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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Impeachment pra inglês ver

"Como se trata de um julgamento de crime de responsabilidade, não deveria ser uma tarefa para políticos e sim para juízes, do começo ao fim. Eles é que lidam com as leis e estão aptos a julgar", afirma o colunista do 247 Alex Solnik; "O Supremo Tribunal Federal deveria dar início ou não ao processo, se visse algum indício de crime e deveria encaminhá-lo por meio de instrumentos com os quais se chega a uma conclusão baseada em provas e não em briga de maioria contra minoria. Enquanto não for modificado o impeachment vai continuar colaborando para a instabilidade política à qual estará sujeito todo presidente da República que não tem maioria no Congresso", afirmou

Dilma Rousseff concede entrevista à mídia estrangeira em Brasília. 14/6/2016. REUTERS/Ueslei Marcelino (Foto: Alex Solnik)
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Ao saber que um cidadão inglês escolheu Brasília para passar as férias deste ano, um brasiliense ficou curioso e quis saber o motivo.

“É que me disseram que em Brasília tem um impeachment pra inglês ver” respondeu o turista.

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A irresistível atração por copiar tudo o que vem de fora, principalmente se é de um país com história, fama e tradição fez com que os brasileiros incluissem o instituto do impeachment na constituição do Brasil em 1824. E lá ficou, de constituição em constituição, como se fosse uma cláusula pétrea.

Com esse nome mesmo, em inglês.

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Nem tudo, porém, que funciona bem num país funciona bem num outro. Por uma singela razão: nenhum povo é igual ao outro.

Dois exemplos recentes confirmam essa assertiva.

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Logo depois de os britânicos se manifestarem a favor da saída do Reino Unido da Comunidade Européia o primeiro-ministro inglês, que era defensor da permanência, não teve dúvida. Montou um púlpito na frente da sua casa – que nada tem de palácio, como os de Brasília - e anunciou a sua renúncia.

Alguém acredita num comportamento semelhante se o mesmo acontecesse no Brasil?

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Se fosse aqui, o David Cameron brasileiro iria, em primeiro lugar desconfiar dos números, pedir uma recontagem e dar um jeito de ficar no poder.

Outro exemplo ocorreu hoje. A seleção inglesa perdeu um jogo eliminatório da Eurocopa para uma seleção amadora da Islância. No fim da partida, o técnico inglês, usou o microfone para comunicar que estava na hora de outro alguém assumir o comando da seleção, agradeceu aos jogadores e aos torcedores e disse que estava fora. Não esperou ser demitido.

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Nem se compara com a atitude que Dunga tomou quando a seleção brasileira foi desclassificada da Copa América.
Reclamou que o gol contra o Brasil foi de mão, e que ele não via motivo para se demitir da seleção por causa disso.

Só no dia seguinte, na volta aom Brasil, recebeu o bilhete azul.

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Ingleses e brasileiros adotam comportamentos muito diferentes, portanto, em questões éticas.

Para funcionar no Brasil, o impeachment deveria ser adaptado com algumas modificações.

Não deveria ser permitido que políticos o instaurassem nem o levassem adiante.

Políticos brasileiros não são chegados à ética. Instalam-no e dão sequência nele não por questões de justiça, mas por interesse partidário. Defendem qualquer mentira, se for de seu interesse, com unhas e dentes afiados.

Se o presidente da Câmara é aliado do governo, não abre o impeachment. Se ele é oposição ao governo, abre. Principalmente se se trata de um chantagista vingativo.

As etapas seguintes do processo também são contaminadas pelo viés político. A Câmara aceita dar ou não prosseguimento não por haver motivos justos e sim de acordo com o interesse político. Se o governo tem maioria, o impeachment para; se não tiver, o impeachment segue.

Isso aconteceu na primeira etapa, no caso brasileiro e está acontecendo na segunda. Não há preocupação em provar se houve crime ou não. Não há compromisso em se chegar a uma verdade. Partidos da situação votam contra o impeachment, partidos da oposição, a favor. Seja qual for a verdade.

Não se trata de uma batalha em busca de justiça, mas em busca de votos. Contra ou a favor.

Para funcionar no Brasil o impeachment tinha que ser diferente do inglês.

Como se trata de um julgamento de crime de responsabilidade, não deveria ser uma tarefa para políticos e sim para juízes, do começo ao fim. Eles é que lidam com as leis e estão aptos a julgar.

O Supremo Tribunal Federal deveria dar início ou não ao processo, se visse algum indício de crime e deveria encaminhá-lo por meio de instrumentos com os quais se chega a uma conclusão baseada em provas e não em briga de maioria contra minoria.
Enquanto não for modificado o impeachment vai continuar colaborando para a instabilidade política à qual estará sujeito todo presidente da República que não tem maioria no Congresso.

E para afundar o país em profunda recessão, mergulhado na incerteza sobre o que vai acontecer.

Se é para ser um impeachment pra inglês ver é melhor tirá-lo de uma vez da constituição brasileira.

Não vai fazer falta. Há outros meios de tirar um presidente do poder quando está conspirando contra os interesses do povo brasileiro.

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