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Paulo Moreira Leite

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Guru de Bolsonaro admite: “Vamos fazer o que Temer está fazendo”

"Ao admitir na Globo News que Bolsonaro nada mais pretende do que ser a continuidade 'mais rápida' de Temer, seu guru econômico escancara a grande farsa da campanha presidencial", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; "Apresentando-se como inimigo radical do sistema de poder no país, Bolsonaro planeja dar sequencia ao programa que destruiu o país, quebrou a CLT e o petróleo e demais riquezas ao estrangeiro"; para PML, "Paulo Guedes deixou claro que planeja continuar a reforma da Previdência, repudiada pela maioria dos brasileiros, mas sugere deixar o debate para depois da eleição, pois é óbvio que irá prejudicar Bolsonaro" 

Guru de Bolsonaro admite: “Vamos fazer o que Temer está fazendo”
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Homem-chave de Jair Bolsonaro para assuntos econômicos, o economista Paulo Guedes fez uma confissão assombrosa à GloboNews.

Anunciou que, em caso de vitória, o plano do novo governo será liquidar integralmente o imenso patrimônio de empresas públicas que os brasileiros construíram desde a Independência -- a Caixa Econômica foi fundada pelo imperador Pedro II em 1861 -- para entregar ao mercado. Considerando o tamanho da riqueza a ser oferecida, inacessível ao empresariado brasileiro, estamos falando -- sem retórica -- da criação de uma colônia de 8,5  milhões quilômetros quadrados na América do Sul. 

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Sem rodeios nem subterfúgios, como se não tivesse receio de provocar indignação, admitiu: "Vamos fazer o que Temer vem fazendo, só que mais rápido" disse.  

Não é fake news. Está gravado e você pode rever no youtube. Foi reproduzido (24/8/2018) na coluna de Miriam Leitão, no Globo.

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Ao definir o programa econômico de Bolsonaro como continuísmo de Temer, seu guru econômico escancara a identidade real do capitão candidato que, com um discurso anti-sistema radical, defende a continuidade do programa que destruiu o Brasil.  

Empresário do mercado financeiro, um dos fundadores do Millenium, gigantesca articulação de empresários que opera nos bastidores da política brasileira desde os protestos de 2013, aí incluído o golpe que derrubou Dilma, o economista de Bolsonaro quer vender tudo e mais depressa, da Petrobras ao sistema elétrico, dos bancos públicos a Embraer. Também quer derrubar as clausulas constitucionais que protegem gastos públicos essenciais, como saúde, educação. Acha que a reforma trabalhista foi pouco. O plano é acabar com a própria carteira de trabalho, que seria um simples registro das clausulas acordadas -- sem com cada patrão e cada empregado. 

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A  prioridade aqui não é investir na criação de empregos nem projetos de desenvolvimento de um país soberano. Garantias constitucionais, que vinculam gastos  com saúde, educação, devem ser derrubadas. Tudo deve ser embrulhado e vendido, inclusive 700 000 imóveis da União, na esperança de se reunir R$ 2 trilhões, que seriam repassados ao credores do governo.

Estamos no país-mercadoria. 

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A bússola é a velha lenda de criação do Estado Mínimo, processo histórico de esvaziamento do bem-estar social iniciado por Ronald Reagan e Margareth Tatcher nos países ricos a partir de 1980, mas que o Brasil conheceu de perto nos anos da Republica Velha, aquele sistema no qual as riquezas nacionais eram entregues para Europa e Estados Unidos. Ao contrário do que ocorre hoje, quando 147 milhões de brasileiros -- 70% da população -- tem direito a voto, naquele tempo apenas 7,15 % estava apta a votar e menos ainda -- entre 3 e 6% -- conseguia ir às urnas. A ordem interna, naturalmente, era um caso de polícia. Sindicatos enfrentavam perseguição constante, os partidos de esquerda também. 

Um exemplo fundamental do estilo "mais rápido que Temer" encontra-se na Previdência Social, esse sistema que responde pela velhice da maioria dos brasileiros e assegura a renda de 18,5% das famílias (23,7% no Nordeste). Sabemos que apenas o medo do  repúdio por parte do eleitorado impediu o Congresso de votar a reforma da Previdência que Temer-Meirelles haviam prometido aos patrões da coalizão golpista.

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O plano do economista de Bolsonaro  não é fazer ajustes em função do envelhecimento da população nem outros acertos que até poderiam ser justificados para preservar um sistema que a maioria dos brasileiros tem interesse em preservar. A ideia é transformar a  Previdência num sistema de poupanças individuais, chamado capitalização, quebrando o regime atual, de repartição, que permite a transferência de renda entre gerações e, em certa medida, entre as camadas melhor remuneradas para as mais pobres. Isso explica porque trabalhadores de renda mais baixa conseguem obter rendimentos semelhantes aqueles que recebiam na ativa, enquanto assalariados de níveis mais elevado -- com exceção do funcionalismo, do judiciário e dos militares -- não podem ultrapassar um teto definido previamente. Este é o jogo e seu nome é bem-estar social. 

Pelo sistema de capitalização, cada um tem sua conta -- e cada um guarda recursos conforme sua disponibilidade. A aposentadoria fica ao sabor do mercado e torna-se um negócio bilionário para as instituições privadas e uma incerteza para quem for buscar seus recursos mais tarde. Só para se ter uma ideia. A soma de benefícios pagos pela Previdência brasileira, hoje, equivale ao total do sistema de créditos do Itaú, maior banco privado brasileiro. 

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Deixando claro que, mesmo com o monopólio da mídia a seu lado, falar em Previdência antes das eleições pode ser um golpe fatal nas campanha de Bolsonaro, Paulo Guedes sugere um golpe pelas costas. Esperar pelas eleições em silêncio e tentar aprovar a mudança depois da votação, nos dois últimos meses de 2018 -- quando o eleitorado está sem condições de usar as urnas para se defender, como acontece até aqui. 

É útil observar que o espírito anti-democrático de uma mudança crucial na vida dos brasileiros tem relação direta com a natureza da reforma em questão, um projeto elitizante que o sistema de capitalização só foi criado no Chile sob a ditadura de Augusto Pinochet, após um golpe militar que produziu 30 000 mortos.  

Não surpreende que Paulo Guedes tenha feito parte da equipe econômica de Pinochet e em 2017 seja capaz de referir-se ao Chile como a "Suiça latino-americana". Este termo elogioso era apropriado durante os anos 1960 para designar uma nação que preservava os valores da democracia num quadro social tipicamente latino-americano. Essa visão caiu em desuso após 17 anos de uma ditadura inaugurada pelo fuzilamento e tortura de adversários no Maracanã de Santiago. 

Com uma retórica típica de um conservadorismo que tenta ganhar votos de qualquer maneira, o "Temer mais rápido"  argumenta que o desmantelamento do Estado irá permitir ao governo concentrar-se na "vontade do povo", referindo-se a prioridades como "saúde, educação, saneamento". Claro que não falou do Mais Médicos. Nem lhe perguntaram sobre o voto do candidato Bolsonaro, que ajudou a derrubar a CPMF que sustentava a saúde pública.  

Quando lhe perguntaram  sobre a cobrança de mensalidades nas universidades federais, o economista de Bolsonaro já pensou num jeito de tirar dinheiro do bolso do povo. Empresário que já teve investimentos na Abril Educação, de ensino privado, respondeu: "Quem pode pagar deve pagar", disse ele, repetindo uma formula sob medida para confundir uma massa de brasileiros inconformados com a desigualdade social e facilidades reservadas ao andar de cima. Não  há dúvida de que essa ideia pode dar a impressão de diminuir uma injustiça. 

Basta refletir por um minuto, porém, para compreender que apenas contribui para institucionalizar a desigualdade no acesso ao ensino superior e reforçar as distancias sociais, pois implica na criação de novas barreiras aos mais pobres e mesmo a setores de classe média,  que,  com grande sacrifício, conseguem colocar seus filhos nas universidades. 

Previsto pelos acordos do regime de 64 com o governo dos Estados Unidos, a mobilização para derrotar o ensino pago foi uma das grandes vitórias da geração de 1968 na luta contra a ditadura.   

Os dados da situação atual estão aí. No Brasil de 2017,  43% dos alunos das universidades federais tem origem nas classes C, D e E, patamar que chega a 69% na região Norte e 55% no Nordeste. Mesmo reconhecendo que se trata de um quadro escandaloso diante da proporção de ricos e pobres da sociedade brasileira, é impossível deixar de reconhecer o progresso ocorrido com o passar dos anos, reforçado por programas de cotas e outras formas de acesso. A alternativa do candidato de Bolsonaro, próxima a migalhas, envolve a distribuição de vauchers, sistema precário e descompromissado.  

É sintomático que, justamente num período histórico no qual os estudantes das camadas mais pobres começam a ingressar em maior quantidade nas universidades públicas,   o economista de Bolsonaro, empresário com investimentos de vulto no ensino privado, apareça com uma nova linha de corte, para favorecer quem tem dinheiro.

Nenhuma surpresa num projeto que pretender "fazer o que Temer está fazendo". Alguma dúvida? 

 

 

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