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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Hora de reagir

Para o presidente nacional do partido dos tucanos, o senador Aécio Neves, por exemplo. Dilma não é a presidente do Brasil, mas apenas dos 54 milhões de eleitores que votaram nela. Que diabo de democrata é esse?

Para o presidente nacional do partido dos tucanos, o senador Aécio Neves, por exemplo. Dilma não é a presidente do Brasil, mas apenas dos 54 milhões de eleitores que votaram nela. Que diabo de democrata é esse? (Foto: Ribamar Fonseca)

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Democracia, na definição do Aurélio, é o "regime político baseado nos princípios da soberania popular", ou seja, "regime de governo que se caracteriza, em essência, pela liberdade do ato eleitoral". Em outras palavras, é o regime em que o povo escolhe os seus governantes, razão porque a nossa Constituição estabelece que "todo o poder emana do povo e em seu nome será exercido". Todos os brasileiros tem obrigação de saber disso, em especial os políticos, mas existem alguns – felizmente poucos – que cinicamente fingem desconhecer os fundamentos da democracia e, o que é mais grave, a própria Constituição, embora vivam alardeando aos quatro ventos que são democratas e defensores da Carta Magna.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, se diz democrata e, no entanto, prega abertamente a derrubada de um governo eleito pela vontade da maioria do povo brasileiro, portanto legal e legitimamente constituído. Para ser mais explícito, FHC, o tucano-mor, prega um golpe no governo da presidenta Dilma Roussef. Constata-se que a interpretação de democracia dos tucanos difere de todo mundo, quando o seu exercício não atende aos interesses deles. Como perderam ano passado a eleição para a Presidência da República até hoje não aceitam o seu resultado, menosprezam os eleitores que deram a vitória a Dilma e movem céus e terras para impedir que ela exerça o segundo mandato que o povo lhe outorgou. E cinicamente se dizem democratas.

Para o presidente nacional do partido dos tucanos, o senador Aécio Neves, por exemplo, Dilma não é a presidente do Brasil, mas apenas dos 54 milhões de eleitores que votaram nela. Ele também se recusa a aceitar o resultado da eleição para a Mesa do Senado, afirmando que o presidente eleito, senador Renan Calheiros, é presidente apenas dos senadores que votaram nele. Que diabo de democrata é esse, que não aceita os resultados produzidos pela democracia? Seguindo o seu entendimento, ele não representa no Senado o Estado de Minas Gerais, mas apenas os eleitores que sufragaram o seu nome nas urnas. De acordo com a sua interpretação de democracia, portanto, para ser eleito presidente da República Aécio precisará da unanimidade dos votos do povo brasileiro.

As diferenças que se observa hoje no cenário nacional, no entanto, não estão apenas na visão de democracia dos tucanos. Também constata-se uma brutal diferença no tratamento que a grande mídia dá aos tucanos e aos petistas. Enquanto os jornalões abrem enormes manchetes sobre as acusações a petistas feitas por delatores premiados, mesmo sem qualquer prova, os mais importantes veículos de comunicação do país escondem qualquer informação que envolva tucanos, em especial o ex-presidente FHC. O ex-gerente da Petrobrás Pedro Barusco, por exemplo, disse em depoimento que vem roubando a estatal desde o governo de Fernando Henrique, mas a Globo proibiu qualquer citação do nome do ex-presidente no noticiário, ao mesmo tempo em que escandaliza a acusação de que repassou cerca de 200 milhões ao PT. Como dar crédito a semelhante imprensa?

As diferenças, porém, não param por aí. O tratamento que o juiz Sergio Moro e a Policia Federal estão dando aos empresários presos na Operação Lava-Jato difere escandalosamente do tratamento dado ao doleiro Alberto Youssef e aos outros beneficiados com a delação premiada que fizeram acusações ao governo. Segundo denúncia do jornalista Paulo Henrique Amorim, baseado em carta de um dos advogados dos presos, nem no tempo da ditadura os prisioneiros foram tão humilhados e maltratados como os empresários da construção encarcerados em Curitiba. Na prisão, que Paulo Henrique chamou de Guantânamo brasileira, em referência à base militar americana em Cuba onde os presos são torturados, os prisioneiros não dispõem, segundo a denúncia, sequer de um vaso sanitário e fazem suas necessidades num buraco. E ninguém diz nada, nem mesmo a OAB, que se mostra indiferente mesmo tendo o presidente da seção paranaense defendendo um dos presos.

Na verdade, afora Paulo Henrique Amorim, apenas o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, manifestou sua estranheza com as ações do juiz Sergio Moro, sobretudo com relação à ordem para conduzir coercitivamente o tesoureiro do PT, Vaccari, para prestar depoimento, já que ele não havia resistido à intimação. Diante das denúncias feitas por Amorim o ministro aposentado Joaquim Barbosa, que julgou o chamado mensalão, passa a ser um anjo perto do juiz Sergio Moro. A Grande Mídia, no entanto, não apenas louva as atitudes do juiz do Lava-Jato como, inclusive, como é o caso da Globo, o premia. Depois que a "Veja" viu em Barbosa "o menino pobre que mudou o Brasil", a revista "Época", do Globo, também está vendo Moro como o homem que está mudando o Brasil. Os Marinho, pelo visto, apostam no magistrado paranaense para derrubar Dilma, do mesmo modo que a "Veja" apostou em Joaquim.

O que surpreende, nesse panorama, é o silêncio da Presidenta e dos petistas diante do massacre midiático de que estão sendo vítimas por parte da chamada grande imprensa oposicionista. Por conta dessa ausência de reação é que ela sofreu uma queda brutal em sua popularidade, segundo pesquisa Datafolha. Enquanto os tucanos, que tem o apoio incondicional da mídia, utilizam todos os recursos possíveis e impossíveis para desestabilizar o governo e derrubá-lo – incluindo pronunciamentos dentro e fora do Congresso, onde afirmam que "o impeachment está na boca do povo", como se a mídia fosse essa boca – os petistas se mostram acuados, calados, sem usar os mesmos recursos. A entrada em cena do ex-presidente Lula, porém, que já confirmou a sua candidatura em 2018, tende a mudar esse jogo. Afinal, já está passando da hora de alguém reagir contra esse massacre que, agora, teve seu poder reforçado com a eleição do deputado Eduardo Cunha para a presidência da Câmara Federal. Conforme previsto, aliás, Cunha deverá ser neste segundo mandato a maior pedra no sapato de Dilma.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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