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Tarso Genro

Advogado, político filiado ao Partido dos Trabalhadores, foi governador do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre, ministro da Justiça, ministro da Educação e ministro das Relações Institucionais do Brasil

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Governo real e exército político

(Foto: Divulgação)
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“Acordo com a Europa exigirá renovação industrial no RGS. Aproximação entre Mercosul e União Européia é vista com otimismo pelo setor e deve estimular modernização, para que as fábricas possam competir no mercado externo”( 2 de jul. ZH); “Indústria perde fôlego e fecha vagas no Estado” (6,7 de jul. ZH); “Deca e Nestlé demitem 500 no Estado” (2 jul. C. do Povo);  “Mercosul ganhou?”. (Juremir, 3 de jul. C.do Povo); “Brasil é a virgem que todo o tarado quer”. (Pres. Bolsonaro, Globo, 7 jul). Estas notícias são meias notícias e como tal meias informações que distorcem a realidade para quem as lê sem atenção para o seu contexto.

O acordo que exige renovação industrial é visto com otimismo porque estimula a modernização no RS? Estimular a modernização é causa de otimismo? Para quem? Para quem já é moderno ou para quem quer se modernizar sem meios? (Como, se foram liquidados os órgão de produção, inovação e pesquisa, em todos os poros do Estado?) A indústria perde fôlego e fecha vagas no estado? (Porque isso ocorre?) Não será porque foi arquivada a primeira experiência de política industrial e desenvolvimento econômico do Estado, de forma combinada com a ausência de uma politica industrial no país?) Porque a Deca e a Nestlé demitiram 500, se o Estado está sendo salvo pelas privatizações que irão financiar nosso desenvolvimento? Perderam a confiança? Mercosul ganhou? (Enfim uma pergunta séria, que está vinculada a todas as demais.)

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Sugiro, por oportuno, a leitura do livro “Remando contra Maré”, cuja foto ilustra este artigo, para que possamos fazer um debate sério sobre o futuro industrial e econômico do Rio Grande, livres dos especialistas que fazem a apologia do desastre.

As informações acima destacadas, transmitidas por jornais da grande imprensa, através de manchetes que conectam apreensões e fatos – aqui do Rio Grande – com o Brasil e com o mundo, são significativas para entender o que hoje ocorre no país. Elas são simbólicas da manipulação midiática que a Globo vem promovendo, “batendo” e “assoprando” em Bolsonaro, em nome de um projeto bem concreto: passar para controle dos bancos e agências financeiras uma futura poupança dos trabalhadores, captada no sistema de capitalização, hoje já adernando no Congresso Nacional. Somos reféns de Bolsonaro porque ele derrotou Haddad (e isso era a solução para o Brasil crescer) e ele, Bolsonaro, é refém da Globo (que pode derrubá-lo quando quiser), tanto se ele fizer, ou se não fizer, a reforma da Previdência.

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As matérias referidas e ora criticadas como incompletas e sem nexo mostram que, de um lado, o grau de manipulação da informação que assola o país é assustadoramente “científico”, aliás processado normalmente não pelos jornalistas que as assinam, mas  pelas editorias que organizam o “conjunto da obra”, diretamente articulados com os donos da grande imprensa no país. Cada uma destas matérias -lidas de maneira isolada- não dizem nada demais, nem informam nada de maneira alarmante. Vistas, todavia, dentro de cada etapa que o extremismo de direita percorreu até agora – com a complacência do
oligopólio da mídia – elas têm um enorme significado: consagram como  “normal” o nosso país ter um Presidente que diz que o “Brasil é a virgem que todo o tarado quer.”

A linha dos jornais que venderam a alma ao liberal-rentismo, obedeceram as seguintes etapas, dentro das quais podem ser entendidas matérias que às vezes parecem ser ingênuas ou piegas, mas que distorcem informações relevantes ou suprimem – elegantemente – as causas de cada “problema” que estão noticiando. Para entender as mencionadas “ingenuidades”, as matérias devem ser compreendidas que trajeto a imprensa tradicional percorreu, para nos legar esta tragédia humana e política na Presidência da República.

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Na primeira etapa -na qual  ajudaram eleger Bolsonaro como Presidente- assumiram a tese velada ou explicitamente dos dois radicalismos, como se Haddad e Bolsonaro fossem a “mesma coisa” com sinais inversos. Aqui nesta etapa ajudaram – por exemplo – a tornar irrelevante a gravidade da famosa manipulação da “mamadeira de piroca” – decisiva para a derrota de Haddad – e consagraram que a “guerra” era entre a “extrema-esquerda” e a “extrema direita”; na segunda etapa -depois da eleição- promoveram a “naturalização” dos surtos de psicose autoritária e violenta do Presidente eleito, colocando em primeiro plano a necessidade da reforma da previdência, pois sem ela seria o caos. Nesta etapa também convenceram as próprias vítimas da reforma que elas seriam responsáveis pelo caos do país, se a reforma não passasse.

Finalmente, numa terceira etapa -mascarando a brutal crise que vive o país- foram diluindo as promessas de crescimento e emprego, a ponto de jogar no lixo as suas previsões de que bastaria prender
Lula e afastar o PT, que o Brasil seria encaminhado para bonança. A dura realidade é bem outra: os fragmentos de informação que hoje publicam – combinados com as grossuras nacionais e internacionais que o Presidente “desregulado” comete- mostram que o sofrimento dos pobres recém começou e o enriquecimento dos 0,5% de ricos vai aumentar.

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O Governo real do Brasil não é Bolsonaro. Ele é um “exército” de personalidades da grande mídia, articulados com os setores capitalistas mais atrasados e ignorantes (como o “véio da Havan”), os donos de agências financeiras privadas com suas ligações políticas, burgueses rentistas, grupos de parlamentares ligados aos partidos tradicionais, quase sempre vinculados aos magnatas evangélicos das religiões do dinheiro. Este é o Governo real  que controle, forma a opinião e faz pauta dos fetiches necessários da transição proto-fascista a que estamos submetidos.

As informações da Intercept podem não derrotar este exército político que controla o país, mas seguramente causará nele uma sensação derrota, porque a sua desmoralização já é gigantesca. Sebastian Heffner no livro “A Revolução Alemã” (Edição da Perseu Abramo,2018) lembra que a liderança de um exército derrotado (ou que se pensa derrotado) “não pensa mais no interesse do país que não pode mais protegê-lo, mas pensa apenas em si mesmo  e em como manter a sua honra militar intacta. Foi assim na França de 1940. Foi assim na Alemanha de 1918.”

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Se este Governo real que funciona como um exército armado de argumentos manipulatórios se sentir derrotado, não vai conciliar. Vai radicalizar. Quem corteja e promove um Presidente como Bolsonaro, para manter os cordéis do poder nas suas mãos, é capaz de tudo. Quem sabe até mesmo transferir
para ele o poder real, através de uma ditadura, daí sim abertamente fascista.

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