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Aderbal Freire-Filho

Diretor e autor teatral, ator e apresentador

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Hackers invadem discurso no whatsapp

São trechos fora de ordem, o que só vim a saber depois, ao ler sua íntegra nos jornais que apoiam a conspiração. No meu whatsapp ele começa assim: Agora, quando a Câmara dos Deputados decide por uma votação significativa declarar a autorização para a instauração do processo de impedimento contra a senhora presidente

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Também recebi por whatsapp o discurso do conspirador Temer (vocês entenderão porque o trato com certa impostação histórica). A mensagem veio intercalada com outros textos, certamente como consequência da confessada ingenuidade do conspirador no manejo de tecnologias avançadas. Na verdade, tão ingênuo não será. Tanto que não deixou que vazassem argumentos mais poderosos da conspiração, do tipo: quantos dinheiros para o deputado tal, que cargos oferecidos no pretendido novo governo, ameaças várias, as táticas para o fim definitivo de investigações incomodas para a quase totalidade (35) dos deputados apoiadores de primeira hora, etc.

Acredito que presto um esclarecimento útil a historiadores se transcrevo o discurso tal como chegou para mim. Isto é, com outros textos intercalados, assinados apenas com iniciais, provavelmente obra de hackers.

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Na verdade, a mensagem já começa com um desses textos, que de certa forma anuncia o discurso. Atribuídas a Cássio, assassino de Júlio Cesar, as palavras iniciais da mensagem trazem a assinatura WS, como se identifica o provável hacker. (William Shakespeare?)

Inclinemo-nos então e lavemo-nos no sangue dele/dela. Quantos séculos verão representar esta sublime cena em nações que ainda não nasceram e em línguas ainda desconhecidas.

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Em seguida, o discurso começa a aparecer. São trechos fora de ordem, o que só vim a saber depois, ao ler sua íntegra nos jornais que apoiam a conspiração. No meu whatsapp ele começa assim: Agora, quando a Câmara dos Deputados decide por uma votação significativa declarar a autorização para a instauração do processo de impedimento contra a senhora presidente.

Mal começado o discurso, e provavelmente provocadas pelo dom profético do conspirador, surgem palavras atribuídas ao profeta Tirésias, na tragédia Édipo Rei. O hacker dessa vez assina simplesmente S. (Sófocles?)

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Em minha opinião, a tua longa fala foi totalmente inoportuna para ti. E ouve bem: és o assassino que procuras. Manténs as relações mais torpes e sacrílegas, alheio a sordidez de tua própria vida.

Saltando os obstáculos da história, o discurso continua.

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Sabem todos que há mais de um mês eu me recolhi, exata e precisamente para não aparentar que eu estaria cometendo algum ato, praticando algum gesto com vistas a ocupar o lugar da senhora presidente da república.

Nova invasão de hackers. O mesmo WS digita no whatsapp palavras ditas por Macbeth, pouco antes de cravar um punhal nas costas do Rei Duncan.

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Eu deveria fechar a porta contra seu assassino e não empunhar a faca eu mesmo.

Assim, aos trancos e barrancos, o discurso do conspirador continua.

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Muitos me procuraram para que eu desse ao menos uma palavra preliminar à nação brasileira, o que faço com muita modéstia, com muita cautela, com muita moderação. 

Talvez a proclamada modéstia do conspirador tenha motivado uma nova invasão, dessa vez com palavras de Tartufo, o impostor. A assinatura do hacker é agora apenas a letra M. (Molière?)

Meus desejos esperam tudo de vossa bondade e nada esperam dos esforços vãos de minha insignificância.

Em seguida, vem a invasão mais peculiar, que corresponde a uma frase apenas do discurso. Esta:

Evidentemente, neste período, fui procurado por muitos que estão aflitos com a situação do nosso país.

O hacker pela primeira vez vai além de iniciais, se autodenomina Constantin Stanislavski e anuncia uma intervenção direta no discurso do conspirador. Fala em subtexto, uma técnica de preparação do ator para expressar com mais verdade o que as palavras sugerem, mas não dizem inteiramente. As palavras que se seguem seriam exemplo de subtexto para a frase anterior do discurso.

Muitos que estão aflitos com a situação de perigo em que vivem em nosso país enquanto persistir um governo de plebeus. Aflitos como meu leal e honrado companheiro Eduardo, do castelo de Offshore, nas Ilhas Virgens Britânicas; como a muito honrada família Mossak Fonseca e seus ramos diversos nas empresas de comunicação e outras; como os habitantes do condado de Furnas, que temem a chegada das tropas rebeldes a dito condado; como todos os sonegadores; como os incompreendidos paulistas que são acusados de roubar merenda escolar, quando sabemos que querem lutar contra a obesidade infantil; como os 35 heróis aflitos da Câmara dos Deputados, armados com punhais forjados no ouro que conquistaram avançando por propinodutos e outros canais subterrâneos do nosso reino.

Novo trecho do discurso do conspirador.

Desde logo, quero comunicar aos amigos e colegas, homens públicos, senadores da melhor cepa, sabedoria, que aguardarei respeitosamente a decisão do Senado Federal.

A interferência seguinte é um diálogo entre um cidadão e um senador. O hacker se assina BB. (Bertolt Brecht?)

Cidadão - Nossa causa não é desconhecida para o Senado. Nestas duas semanas ela já chegou ao ouvido deles. O vosso Martius diz que o nosso cheiro lhe impede de respirar. Os súditos pobres têm um hálito podre; mas ele verá que não têm punhos podres.

O senador Menenius - Amigos, acreditem-me, o Senado cuida de vocês com admirável afeto.

Nesse ponto, aparece no meu whatsapp uma série de desenhos – punhais, coroas de reis, caveiras, etc – e uma intervenção final do hacker WS, que fala de um dos mais famosos conspiradores da história, Brutus. WS lamenta que falte ao conspirador Temer a dignidade de Brutus quando disse:

Estou pronto a usar meu punhal contra mim, se minha pátria quiser reclamar minha morte.

Passou-se um tempo, esperei ao menos que aparecesse um "digitando" na tela do celular, mas nada mais foi escrito. Minha situação era mais delicada: também não sou bom em tecnologia, mas sou pior ainda em conspirações. Fiquei olhando para a tela, indeciso entre um rsrsrsrsrs, um ok, um bonequinho chorando, um bonequinho rindo e preferi não fazer nada. Pensei: o resto é silêncio... Será que WS agora hackeava meus pensamentos?

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