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Geniberto Paiva Campos

Médico cardiologista

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Incansáveis salvadores da pátria: o retorno do tenentismo... de toga

Dizem também que o Judiciário é o último recurso da cidadania e da sociedade democrática. Mas como os juízes poderão adotar este belo e irrefutável conceito, se no século XXI vierem a se tornar, prioritariamente, protagonistas de um confuso processo político - salvacionista?

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A revolta é o último dos direitos a que deve recorrer um povo livre para salvaguardar os interesses coletivos, mas é também o mais imperioso dos deveres impostos aos verdadeiros cidadãos”.  (Juarez Távora, circa 1924)

No século XXI, o protagonismo no Brasil cabe ao Judiciário” (Ricardo Lewandovski, 2016)

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  1. BRASIL: A CRIAÇÃO DOS MITOS

 

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Brasil, nossa inacabada, imperfeita, pátria amada. Um país em eterna busca de si mesmo. Sempre à procura da salvação e de salvadores disponíveis. Capazes de tornar realidade o sonhado paraíso nos trópicos.

Uma terra em que se plantando tudo dá, constatou Caminha, observador del Rei, escrivão da Armada de Cabral. Criando, assim, um dos mais duradouros mitos brasileiros.

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Um país fértil, sem terremotos ou furacões. Água abundante. Riquezas minerais ao alcance da mão, na superfície da terra. Território imenso. Cercado ao norte, leste e sul por um oceano calmo, piscoso e navegável. Formando uma belíssima costa, de lindas e acolhedoras praias.

Habitado por um povo cordial assegurava o sociólogo Sérgio Buarque. Mas algo indolente, vaticinou outro sociólogo, o pernambucano Gilberto Freire. Criando outro mito sagrado.  Estudioso que dividiu o país na Casa Grande e na Senzala, prevendo, talvez, permanente desigualdade.

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 Outro brasileiro atento, o paulista Monteiro Lobato, insistia Temos Petróleo!

 E O Petróleo é Nosso! Bradavam, uníssonos, os políticos nacionalistas com o gaúcho Getúlio Vargas, presidente do Brasil, à frente.

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 Que país é este? Perguntava, ainda no século XX, um político piauiense, radicado nas Minas Gerais.

 E no alvorecer do novo século, um sociólogo atento, de origem potiguar, algo iconoclasta, muito corajosamente, apontava para a burrice da inteligência brasileira.

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E proclamava: - É preciso pensar o Brasil livremente, sem as amarras dos mitos e preconceitos criados ao longo da sua história. Sábias palavras do sociólogo Jessé Souza.

 E insistia para que o país não se deixasse manipular pela sua elite.

Admitindo todos os furos e imperfeições dessa apressada síntese histórica, caberia uma pergunta de total pertinência:  - o que ocorre com segmentos da classe média brasileira, que desde o início da década de 1920 – há quase um século, portanto – vêm persistindo na sua nobre tarefa de salvadores da pátria?

Qual o pecado original desse pobre país, eterna vítima desses heróis salvacionistas, sempre dispostos a deixar de lado os cânones da Democracia, o Estado de Direito, até os mais elementares padrões da Ordem Legal e da mais comezinha Justiça, para retirar da cena política os carcomidos, e os corruptos? E como efeito adicional, colocar em suspeição os que lutam pela Justiça Social e pela Igualdade, perversamente taxados de esquerdistas, socialistas ou comunistas?

Vamos examinar, um pouco mais detalhadamente, os dois movimentos “tenentistas”.

 

 

  1. O TENENTISMO DA DÉCADA DE 1920 – OS SALVADORES ORIGINAIS

O Tenentismo e o seu corolário, a Coluna Prestes, foi um dos mais belos momentos da história das insurreições brasileiras. Trata-se de um movimento pouco conhecido pelos estudantes do país. E com a recente – e provável - adoção da censura imposta pela “Escola sem Partido” ficará difícil, senão impossível a um professor falar aos seus alunos sobre “Coluna Prestes” e temas correlatos sem correr o risco de condenação às mais duras e injustas penas. Talvez o exílio.

Juarez Távora, um dos líderes mais importantes do movimento tenentista, defendia a revolta como um sagrado direito dos cidadãos livres.  E, completava um cidadão paulistano, leitor do jornal O Estado de S. Paulo, em mensagem à seção de cartas à redação, no longínquo julho de 1924, há quase um século, portanto: “ Não é sem sangue, sem sofrimentos e sem sacrifícios que se constrói uma grande nação. ”

Estes pensamentos, talvez, constituam um resumo da base ideológica da revolta dos tenentes. (E assegurava o escritor baiano, cidadão do mundo, Jorge Amado: “no rastro da Coluna ficava a Esperança. ”).

Era preciso mudar o país. E para mudá-lo era preciso juntar coragem e heroísmo. Montar no cavalo.  Pegar em armas. Ir à luta em campo aberto.

Durante as décadas seguintes esse ideário de bravura e coragem desmedidas foi a tônica de todos os movimentos “revolucionários” postos em ação para salvar o Brasil das mais diversas ameaças ao seu glorioso futuro: uma nação pujante e feliz. Onde o progresso, o desenvolvimento e a liberdade fariam a sua morada permanente.

(Esquecia-se, lamentavelmente, que as grandes nações – até hoje habitadas por povos livres, desenvolvidos e soberanos – foram pacientemente construídas através do entendimento, da humildade, do orgulho altivo e sereno, da defesa do seu território e da negociação política: o outro nome de DEMOCRACIA. Nunca através de intervenções heroicas ou demiúrgicas).

Os tenentes da década de 1920 deixaram um rastro de heroísmo autêntico, na sua luta para mudar o país. E pagaram com seu sangue, a prisão, o exílio, alguns com a própria vida, o seu gesto de coragem, desprendimento e patriotismo.

 Parte considerável dos integrantes do movimento tenentista viria a contribuir para as mudanças efetivas e para o desenvolvimento do Brasil ao participar das mais altas esferas da administração do país.

Num claro reconhecimento à sua competência, honradez e amor à pátria.

 

  1. O TENENTISMO DE TOGA

No alvorecer do século XXI, mal completados vinte anos de vivência democrática plena, surgem os “novos tenentes”. Para recolocar a pátria amada na trilha da salvação. Eles não sabem e não precisam usar armas. Não montam a cavalo. Seu combate não se dá nos campos de batalha.

Alguns tornam-se heróis que “fazem a diferença”. Não por seu conhecimento jurídico. Ou, simplesmente, por defender o Direito e a Justiça.

Mas por serem escolhidos, reconhecidos e homenageados pela Grande Imprensa. Onde se tornam heróis salvacionistas. Meninos pobres que nasceram em berço humilde, com a nobre missão de salvar a Pátria. Alguns têm seu nome lançado para a presidência do Brasil.

Suas heroicas batalhas têm como cenário os tribunais. Onde reinam, soberanos. E correm riscos mínimos. Desprezíveis. Interpretando a Lei, as Normas Constitucionais e o Direito, muitas vezes, ao sabor de conveniências. Ou das pressões do que entendem como “opinião pública”. Sempre atentos às opiniões da Mídia. Ciosos da sua nobre e impostergável missão: salvar o Brasil das garras da “corrupção”.

Não importando que para atingir este nobre desiderato possam provocar o desmonte de setores produtivos do país. Que, data vênia, levaram décadas para serem construídos.

Mas essa missão salvadora, em muitos casos, tem “lado”.

E não é sempre que a escolha desse “ lado”   é onde se situa a Verdade, a Justiça e o Direito.

Dizem que a Lei nem sempre faz Justiça. E como fazer Justiça, fora da Lei?

Convenientemente abandonada, quando juízes decidem priorizar obscuros conceitos salvacionistas, ao invés de se aterem à letra e ao espírito da Lei.

Acarretando gravíssimos riscos e danos à Democracia e ao Estado de Direito.

Dizem também que o Judiciário é o último recurso da cidadania e da sociedade democrática. Mas como os juízes poderão adotar este belo e irrefutável conceito, se no século XXI vierem a se tornar, prioritariamente, protagonistas de um confuso processo político - salvacionista?

Afinal, quem lhes teria conferido tais poderes demiúrgicos? Seriam tão somente (ou de novo e simplesmente) auto atribuídos?

Ao que parece, trata-se do inescapável destino da nação brasileira.

Entramos, portanto, em novo período de turbulência e incertezas políticas.

Onde reina – impávido – o novo tenentismo.

Onde o país estará cada vez mais distante da nova e esperada salvação.

E o pior, pagando altíssimo preço.

Ao correr o risco de trocar o Estado de Direito, a Liberdade e a Democracia plena por um tempo incerto – e de duração imprevisível - de trevas e obscurantismo.

Cujos sinais já são claramente perceptíveis nas poucas semanas de vigência de um governo dito “provisório”.  

Sob o olhar desatento, distante (às vezes cúmplice) dos “juízes/protagonistas” do século XXI.

Pobre Brasil, Tristes Trópicos.

 

(*) Do Instituto Lampião – Reflexão e Debate sobre Conjuntura

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