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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Huck deleta os generais de Bolsonaro e corre para os quartéis

Luciano Huck "deixou claro que sua turma é a dos soldados da ativa. Parece mesmo uma loucura, mas talvez seja apenas um recado da elite empresarial e da grande imprensa aos militares", diz Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia, em referência a um texto do apresentador, que também citou a ala militar do governo federal

(Foto: Reprodução | ABr)
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Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

Alguém convenceu Luciano Huck de que os militares no governo dão suporte a Bolsonaro, mas não representam um projeto de poder das Forças Armadas. Quem seria o informante capaz de mobilizar um sujeito moderado (e em busca do seu lugar em 2022) em direção aos grupos que tentam criar intrigas entre Bolsonaro e os generais?

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Não é irrelevante a abordagem crítica de Huck sobre os militares, em dois parágrafos do artigo que escreveu para a Folha no sábado com suas ideias para o Brasil.

No conjunto, o texto é uma composição colegial com as generalidades do bom-mocismo. É poesia ruim, quase parnasiana, com expressões como “propósito acomodatício”. Mas estão ali as suas obviedades como pré-candidato à eleição do ano que vem.

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Huck, o candidato de Fernando Henrique, ataca Bolsonaro e escreve dois trechos assertivos. Esse é o primeiro:

“Dizem que as Forças Armadas estão desmoralizadas. Quem conhece de perto os quartéis, os oficiais da ativa e a rotina das tropas, porém, sabe da contínua e inestimável contribuição dos militares para o país, sobretudo nos rincões mais pobres”.

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E esse, também categórico, é o segundo trecho:

“As Forças Armadas não têm um só sobrenome e nem são reféns do familismo. Prefiro enaltecer figuras honradas como o general Antônio Miotto, que perdeu a batalha para a Covid e não para a vaidade”.

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Esses dois parágrafos têm a melhor parte do artigo. Huck sugere que as Forças Armadas podem estar desmoralizadas. Insinua ainda que seu informante conhece bem os quartéis e reafirma a informação: os oficiais a que se refere, comprometidos com o país, são os da ativa.

E os inativos de alto escalão, que trabalham sob as ordens de Bolsonaro? E os mais de 6 mil oficiais que arranjaram emprego no governo? Não é desses que Huck fala.

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O segundo detalhe: os oficiais da ativa por ele exaltados têm vínculos com os rincões mais pobres, e aqui há outra cutucada. Os inativos de Bolsonaro teriam compromisso com quem? Por que não há referência aos inativos?

E vamos para os recados do segundo trecho, que adverte: as Forças Armadas não têm um só sobrenome e nem são reféns do familismo. É uma referência óbvia aos que se tornaram subservientes à família Bolsonaro.

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E logo depois há o elogio ao general legalista Antônio Miotto, que perdeu a batalha para a Covid e não para a vaidade.

Huck confronta as posturas dos generais da ativa e dos inativos, elogia um general que morreu de Covid (e aí critica o negacionismo de Bolsonaro) e diz que outros generais podem perder a batalha para a vaidade.

Huck aborda nos dois trechos um dos assuntos mais debatidos dos últimos meses, a possível fragilização do lastro militar de Bolsonaro, e mais ainda agora, quando se anuncia que o centrão pode avançar em direção aos cargos ocupados por generais e seus subalternos que um dia usaram fardas.

E surge então uma questão elementar: quem orientou o texto de Luciano Huck, que certamente nada sabe de poder militar e sobre as manobras de Bolsonaro para sobreviver como governante dependente do humor dos generais?

Bolsonaro sabe que alugou o centrão com sobrepreço e que pode ser saqueado e abandonado a qualquer momento. Mas ainda conta com os militares.

Luciano Huck tem padrinho mas ainda não tem partido para concorrer. Decidiu escrever um texto que o acomoda à esquerda de João Doria, de Sergio Moro e de quem acredita que possa ser candidato de centro ou da direita disfarçada de centro.

Mas deixou uma dúvida sobre a inspiração para a intromissão nas intrigas do governo militarizado da extrema direita.

Fernando Henrique, filho de general, conviveu com eles no poder por oito anos como presidente e outros tantos como senador e ministro. Terá sido ele o conselheiro de Huck para que desse a estocada nos militares?

Politicamente, o que Huck ganha com isso na direita? O recado, que envolve riscos, contém um atrevimento. Huck alinha-se aos que pretendem testar o alicerce de Bolsonaro.

Fernando Henrique talvez nem seja o informante, mas pode ter sido o inspirador da provocação do moço que sempre exclama ‘loucura, loucura, loucura’ diante de um espanto.

Huck divide os oficiais entre ativos e inativos, entre os que estão próximos do povo e os que não estão, entre os que perdem a vida para a Covid mas não perdem a batalha para a vaidade e entre os que prestam serviços a uma família e os que trabalham pela nação.

Não há entre as esquerdas grande novidade na reflexão do pré-candidato, mas no fato de que ele decidiu provocar os generais, coisa que ninguém da direita faz. O favorito de FH deletou suas fotos com os protetores de Bolsonaro.

E deixou claro que sua turma é a dos soldados da ativa. Parece mesmo uma loucura, mas talvez seja apenas um recado da elite empresarial e da grande imprensa aos militares.

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