaram tudo em três horas. Quando pegaram a esteira eu e o Maique oferecemos ajuda e elas disseram que bastava abrir a porta do elevador. As três bem uniformizadas e de luvas. Não deixaram um pedaço de papel pra trás. Precisava o senhor ver”, diz com o sotaque que restou da infância em Colinas, Maranhão.
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