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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Hacker, o novo pretexto paramedidas de exceção contra a vaza-jato

"O fato é que, a julgar pela movimentação do ministro Sergio Moro para tentar criminalizar o jornalista Glenn Greenwald e interromper a divulgação dos seus diálogos na Lava-Jato pelo The Intercept, poderemos estar assistindo à implantação de uma nova ditadura, com a supressão, entre outras coisas, da liberdade de imprensa", diz o jornalista Ribamar Fonseca

(Foto: Marcelo Camargo - ABR)
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Estava na cara que a dupla Bolsonaro-Moro não iria ficar de braços cruzados assistindo, sem um gesto de reação,  o jornalista Glenn Greenwald demolir o atual ministro da Justiça com a divulgação dos seus diálogos secretos, que revelaram suas ações criminosas,  com os integrantes da Lava-Jato.  Todos suspeitavam, a partir de noticias  do site O Antagonista sobre  possíveis prisões de pessoas do The Intercept, que alguma coisa estava sendo tramada nos porões do Planalto, sobretudo depois da inesperada e não explicada viagem de Moro aos Estados Unidos. As suspeitas aumentaram depois que a líder do governo na Câmara dos Deputados, Joice Hassellman, declarou em tom de ameaça, ao jornalista americano,  que “a tua hora tá chegando”.  Quando a Policia Federal prendeu três hackers e os jornalões publicaram a mesma manchete, voltando ao tempo em que combinavam manchetes contra Lula e o PT,  as possíveis dúvidas desapareceram: a execução do plano, provavelmente elaborado durante a viagem de Moro aos Estados Unidos, no mesmo órgão que planejou a queda de Dilma e a prisão de Lula, estava sendo colocado em execução para impedir o prosseguimento da divulgação dos diálogos escabrosos nos subterrâneos da Lava-Jato. A partir de agora a prisão de Glenn e a sua deportação é só uma questão de tempo, considerando-se a portaria assinada por ele sobre imigração, com o número da besta bíblica (666), e o clima criado, propício  para aplicação da Lei de Segurança Nacional, a mesma que levou muita gente para a cadeia no tempo da ditadura militar.  

De acordo com a trama, visível até para um cego, já encontraram  um sujeito de Araraquara que teria hackeado o telefone do presidente Bolsonaro, o que foi logo convenientemente classificado como uma questão de segurança nacional, conforme a nota do Ministério da Justiça. O próprio Presidente, através das redes sociais, apressou-se em considerar o fato um “atentado contra o Brasil”. Pronto, estava armado o circo. Deixaram, porém, o rabo de fora, pois descobriu-se que o hacker acusado fez o seu post no tweet de Brasilia e não de Araraquara, onde reside, o que fez crescer as suspeitas de armação. Como aquela noticia de capa da Veja, de que uma seita terrorista planejava assassinar o presidente Bolsonaro, não colou, virando piada na internet, era preciso criar um novo fato que justificasse medidas de exceção, em nome da segurança nacional. Como até hoje muita gente não engoliu a história da “facada” em Juiz de Fora – até o deputado Alexandre Frota, aliado de Bolsonaro, estranhou a sua desistência de investigar Adélio, o suposto agressor – essa história dos hackers está sendo encarada com muita desconfiança pela população. O jornalista Glenn Greenwald até já denunciou a farsa em redes internacionais, deixando claro que se ele vir a ser preso é sinal de que o Brasil se transformou efetivamente numa ditadura, sem liberdade de imprensa, um perigo para todos os jornalistas do país. Se isso se confirmar, resta saber como reagirão os jornalões brasileiros, especialmente os veículos que fizeram parceria com o The Intercept para divulgar os crimes praticados por Moro na Lava-Jato.

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O presidente Bolsonaro, aliás, já havia sinalizado para o que está acontecendo agora quando, em discurso na inauguração do aeroporto de Vitória da Conquista, tentando atenuar os efeitos da sua agressão aos governadores nordestinos, disse: “Não temos preconceito contra ninguém, mas temos uma profunda repulsa por quem não é brasileiro”.  É óbvio que essa repulsa a estrangeiros não passa de um recado cifrado para Greenwald, pois o capitão-presidente idolatra o estrangeiro Donald Trump. Ou será que Trump já se naturalizou brasileiro? Por outro lado, resta saber, também, como reagirão o Congresso e o Supremo Tribunal Federal caso haja uma ação concreta contra o jornalista americano. Ainda não se conhece o que pensa o Parlamento sobre essa trama, mas a Suprema Corte, segundo a Folha de São Paulo, está dividida entre os ministros que entendem que a prisão dos hackers em nada mudará a situação do ex-juiz e aqueles que o admiram como, por exemplo, Luiz Fux, Edson Fachin e Roberto Barroso. Isso significa que o caso poderá provocar acirrados debates naquela Corte, a não ser que Moro, que como juiz de primeira instância controlou o Ministério Público, a Policia Federal,  os tribunais superiores e a mídia, tenha ampliado os seus poderes como ministro da Justiça.  

Enquanto isso, nas ruas o povo questiona: se a Policia Federal foi tão eficiente para descobrir e prender os hackers por que até hoje não conseguiu encontrar Fabrício Queiroz, o ex-assessor do hoje senador Flavio Bolsonaro, considerado o seu laranja? Convocado para prestar depoimento sobre a movimentação de mais de R$ 1 milhão quando assessorava o filho do Presidente na Assembléia Legislativa do Rio, Queiroz não apenas ignorou solenemente o Ministério Público e a Policia Federal como, também, simplesmente sumiu sem deixar rastros. E talvez nunca será encontrado, porque o presidente do STF, ministro Dias Tóffoli, suspendeu todas as investigações sobre ele e o ex-chefe, hoje senador. Ninguém sabe nem mesmo o que aconteceu com a quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico de ambos, autorizado pela Justiça do Rio.  Aparentemente, Queiroz foi blindado por ser amigo dos Bolsonaro e poderá ficar tranquilo, sem ser incomodado, pelo menos enquanto durar o mandato do atual Presidente. E nem adiantaria alguém tentar recorrer ao Supremo, porque o ministro Dias Tóffoli, sempre presente e sorridente nos eventos promovidos por Bolsonaro, não parece disposto a desagradar o novo amigo do Planalto. E amizade, todo mundo sabe, é coisa séria e deve ser guardado do lado esquerdo do peito,  como escreveu o compositor Milton Nascimento.

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O fato é que, a julgar pela movimentação do ministro Sergio Moro para tentar criminalizar o jornalista Glenn Greenwald e interromper a divulgação  dos seus diálogos na Lava-Jato pelo The Intercept com claras medidas de exceção, como a Portaria 666,  poderemos estar assistindo à implantação de uma nova ditadura, com a supressão, entre outras coisas, da liberdade de imprensa. O ex-juiz de primeira instância, que se notabilizou pelo abuso  de autoridade e adoção de ações ilegais para atingir seus objetivos políticos, contando para isso com a cumplicidade das instâncias superiores do Judiciário, investido agora de maiores poderes como ministro da Justiça está jogando todo o peso do cargo para safar-se das denúncias que tornaram expostas as vísceras da Lava-Jato e, consequentemente, suas diatribes. Ele é muito  mais perigoso do que  a principio se pensava, conforme  lembrou Fernando Haddad, pois continua, como ministro,  infringindo a legislação ao conduzir as investigações da Policia Federal na qualidade de  principal investigado.  E ainda ameaçou destruir as provas coletadas pelos policiais com a prisão dos hackers. Moro, ao que parece, ficou desesperado ao ser desmascarado pelo The Intercept e está jogando o tudo ou nada. Seu futuro, depois de tudo isso, vai depender agora do Supremo Tribunal Federal.  

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