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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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General purpose

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“Convidado” para um “samba”, o general que ficou mundialmente conhecido por sua inépcia e incompetência à frente do Ministério da Saúde, recorreu ao Supremo Tribunal Federal por um habeas corpus preventivo que o impedisse de ser preso caso mentisse à CPI da Covid. A atitude do referido general chamou a atenção, uma vez que o tal senhor pertence aos quadros de um governo que não se cansa de culpar o STF por sua própria inoperância e irresponsabilidade, tendo dito inúmeras vezes que a Suprema Corte só atrapalha. Há ainda entre alguns de seus membros e apoiadores, aqueles que defendem que o STF seja fechado. Como hipocrisia pouca é bobagem, parecem não ver nenhum problema em defender golpe à noite e requerer habeas corpus preventivo de dia.

De posse do salvo-conduto, o referido militar mudou sua conduta e, como na canção de Noel Rosa, foi pra luta, tratando os senadores, em alguns momentos, com “força bruta”. Mas tentou se reabilitar, pois sua vida não tá sopa. Dias antes da aguardada estreia do ex-ministro na CPI, discutia-se se o general iria de terno ou de farda para o “samba” que a democracia o convidou. “Com que roupa”, pensou, “que eu vou”? Decidiu-se, sabe-se lá quem, que o general deveria ir em trajes civis, para não atrelar sua imagem à do Exército Brasileiro, como se tal relação fosse possível de ser negada, uma vez que o EB está metido no atual governo até a medula. Toda e qualquer tentativa de dissociação é inútil, uma vez que a cor abundante no governo é o verde-oliva.

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E lá se foi o general descendo a ladeira, sem contar sequer com um pingo de empatia ou confiança por parte do povo brasileiro. Traído o tempo todo por seu discurso confuso e canhestro, o general não disse coisa com coisa. Ameaçou se alterar, mas deve ter lembrado que não eram os seus comandados indefesos que estavam ali. Logo, não podia gritar, dar ordens, esbravejar ou obrigar um dos senadores a puxar uma carroça, como dizem que teria feito certa vez com um pobre de um soldado. Restou-lhe baixar a guarda, insistindo em um discurso que não convenceria uma criança de três anos. E falou, falou e falou. Falou laudatoriamente sobre seus “feitos” sem dizer absolutamente nada. Tentou, como se espera de um bom combatente, salvar a pele do seu comandante em chefe. Não conseguiu, falhando horrivelmente e, afogando-se, assim, em um imenso pântano de inverdades (ou seriam mentiras?), gagueira e suor.O problema, mais um, para o general é que muitas vezes o não-dito é mais estridente do que aquilo que se diz. No caso, toda vez que silenciava, o general falava mais, assim como quando falava demais não dizia nada. Não se pode negar que o serviço de media training ao qual foi submetido funcionou muito bem, mas as pernas curtas da mentira fazem com que os mentirosos, em algum momento, sejam traídos pelos seus próprios discursos. Contra isso, não há treinamento que dê jeito.

Enredado em uma imensa teia de mentiras (ou seriam “inverdades”?), o general parecia entregar-se ao sacrifício, imolando-se em nome de alguém que prometeu proteger. Lembro que há um velho ditado que diz: “o olho do dono engorda o gado”. E não é que, sentado bem de frente para o general, estava o olho do filho do dono. Melhor recado, impossível! E no auge do seu delírio, eis que o general afirma que saiu do governo após “missão cumprida”. Como estava confuso e, aparentemente cansado, talvez tenha desejado dizer “omissão cumprida”, o que se confirma pelas mais de 444 mil mortes causadas pela omissão deliberada do governo do qual faz parte. Como não é fácil pra ninguém carregar 444 mil caixões lacrados nas costas, o general “passou mal”, sendo salvo pela ordem do dia da Casa e pela síndrome vasovagal. Devidamente recuperado (corado, inclusive), o general voltou ao ringue no dia seguinte, mas continuou nas cordas. Suas respostas às perguntas que lhe foram feitas continuaram evasivas, tangenciadas e monocórdicas. 

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Ao observar a cena beckettiana que se desenrolava ali, o senador Alessandro Vieira (Cidadania/SE), disse: “Ele não possuía histórico ou traços preconceituosos, não apresentava características de um caráter distorcido ou doentio. Ele agiu segundo o que acreditava ser seu dever, cumprindo ordens superiores e movido pelo desejo de ascender em sua carreira profissional, na mais perfeita lógica burocrática. Cumpria ordens sem questioná-las com o maior zelo e eficiência, sem refletir sobre as consequências que elas pudessem causar." O senador Vieira não se referia ao perfil biográfico do general, mas ao de Adolf Eichmann. Vieira concluiu sua fala, dizendo que não conseguia entender que tipo de dever ou lealdade dominava aquele general, a ponto de acobertar o verdadeiro autor (quem seria?) das ordens que seguiu e que resultaram no morticínio que está em curso por aqui. Silêncio total. Intervalo. 

A terminar a CPI da Covid em pizza ou “se implodir”, como disse um determinado senador, em entrevista ao Brasil 247, caberá ao que restar do país a missão de erigir dois enormes monumentos: um em memória às vítimas do genocídio e outro àquilo que se tem normalizado por aqui: a banalidade do mal. 

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