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Igor Felippe Santos

Igor Felippe é jornalista e atua em movimentos sociais

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Governo Dilma quer enfrentar crise institucional abraçado com entidades patronais

A conta que o governo faz não fecha porque as entidades patronais estão tão enferrujadas quanto as engrenagens da política institucional. Kátia Abreu e Armando Monteiro Neto não controlam as máquinas partidárias nem representam as bancadas parlamentares

A conta que o governo faz não fecha porque as entidades patronais estão tão enferrujadas quanto as engrenagens da política institucional. Kátia Abreu e Armando Monteiro Neto não controlam as máquinas partidárias nem representam as bancadas parlamentares (Foto: Igor Felippe Santos)
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Um segmento de jornalistas, blogueiros e analistas políticos que tem feito avaliações sobre o novo ministério do governo Dilma Rousseff enxerga nas escolhas da presidenta uma estratégia do governo para consolidar uma base aliada no Congresso Nacional.

As indicações dos senadores Kátia Abreu (PMDB-TO) e do Armando Monteiro Neto (PTB-PE) teriam como objetivo amarrar seus respectivos partidos para aprovar projetos de interesse do governo e barrar as iniciativas da oposição.

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Meu amigo Luiz Carlos Azenha vê na matemática do Congresso a razão para as escolhas da presidenta, em uma conjuntura de redução da bancada do PT e crescimento da bancada ruralista.

“A bancada ruralista, de acordo com a Frente Parlamentar Agropecuária, tem o potencial de atingir 257 dos 513 deputados, ou 50% do Congresso. Além disso, o PMDB não é um parceiro confiável. Mais ainda, estamos diante de uma investigação da Petrobras cujo futuro é impossível prever. Por isso, do ponto de vista de sobrevivência política — friso, da matemática do Congresso –, faz todo o sentido indicar Kátia Abreu, do PMDB, para o ministério”, escreve Azenha (clique aqui para ler).

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No entanto, o que intriga é que os senadores escolhidos não parecem ser os melhores nomes para consolidar a base parlamentar do governo.

Filiada ao DEM, Kátia Abreu foi uma dura opositora do governo Lula. Na transição para o governo Dilma, entrou para o PSD. Depois, foi para o PMDB, se aproximando da presidenta e fazendo um movimento calculado para se cacifar para o ministério.

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Assim, Kátia Abreu é considerada uma “cristã nova” na bancada do PMDB, que não assumiu a indicação dela para o Ministério da Agricultura. Dilma está fazendo um esforço para incluí-la na cota do partido, mas existe a possibilidade dela entrar na cota pessoal da presidenta. Além disso, a ruralista ficou isolada na Frente Parlamentar da Agropecuária, com a aproximação com o governo.

O caso de Armando Monteiro Neto não é muito diferente, já que ele faz parte de uma ala minoritária do partido que defende a proximidade ao governo. A maioria da direção do PTB de Armando Monteiro Neto deu apoio formal a Aécio Neves na eleição presidencial. Derrotado no partido, o empresário aliado ao PT em Pernambuco apoiou a presidenta Dilma.

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Kátia Abreu e Armando Monteiro Neto não controlam as máquinas partidárias nem representam as bancadas de parlamentares de seus partidos. Embora os ministérios e os benefícios que podem ser concedidos funcionem como um ímã para atrair deputados e senadores, esses não são os melhores nomes para consolidar a base do governo.

Dilma sabe dessa situação e, mesmo assim, optou por essas personalidades, que tiveram fidelidade à presidenta em um momento de divisão dos seus partidos. No entanto, a razão para a nomeação desses nomes parece que está fora do Congresso Nacional.

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Se a dupla não ocupa papel de destaque nos seus partidos, tem bastante influência nas suas entidades de classe, a CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e a CNI (Confederação Nacional das Indústrias). Aí está a chave para entender as nomeações.

A definição do nome do Ministério da Fazenda trilhou o mesmo caminho. O primeiro nome na lista era Luiz Carlos Trabuco, presidente do Banco Bradesco, que ocupa o Conselho Consultivo da FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos). O comandante do banco Lázaro Brandão não liberou o preferido de Dilma, mas indicou e emplacou Joaquim Levy no posto.

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Dilma parece estar mais preocupada em agregar as principais entidades empresariais do país ao governo do que com os deputados e senadores. Por quê? Porque a Operação Lava Jato vai demolir o Congresso Nacional. Ainda não se sabe quantos parlamentares serão atingidos pelas investigações, mas as especulações apontam de 80 a 250 deputados e senadores citados pelos delatores.

O governo tem essas informações e está construindo um andaime para além do Congresso para garantir sua sustentação para enfrentar a demolição, que começará com uma crise profunda do Parlamento, apimentada com a eleição do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) para a presidência da Câmara.

A tática da presidenta Dilma para enfrentar o vendaval que virá com a Operação Lava Jato é garantir a sustentação do governo por fora do sistema político, se equilibrando nas entidades dos banqueiros, dos industriais e dos fazendeiros.

Em vez de negociar com intermediários (deputados e senadores), a presidenta abre seu governo para representantes orgânicos do poder econômico, que financiam as campanhas dos parlamentares, com a expectativa de aplacar uma ofensiva dos setores conservadores no quadro de uma crise institucional.

A conta que o governo faz não fecha porque as entidades patronais estão tão enferrujadas quanto as engrenagens da política institucional. Tanto a CNI como a CNA passaram por um processo de burocratização, que cria um fosso com suas bases e mantêm no comando figuras que se confundem com o sistema político-partidário.

O principal símbolo dessa fusão é o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo ), Paulo Skaf, que tem colocado seus interesses pessoais à frente da entidade que comanda, criando fissuras no seio da burguesia industrial paulista.

A Febraban representa um punhado de banqueiros e atua mais nos bastidores, então não são tão visíveis os elos dos banqueiros com os políticos. No entanto, as tabelas do TSE com as contas dos partidos demonstram o volume de recursos destinado para o financiamento das campanhas eleitorais…

A crise do sistema político que demolirá o Congresso Nacional, com o impacto das investigações da Operação Lava Jato, terá como efeito dominó um vendaval nas entidades patronais que estão associadas ao modelo institucional vigente desde a Constituição de 1988.

Assim, o governo deveria se escorar e fortalecer as organizações progressistas, movimentos sociais, centrais sindicais e entidades estudantis, que defendem a única proposta que responde ao quadro de crise generalizada das instituições: a convocação de uma Assembleia Constituinte Exclusiva do Sistema Político para fazer as mudanças que um Congresso submetido ao poder econômico não tem capacidade para realizar.

Ao entregar o ministério aos representantes dos banqueiros, latifundiários e industriais, Dilma desgasta o patrimônio político construído no segundo turno e perde força no campo progressista, que pode sustentar a democracia ao pressionar o governo a dar um passo à frente com a convocação de uma Constituinte, para desatar o nó das reformas estruturais.

O horizonte político é bastante nebuloso e o céu está fechando. O governo Dilma admite a gravidade da crise que virá ao construir um andaime para além do Congresso para sobreviver diante do quadro de instabilidade institucional, mas ao se agarrar às entidades patronais terá pouca capacidade de resistência e pode levá-las junto para o buraco negro da política brasileira.

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