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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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Guerra de comadres

A ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República se fez acompanhar de crises que parecem chegar ao limite – e não chegam

O poder militar no governo Bolsonaro. (Foto: Fernando Frazão/Agencia Brasil)
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Se tivéssemos que definir o perfil do atual governo, facilmente poderíamos dizer que vivemos à beira de um ataque de nervos. A ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República se fez acompanhar de crises que parecem chegar ao limite – e não chegam. Limites em termos de um sistema na administração superior implicam em ameaças de distúrbios administrativos atingindo a sustentabilidade do regime - e os seus desmembramentos conhecidos. De início, tratava-se de uma estratégia. Para a perplexidade geral, nosso mais alto dirigente, temendo a intensidade das oposições, forçava-se a tomar a ofensiva, ainda que, de fato, nada e ninguém o ameaçasse. 

Agora, deu-se um passo adiante. Sabe-se da tentação golpista de quem detém o poder das armas. É gente que se entende além do voto popular, como se houvesse recebido um mandato entre as fórmulas pétreas da Carta Magna, que, na Constituição de 1988, jamais existiu. Por insegurança e para garantir-se no poder, a administração central imaginou se garantir ocupando os cargos dos seus organogramas, com pessoas do Exército. Ele mesmo, de patente inferior, encheu o seu círculo de assessores, além dos filhos, de quadros de alta patente. Foram saindo os civis; entraram os fardados, da reserva ou da ativa. No Ministério da Saúde não houve exceção. A nação, em plena pandemia, perdeu os médicos para enfrentá-la e, em doses cavalares, precisou engolir os militares. Claro que um dia, alguém se manifestaria contra, ainda mais que os números de atingidos crescem assustadoramente. 

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O Ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, transformando-se em porta-voz da opinião pública, consignou a sua indignação frente a uma estratégia que não protege a população e, ao contrário, acrescenta a intensidade dos perigos. Caminhamos, com efeito, para um genocídio e os militares se associam ao massacre. Foi o bastante para que o Sr. Fernando Azevedo e Silva, Ministro da Defesa, se juntasse a outro general, o sr. Augusto Heleno Ribeiro Pereira, para, através de nota, ambos pedissem retratação. Já ficamos novamente à beira de um ataque de nervos. Não se discutia então o surto viral ou as medidas empregadas para combatê-lo. Estufavam o peito, como dois ofendidos, porque os associavam institucionalmente à noção de genocídio. Genocídios (cabe recordar) ocorreram mais de uma vez na formação da sociedade brasileira: contra os indígenas, contra os negros africanos (escravizados, ou não terá sido contra eles genocídio?) e, num passado recente, depois de 1964, novamente contra os indígenas para atender ao desejo da luta pela posse da terra em favor do agronegócio. Ações de ordem militar contra o banditismo atingiram, com frequência, pessoas inocentes. Não representam genocídio? Olhemos as estatísticas…

Lamentavelmente, a razão se encontra com o Ministro Gilmar Mendes. Os generais zangados se exibiram como as comadres da tradição popular, engajadas numa guerra pessoal e se digladiando, enquanto o próprio companheiro de farda, de baixa patente, toma doses de uísque com pitadas de cloroquina. Não se curará com ela, condenada pela OMS como ineficaz para este tipo de doença. Precisará de seu corpo atlético para não passar o cargo ao outro general, o Hamilton Mourão, a postos, em estado de continência, para ocupá-lo.

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