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Wilson Luiz Muller

Integrante do Coletivo Auditores Fiscais pela Democracia (AFD)

33 artigos

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Guedes é o deus da nuvem de gafanhotos

Guedes é o cara. Ele pode falar a asneira que quiser. Nenhuma voz importante do establishment vai se levantar para contestá-lo. Se os analistas acham que Guedes fala essas asneiras porque ele não entende como a economia e o Estado funcionam, teriam que alertar as corporações privadas e as autoridades governamentais que a economia do país está entregue a um perigoso ignorante que não tem a mínima ideia do que está fazendo

(Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
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Guedes é o cara. Ele pode falar a asneira que quiser. Nenhuma voz importante do establishment vai se levantar para contestá-lo. Há um ano Paulo Guedes falou que a carga tributária ideal para o Brasil seria de 20%. Era de se esperar que todos os analistas econômicos questionassem o ministro sobre tamanho disparate, pois a proposta significaria retirar da União, Estados e Municípios mais de 40% dos recursos de que dispõem. Se já está difícil hoje, como seria com 40% a menos? 

Se os analistas acham que Guedes fala essas asneiras porque ele não entende como a economia e o Estado funcionam, teriam que alertar as corporações privadas e as autoridades governamentais que a economia do país está entregue a um perigoso ignorante que não tem a mínima ideia do que está fazendo. Pois é muito grave que o principal ministro de uma das maiores economias do mundo proponha algo completamente inexequível, com consequência trágicas para a sociedade.

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Mas se os analistas acreditam nas coisas que o Paulo Guedes fala, então é mais grave ainda. Isso seria uma demonstração de que segmentos importantes de pessoas instruídas foram idiotizadas pela repetição exaustiva de jargões de um liberalismo que não deu certo em nenhum lugar do mundo.

Além de falar asneiras, revestidas de uma falsa erudição, Paulo Guedes também mente descaradamente. Disse, no mesmo evento em que chamou os servidores públicos de parasitas, que eles recebem aumentos de 50% acima da inflação. Fosse uma declaração de um famoso ex-presidente, todos os veículos da mídia corporativa iriam dar manchete no dia seguinte mostrando a mentira. Nem que fosse para dizer que errou por 0,8%.  No caso de Guedes, seria fácil mostrar que inúmeras categorias do serviço público sequer tiveram a reposição de suas perdas salariais.

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Guedes disse também que o governo gasta 90% da receita com salários, quando na verdade o gasto com o funcionalismo representa 20% do orçamento. Mas ninguém na grande mídia dá importância a isso. O que sai da boca de Paulo Guedes ninguém vai conferir. Paulo dito é Guedes escrito. E não se fala mais nisso. Para a grande mídia, Paulo é a verdade que liberta. Liberta os bilionários. Liberta-os de qualquer compromisso que não seja o da busca incessante – a qualquer preço – da maximização dos ganhos de uma minoria privilegiada às custas da precarização e retirada de direitos de milhões de trabalhadores.

Como e por que Paulo Guedes chegou a ser a voz da “unanimidade nacional” ecoada pela grande mídia corporativa?

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Os historiadores vão explicar isso dividindo a vida econômica e social do país em duas eras. Na era pré-Guedes, a doutrina liberal ensinava que o mercado era autorregulado pelas mãos invisíveis do mercado. Ninguém sabia direito o que isso significava, mas as pessoas eram levadas à conclusão de que o mercado era algo semelhante a um deus que age no silêncio em benefício de todos. Na era pós-Guedes, todos passaram a entender que o mercado eram os interesses de um número muito pequeno de bilionários, sócios de Guedes, ele mesmo um bilionário. E mais: que quando Guedes falava, ele não podia ser contestado pela mídia corporativa, pois também os donos dessas mídias eram sócios do clube dos bilionários. 

Na era pós-Guedes, ele não fala mais em nome do deus mercado. Ele simplesmente é. Mercado e Guedes fundiram-se numa coisa só. O mercado capitalista deixou de ser regido por mãos invisíveis para ser operado pelas mãos visíveis e ágeis do próprio deus Guedes. 

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Como explicar isso de uma forma didática?

Guedes foi muito didático ao comparar servidores públicos a parasitas. O objetivo dele, visivelmente, era reforçar na opinião pública o sentimento de aversão por uma categoria de trabalhadores que ainda consegue manter um salário decente e ter seus direitos garantidos. Essa metodologia de identificar inimigos do povo a serem destruídos era muito empregada por Joseph Goebbels, ministro de propaganda do partido nazista de Hitler.

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A alegoria goebbelsiana-guedista (com a permissão da liberdade não tão poética) insinua um organismo doente que precisa destruir o parasita para poder se curar. Evidentemente, o diagnóstico da doença é falso, o que acaba por tirar qualquer valor das formulações propostas pelo ministro.

Mas a alegoria  goebbelsiana-guedista me trouxe à mente imediatamente uma outra, que é motivada por desequilíbrios ambientais, retratado inclusive na bíblia cristã como uma das dez pragas que acometeram o antigo Egito. 

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A alegria da praga dos gafanhotos pode representar muito bem a situação que estamos vivenciando. Quando ocorre o desequilíbrio, nuvens imensas de gafanhotos começam a devorar tudo o que encontram pela frente, deixando um rastro de destruição atrás de si. Há no país uma nuvem de gafanhotos crescendo a olhos vistos. Seus lucros são fantásticos. Seu egoísmo e sua ganância são infinitos. Estão felizes e empolgados. Não olham para trás para ver o que restou. Olham somente para frente. Os olhos vidrados em busca de novas plantações a serem devoradas. Escolheram Paulo Guedes como seu general, seu ministro da propaganda, seu deus. 

O grande general da nuvem de gafanhotos tem batedores espertos em frentes avançadas para prospectar o terreno e mandar notícias sobre a descoberta de novas lavouras. Eles mandam os boletins, que passam a ser difundidos com prioridade máxima nas redações das mídias corporativas: petróleo do pré-sal pode ser vendido para empresas estrangeiras! E vai a nuvem de gafanhotos para cima da Petrobras. 

Dataprev e Serpro precisam ser privatizados! E a nuvem de gafanhotos toma posição para atacar as empresas que têm os dados pessoais dos cidadãos brasileiros. O chefe da nuvem escala o secretário de privatização – e não por acaso dono da Localiza - Salim Mattar para atacar e demitir servidores. Ele posta orgulhoso  as redes sociais sua façanha de demitir 500 servidores de uma só vez. Se o servidor reclama, ele diz que desemprego não é problema; que é uma oportunidade para o demitido virar empreendedor. Como? Pergunta o desesperado demitido. Vire motorista de aplicativo, orienta Salim. Mas não tenho dinheiro, responde o desamparado servidor. Mas eu tenho, diz Salim. E tenho automóveis para te alugar, é uma pechincha, só R$ 1.500 pau por mês. O desempregado, sem opção, aceita. É promovido a empreendedor sem carteira assinada, sem direito trabalhista e sem aposentadoria. Trabalhará uma dupla jornada para ganhar um pouco menos do que paga ao Salim. E assim fica bom para todo mundo, diz Salim. Não falei que desemprego não é problema? Bem pensado, é uma boa solução.

E assim a nuvem de gafanhotos, orientada por seus batedores e propagandistas, comandado pelo deus Guedes, vai devastando tudo por onde passa.

E daí vemos essas manchetes se multiplicando nas grandes mídias: “Ganhos na bolsa de valores superam os 30% em 2019”; “Bradesco anuncia lucro recorde de R$ 25 bilhões em 2019”, “Localiza tem lucro recorde pelo terceiro trimestre consecutivo”.

É o resultado  do trabalho da nuvem de gafanhotos. As gorduras acumuladas precisam ter algum destino. E não poderia haver um destino melhor para o fruto do saque promovido pela nuvem do que a bolsa de valores, onde ninguém produz nada e os lucros médios são da ordem de 30%. Dado que os pequenos investidores conseguem rendimentos menores, fica barato considerar que alguns gafanhotos mais gordos tenham tido lucros superiores a 40 % em 2019, enquanto os mais pobres ficaram visivelmente mais pobres. 

Porém, não há mal que para sempre dure. Todas as grandes pragas de gafanhotos tiveram fim um dia. Grandes nuvens morreram de uma hora para outra porque não tinham mais plantações novas para devastar e nenhum proveito puderam extrair de toda gordura artificial que tinham acumulado no seus anos de compulsiva ganância. Outras morreram vítimas de doenças provocadas pelo excesso de voracidade e crescimento exacerbado.

Paulo Guedes está sendo muito criticado pela fala parasita. Mas ele não é um Alvim da propaganda nazista do marxismo cultural. Nada de grave acontecerá ao Paulo. Paulo Guedes é, no sentido filosófico absoluto.

De qualquer forma é preciso agradecer ao Paulo Guedes pela sincera alegoria biológica. Talvez pela analogia das alegorias seja mais fácil o povo entender o que está acontecendo.

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