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Pedro Simonard

Antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

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Já é hora de perdoar o Grupo Globo?

O Grupo Globo sempre esteve do lado errado da história, em um caso típico, muito comum no meio empresarial brasileiro, de empresa que sempre se colocou contra os interesses do povo

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O jornal O Globo deu origem às organizações cujos carros-chefes são o jornal, a Rádio Globo e a Rede Globo de televisão. O Grupo Globo sempre esteve do lado errado da história, em um caso típico, muito comum no meio empresarial brasileiro, de empresa que sempre se colocou contra os interesses do povo.

Nos últimos sessenta anos, o GG se caracterizou como apoiador de regimes de exceção e, quando estes se desgastaram, apoiador dos processos de redemocratização do país, redemocratização necessária porque o GG participou da trama contra a democracia e necessária para recolocar o poder nas mãos da velha oligarquia que controla o país desde 22 de abril 1500. No fundo, este processo recorrente que altera golpe e redemocratização expõe a característica principal deste grupo que é estar sempre junto ao poder econômico. Se este é poder, tanto melhor; se está na oposição, a família Marinho, controladora do grupo, age nos bastidores para minar a democracia.

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Em 1964, a televisão ainda não existia, mas o jornal O Globo e a Rádio Globo tramaram nas sombras para derrubar o governo João Goulart, utilizando-se das armas que mais sabe utilizar que são a mentira e a desinformação.

No dia 2 de abril de 1964, O Globo estampava em sua primeira página o editorial Ressurge a Democracia no qual dava total apoio à quartelada de 31 de março e saudava “o heroísmo das Forças Armadas” que livrou o Brasil de um “governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradição”. 

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O regime imposto pelas armas soube recompensar o grupo pelo apoio. Em 1965 surgiu a TV Globo, canal 4, Rio de Janeiro. Roberto Marinho criou a estação de televisão, mas não tinha expertise para manter o canal funcionando e iria fechá-lo. O grupo Time/Life procurou-o e propôs investir neste projeto. Nesta época, o mais importante canal de televisão no Rio de Janeiro era a TV Rio. Graças ao capital investido pelos estadunidenses, a TV Globo retirou os principais executivos a artistas da TV Rio e começou a ganhar audiência.

Segundo o jornalista Paulo Henrique Amorim, Roberto Marinho sofreu a concorrência desleal de Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados e da TV Tupi. Também afeito a utilizar suas relações íntimas com o poder para chantagear e pressionar políticos, empresários e quem mais se interpusesse em seus caminhos, Chateaubriand conseguiu organizar no Congresso Nacional uma CPI para investigar o grupo Time/Life. O relator desta CPI foi Roberto Saturnino Braga que, posteriormente, foi senador pelo antigo Estado do Rio e prefeito do Rio de Janeiro entre 1986 e 1988. Roberto Marinho jamais perdoou Saturnino e, para se vingar, não se vexou em prejudicar toda a população da cidade do Rio de Janeiro ao tramar para que o governo Sarney decretasse a falência da prefeitura do Rio de Janeiro, impedindo Saturnino de governar.

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Ainda segundo PHA, Roberto Marinho organizou com o governo Costa Silva uma estratégia para salvar sua televisão por meio de um empréstimo para adquirir o controle da TV Globo. Para pagar este empréstimo, o governo assegurou propaganda de todas as estatais brasileiras na Globo, que, desta forma, conseguiu dinheiro para pagar o empréstimo e transformar o canal 4 em uma rede de televisão nacional, líder de audiência.

O Grupo Globo sempre colocou seu jornal, sua rádio e sua rede de televisão a serviço da manutenção do regime civil/militar que, como contrapartida, defendia os interesses do grande capital nacional, entre os quais encontrava-se o Grupo Globo. Entre outras ações, aos sábados, pela manhã, a Rede Globo apresentou de 1968 a 1981 o programa Amaral Neto, o Repórter, conduzido pelo jornalista reacionário de mesmo nome, que exibia, durante uma hora, as “maravilhas” dos governos da ditadura.

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Em 1984, comemorando os 20 anos do golpe civil/militar, O Globo publicou um editorial no qual saudava os feitos econômicos da ditadura, além de reafirmar a crença de que “a intervenção fora imprescindível para a manutenção da democracia e, depois, para conter a irrupção da guerrilha urbana”.

No dia 31 de agosto de 2013, pressionado pela palavra de ordem “a verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”, persistentemente repetida durante as manifestações daquele ano, o jornal O Globo publicou editorial, repercutido no Jornal Nacional, reconhecendo que o “apoio editorial ao golpe de 64 foi um erro”. Contudo, mantendo sua visão distorcida da história, neste editorial o grupo insiste em afirmar que havia um risco de João Goulart dar um golpe de Estado para aprovar as reformas e base.

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Este editorial não impediu o Grupo Globo de participar de novo golpe contra a democracia ao apoiar o impedimento criminoso da Presidenta Dilma Rousseff e o vergonhoso processo de law fare contra o ex-presidente Lula que tiveram como consequência a desindustrialização, o desemprego, a retorno da miséria e da fome e possibilitou a ascensão do fascismo de cunho miliciano-pentecostal que levou Jair Bolsonaro ao poder.

Ameaçado pelo governo Bolsonaro, o Grupo Globo busca costurar uma ampla aliança “em defesa da democracia”. No dia 11 de julho, o colunista Ascânio Seleme, um dos principais articulistas do jornal, publicou coluna intitulada É hora de perdoar o PT, uma tentativa de atrair o PT para participar desta aliança. Para ele, é preciso perdoar o PT pelos “malfeitos cometidos” que “já foram amplamente punidos”. Quais seriam os “malfeitos”? “Desvios de dinheiro público na gestão de Lula e Dilma, as provas são abundantes e as condenações não deixam dúvidas”. Na verdade, as provas alegadas não existem ou são inconsistentes e as condenações são tão fraudulentas que envergonham o Brasil perante o mundo.

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O colunista prossegue lembrando da “índole autoritária” do partido “como a tentativa de censurar a imprensa através de um certo ‘controle externo da mídia’, de substituir a Justiça por ‘instrumentos de mediação’ em casos de agressão aos direitos humanos, ou de trocar a gestão administrativa por ‘conselhos populares’. Esta passagem escancara a índole antidemocrática do colunista e, por extensão, de seus patrões. O controle da mídia por ele criticado é, na verdade, uma regulamentação da mídia que já é adotada em vários países do mundo como os EUA, o Reino Unido, a Argentina e a Venezuela. Nos EUA, por exemplo, a propriedade cruzada de meios de comunicação é proibida, o que impede que um mesmo grupo controle jornais, estações de rádio e televisão em uma mesma cidade. A Globo controla jornal, rádio e televisão em uma mesma cidade. Percebe-se que, na verdade, o colunista está defendendo os interesses de seus patrões porque se a mídia brasileira tivesse sido regulamentada, o Grupo Globo teria que abrir mão de alguns de seus veículos para continuar a existir.

No Reino Unido, a legislação busca impedir abusos, como a divulgação de dados sigilosos para prejudicar alguém ou alguma instituição – como a ação da Globo durante a Lava Jato.

Na Venezuela, onde Hugo Chaves sofreu um golpe de Estado midiático com certa semelhança com o que o grupo Globo fez contra a Presidenta Dilma Rousseff, a lei proíbe a hereditariedade da concessão de canais e frequências de rádio e televisão, além de proibir a transmissão de eventos ao vivo que possam incitar a violência e a desordem pública. 

A lei argentina impõe limites à propriedade dos veículos, obriga a exibição de 60% de conteúdo nacional e 30% de conteúdo local.

Será que o colunista considera que todos esses países exercem censura sobre os meios de comunicação?

As mediações criticadas pelo colunista são uma tendência mundial no direito e na justiça que visa a desjudicializar os conflitos, tornar a justiça mais rápida e efetiva. A oposição à mediação mostra como as classes dominantes brasileiras são anacrônicas e reacionárias e não conseguem acompanhar tendências que estão se tornando hegemônicas mundo afora.

Por fim, os conselhos populares visavam consolidar a participação do cidadão na formulação, implementação e controle de políticas públicas prevista, em especial, nos artigos 198, 204 e 206 da Constituição Federal de 1988. Para um funcionário de uma empresa que se especializou em solapar tudo o que signifique aumento da participação popular e da democratização da sociedade brasileira, estas medidas não são vistas com bons olhos. Como em uma imagem invertida, ele chama de autoritário o PT para escamotear a índole de seus patrões, esta sim autoritária.

Seleme lembra que o PT teve seu maior líder preso e uma presidenta “impedida de continuar” em uma afirmação desonesta que não reconhece que os julgamentos do ex-presidente Lula e de outras lideranças do partido são peças de law fare mundialmente reconhecidas e que o impedimento de Dilma Rousseff foi um processo viciado, cuja apuração por órgãos competentes mostrou que não houve crime.

O colunista apela aos militantes e eleitores, “não aos seus líderes”. Seu texto é inteiramente costurado sobre mentiras e meia-verdades históricas. Mais desinforma do que informa. É uma peça de uma estratégia que busca construir uma frente, sem programa, que pretende tirar o poder das mãos de uma extrema direita tosca para recolocar no poder a oligarquia e a plutocracia representadas pelo PSDB e pelo DEM.

Diante destes fatos, cabe aos cidadãos brasileiros indagarem se já é hora de perdoar o Grupo Globo... e a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo e o Grupo Abril... 

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