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Luis Costa Pinto

Luis Costa Pinto é jornalista, escritor e consultor na Ideias, Fatos e Texto. É também membro do Jornalistas pela Democracia. Twitter: @LulaCostaPinto, Facebook: lula.costapinto

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Gustavo Bebianno não é Pedro Collor

"Bebianno não reúne o arsenal de informações pessoais que Pedro tinha em mãos, nem possui a picardia de deter uma história que contenha até magia negra e traições familiares", escreve Luís Costa Pinto, do Jornalistas pela Democracia, lembrando, porém, que Bebianno "detém um livro de histórias obscenas em seu cofre pessoal"; para ele, o ministro prestes a ser demitido "parece, e muito, com Roberto Jefferson pré-entrevista para Renata Lo Prete em 2005"

Gustavo Bebianno não é Pedro Collor
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Há quem enxergue simetria entre o momento atual do governo Bolsonaro e aquele vivido por Collor nas semanas que antecederam a publicação da entrevista de Pedro Collor à Veja. No caso atual, Gustavo Bebianno encarnaria o papel do irmão do então presidente.

Não encontro tantas semelhanças nem na conjuntura, nem nos personagens, nem na perspectiva de desfecho.

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Antes de mais nada, por causa do timing de governo: Collor caiu a partir das denúncias do irmão, mas não só por causa delas, quando seu governo estava na metade e já havia queimado vários cartuchos do arsenal político. Bolsonaro está vivendo o 1o bimestre de seu confuso mandato.

Em 1990, ao tomar posse e sequestrar poupanças e depósitos à vista, Fernando Collor promoveu uma ruptura com seu eleitorado e com boa parte dos empresários e executivos que o apoiaram. Tentou caminhar para o centro quando reformou sua equipe em 1991 e pôs o PFL e alguns licenciados do PSDB no ministério, expurgando gente como Zélia, Cabral, Egberto Batista, João Santana, entre outros. Jair Bolsonaro ainda não promoveu essa ruptura. Ao contrário, ao dividir-se entre a institucionalidade e a liturgia do cargo e as maluquices e pilantragens dos filhos, optando pelos filhos em detrimento do decoro da função para a qual foi eleito, tenta manter coeso o balaio disforme e disfuncional de elitores que nele votaram "contra tudo isso que está aí". Ante a evidente ausência de governabilidade dessa agenda desvirtuada entre a célula neopentecostal e a de maníacos pelos costumes alheios, os eleitores médios de Bolsonaro tendem no momento a insistir no erro que cometeram no último outubro: reafirmar apoio ao capitão deles. É possível que essa lua de mel comece a ruir a partir da manutenção dos altos níveis de desemprego e do início da tramitação da Reforma da Previdência no Congresso.

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Pedro era irmão de Fernando e, por conseguinte, tinha acesso às coxias do Palácio, da Casa da Dinda, dos negócios familiares e da vida paralela do então presidente. Bebianno sabe muito, mas sabe infinitamente menos do que Pedro.

Antes de dar sua entrevista-bomba, Pedro Collor foi fonte de uma série de reportagens que criaram o clima para o 1o grande ato do impeachment. Pedro investigou PC, forneceu um dossiê com fios da meada que levariam à destruição do ex-tesoureiro da campanha de 1989. Veja, à época uma grande revista capaz de investir nessas apurações, empenhou-se não só em coletar declarações - mas em correr atrás de provas. Democracia e jornalismo dão trabalho e têm custos. Naqueles tempos havia quem seguisse as regras de ambos desafios, o democrático e jornalístico, num by the book republicano.

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Bebianno não reúne o arsenal de informações pessoais que Pedro tinha em mãos, nem possui a picardia de deter uma história que contenha até magia negra e traições familiares. Pedro tinha um pouco de Sancho Pança querendo virar Dom Quixote.

Bebianno nasceu para Sancho Pança, nunca quis ser Quixote, mas detém um livro de histórias obscenas em seu cofre pessoal. A campanha de 2018, visto do prisma de quem a executou do lado vitorioso, foi obscena e sua prestação de contas foi uma ficção.

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O roteiro de Bebianno discrepa do de Pedro Collor. Ele não é Pedro Collor.

Bebianno parece, e muito, com Roberto Jefferson pré-entrevista para Renata Lo Prete em 2005. Foi essa entrevista que detonou aquilo que se convencionou chamar de "mensalão" e eu prefiro chamar de Ação Penal 470.

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Jefferson detinha segredos do caixa da campanha de 2002 e manipulava esse saber. Bebianno idem em relação ao caixa de 2018. Jefferson tinha a ousadia atrevida de Bebianno ao ameaçar estourar o que sabia - era pouco, mas era destrutivo como os bons venenos que matam em quantidades mesquinhas. Há um comando "follow the money" em curso, soprado por Bebianno para alguns jornalistas, e é isso o que eletriza quem está na ativa na mídia brasiliense.

Se quiserem escrever a história de Gustavo Bebianno, e não apenas uma repetição farsesca do que foram Pedro Collor e Roberto Jefferson, os repórteres que estão na escala dessa cobertura precisam correr atrás de provas e de papéis e esquecer um pouco o declaratório. Porque as declarações se prestam a tudo - sobretudo a acomodações negociadas. Papéis, provas e contraprovas, uma vez saídas das gavetas e dos cofres, jamais retornam à origem.

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Bebianno discrepa de Pedro e é similar a Jefferson.

É o que acho.

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