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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Historiadora francesa diz que desfecho da ditadura nos legou Bolsonaro

"A 'naturalização' da ditadura levou os militares de volta ao poder. E desta vez, pelo voto", escreve a jornalista Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia, ao comentar declarações da professora titular de História Contemporânea na Universidade Paris, Lineide Duarte Plon

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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia

O Brasil é um ex-gordo que não mandou ajustar o guarda-roupa. Explico. Quando passamos da ditadura (1964-1985), numa transição “lenta e gradual”, como quis e planejou o general/ditador, Ernesto Geisel, não demos a conhecer à sociedade, ou não concedemos a ela a oportunidade de saber que estávamos fechando a porta de um passado escuro e obscuro, e abrindo outra, para a democracia. Um processo de construção, que dependia não apenas de uma nova Carta – elaborada com intensa participação dos diversos segmentos sociais em 1988 -, mas também de uma revisão do que havia se passado nos 21 anos de trevas em que ficamos mergulhados.  

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Quem se politizou e acompanhou os absurdos cometidos, de forma atenta, entendeu. O brasileiro médio, porém, (des)informado pela mídia favorável e censurada, seguiu como se a mudança fizesse parte do curso da vida. Trancamos a história no armário e ela ficou por ser contada.

Não foram poucos os filmes, livros, teses, estudos, escritos sobre o tema. Mas tudo isto, diluído intramuros, na academia, ou em exibições cinematográficas que disputavam espaço com Blockbusters. Ou, ainda, livros vendidos a preços proibitivos para chegar naqueles que não sabiam, não sabem e vão continuar não sabendo. Houve os trabalhos que impactaram, mas no meio dos já conscientes do avesso do avesso. Não vivemos, como no Chile, uma campanha sobre o “sim” ou o “não” a Pinochet, em que o assunto era discutido como um Fla X Flu, em campanhas pela TV e, necessariamente, chegando ao povo, mobilizado para se posicionar.

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Assim, fomos naturalizando a convivência com o arbítrio e os torturadores – quantas vezes, talvez, não os tivemos sentados ao nosso lado no restaurante? -   E seguimos. Esse silêncio, esse grito parado na garganta, esse gol não comemorado, não atraiu a atenção daqueles que desconheciam o vivido. Deixamos vingar o discurso dos vencedores. Os militares, as elites cúmplices, os empresários adesistas, passaram incólumes de colaboradores da tortura, a beneméritos, a políticos afáveis.  

Como fizemos desse momento uma grande negociação, acobertando com subterfúgios jurídicos temas de enorme gravidade como a tortura, as mortes por sequestro e o desaparecimento forçado, permitimos que um “tiete” desses tempos trouxesse o seu anacronismo para a presidência. Não se iludam. Brilhante Ustra está no poder.  

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Entrevistada para a Revista Carta Capital, pela jornalista Leneide Duarte-Plon, a Professora titular de História Contemporânea na Universidade Paris e pesquisadora do Institut d’Histoire du Temps Présent, Armelle Enders - que dentre outros livros, escreveu “Histoire du Brésil” (Chandeigne) – com terceira edição atualizada por causa da eleição de Bolsonaro” - atribui a correlação de forças que o levou ao poder, ao desfecho da ditadura.

Questionada sobre se o Brasil ao não punir as Forças Armadas pelos abusos cometidos, abriu caminho para a sua eleição, disse: “Na verdade, esse conflito nasce da correlação de forças no final da ditadura. A extrema-direita militar e civil negociou uma transição pretensamente democrática feita por cima, um acordão. O poder estava do lado dos militares, o que estava em jogo era a anistia. Foi preciso escolher: ou a ditadura persiste ou se processa os militares. O preço foi uma anistia negociada, sem punição. O problema sempre surge em função dos militares.”

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Em sua opinião, “Essa correlação de poder se manteve. A Comissão Nacional da Verdade desfez o pacto da Anistia, mas sem julgar os torturadores e responsáveis por crimes contra a humanidade.”Não tinha poderes para isto. Este pacto, estabelecido na anistia nos legou Bolsonaro e o seu discurso favorável ao período, levado até mesmo para a ONU. Ou seja, a “naturalização” da ditadura levou os militares de volta ao poder. E desta vez, pelo voto.

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