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Leonardo Attuch

Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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Haddad erra na crítica a Dilma

Candidato a ser candidato a presidente da República em 2022, o ex-prefeito Fernando Haddad publicou um artigo sobre economia neste sábado, em que faz elogios a FHC e aponta supostos equívocos da ex-presidente Dilma Rousseff como a razão principal do colapso econômico brasileiro. Além de erros factuais, Haddad contribui para a tese dos que, mesmo admitindo o golpe de 2016, consideram que a conspiração que a derrubou teria sido necessária

Denúncia oferecida contra Fernando Haddad é inepta, vazia e leviana (Foto: REUTERS/Rodolfo Buhrer)
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O ex-prefeito Fernando Haddad, que hoje é candidato a ser candidato a presidente da República em 2022, publicou neste sábado um artigo chamado Economia, que contém erros factuais e políticos. Aparentemente, Haddad tenta se equilibrar entre setores conservadores da sociedade, que participaram do golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff, e a militância do Partido dos Trabalhadores, que exige dele críticas mais contundentes à Lava Jato e ao modelo neoliberal implementado por Michel Temer e aprofundado por Jair Bolsonaro.

Diz Haddad, com razão, que, em 1998, depois da crise cambial,  o Brasil adotou um tripé macroeconômico apoiado em câmbio flutuante, superávit primário e metas de inflação. Em segiuda, ele afirma que o ex-presidente produziu superávits primários, mas não conseguiu cumprir as mestas de inflação. Parcialmente correto. FHC nem cumpriu as metas de inflação, nem conseguiu ajustar as contas públicas, uma vez que o baixo crescimento de seu segundo mandato, associado às altas taxas de juros, produziu forte expansão do endividamento interno do País.

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Sobre Lula, Haddad afirma que o ex-presidente "procurou compensar a valorização do real, acumulando reservas cambiais." Errado. Lula, na verdade, combateu a desvalorização do real com a política de acumulação de reservas internacionais. Ao fortalecer a posiç ão internacional do País, o que Lula conseguiu foi provocar forte valorização do real – e não compensá-la. Depois de assumir o governo com o dólar a R$ 4, Lula conseguiu trazer a moeda americana a R$ 1,60, o que despertou críticas de setores exportadores sobre uma suposta desindustrialização do País.

O ex-prefeito, no entanto, aprofunda seu erro quando fala da ex-presidente Dilma Rousseff, alvo de um golpe de estado já reconhecido até por seus opositores, como Michel Temer e Aloysio Nunes Ferreira. "Dilma, diante da perspectiva de desaceleração econômica, enfraqueceu a base fiscal. Em 2015, uma tempestade perfeita promoveu o colapso da economia. Em primeiro lugar, cumpre notar o desacerto da agenda adotada para estimular a economia. Fortemente influenciadas pela Fiesp, as desonerações fiscais, o Supersimples, a campanha pela redução artificial dos custos de energia etc. revelaram-se equivocadas", diz ele.

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Dilma, na verdade, produziu fortes superávits primários em 2011, 2012 e 2013 – muito mais consistentes do que, por exemplo, os atribuídos por Haddad a FHC. Apenas em 2014, diante da desaceleração internacional, houve um primeiro déficit primário, que despertou a sanha golpista no País, liderada pelo PSDB, partido que ao longo da história gerou desempenhos fiscais bem menos consistentes do que alardeia. Em 2015, todos se lembram de que Dilma substituiu Guido Mantega por Joaquim Levy justamente para tentar promover um forte ajuste fiscal. O ponto é que foi sabotada pelo movimento golpista. Portanto, se não fosse o golpe, Dilma teria aprovado medidas como a volta da CPMF e o Brasil teria retomado uma trajetória de controle da dívida interna. Além disso, não faz sentido acusá-la de ter sido expansionista do ponto de vista fiscal e também contracionista.

Em seguida, ao elencar os motivos secundário e terciário para o colapso econômico atual, Haddad cita a participação do PSDB na construção do ambiente golpista e também "a destruição pela Lava Jato de cadeias produtivas inteiras", como se estes fatores fossem menos relevantes do que erros que ele atribui a Dilma. Será mesmo que a desoneração sobre a folha de pagamento teve mais impacto na recessão do que a quebra de todas as empreiteiras brasileiras e de toda a indústria naval pela Lava Jato? Será que uma política como o Supersimples, incluída por Haddad entre as medidas que fariam parte do enfraquecimento da base fiscal, teria sido mais nociva do que a sabotagem do Congresso para impedir a volta da CPMF, imposto que existiu sob FHC e também na primeira parte da era Lula?

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Mais do que isso, ao fazer de Dilma a "Geni" responsável pela crise econômica atual, Haddad dá força aos que, mesmo admitindo a conspiração de 2016, defendem a tese de que o golpe teria sido necessário para recolocar a economia nos trilhos. Ocorre que, depois de 2016, a situação fiscal se agravou profundamente, tanto sob Temer, como sob Bolsonaro. De positivo, apenas a inflação extremamente baixa, que hoje decorre mais da anemia do mercado interno do que de qualquer mérito de política econômica.

Ao criticar os subsídios de Dilma no setor de energia, Haddad se esquece de que seu próprio programa de governo em 2018 propunha uma política para a Petrobras, em que a estatal seria capaz de regular os preços do mercado. Apenas não dizia que era semelhante à que havia sido adotada por Dilma. Uma política que, se não tivesse sido abandonada por Pedro Parente, colocado na Petrobrás após o golpe de 2016 por FHC, teria evitado a greve dos caminhoneiros e a gasolina a quase R$ 5 no mercado interno.

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É importante lembrar que a própria ex-presidente Dilma, que tinha de preparar o Brasil para uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, mesmo cercada pelos políticos mais corruptos da história do País e sob a espada da Lava Jato,  já reconheceu alguns equívocos em política fiscal. Mas mesmo assim produziu o menor desemprego da história do Brasil e seus eventuais equívocos tiveram peso muito menor do que a sabotagem golpista e as bombas disparadas pela Lava Jato. Se Haddad não sabe disso, das duas uma: ou conhece pouco economia, ou pretende se reconciliar com setores da elite financeira do País. Sua crítica, além de factualmente incorreta, foi absolutamente inoportuna.

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