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Luciana Oliveira

Jornalista de Porto Velho, Rondônia, e membro da Comissão Nacional de Blogueiros

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“Já era ladrãozinho desde novinho, já foi tarde”

Entre os bárbaros que comentaram o senso comum era de que todos os meninos que vivem ou pedem dinheiro nas ruas se tornam bandidos e os pais são os culpados. “Onde estavam os pais dele que permitiram que mendigasse nas ruas?”, repetiram

Entre os bárbaros que comentaram o senso comum era de que todos os meninos que vivem ou pedem dinheiro nas ruas se tornam bandidos e os pais são os culpados. “Onde estavam os pais dele que permitiram que mendigasse nas ruas?”, repetiram (Foto: Luciana Oliveira)
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O título é um dos 7 mil comentários na corrente virtual que lancei em minha página no facebook e que atingiu mais de 128 mil compartilhamentos.

Foi uma convocação a protesto pela morte do menino de 13 anos, João Vitor, após agressão numa lanchonete Habibi’s, na Zona Norte de São Paulo.

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Nas imagens captadas pelo circuito de câmeras, o menino aparece sendo arrastado por dois homens, com a bermuda abaixada e jogado na calçada.

A polícia investiga se a agressão causou a morte de João e a unidade franqueada emitiu uma nota em que se compromete a cooperar para esclarecer os fatos.

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Até que esclareçam, perguntei:

“Cadê a corrente virtual Somos Todos João?”.
Provoquei sem expectativa de que a mobilização se tornasse viral, contei com umas 30 ou 40 curtidas dos amigos de sempre.
Milhares declararam com o compartilhamento que são, sim, o Brasil João.

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E não importa saber a causa da morte pra dizer que o que vimos está errado.

Absolutamente nada autoriza a ação dos brutamontes para impedir que o menino pedisse dinheiro na porta da lanchonete.

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O apelo por tantos compartilhado me provocou três sentimentos: alegria por encontrar milhares de pessoas com um olhar humano, frustração por constatar que ainda existe tanta gente equivocada sobre o papel do estado na proteção das crianças e tristeza com os que festejaram a morte de João.

Entre os bárbaros que comentaram o senso comum era de que todos os meninos que vivem ou pedem dinheiro nas ruas se tornam bandidos e os pais são os culpados. “Onde estavam os pais dele que permitiram que mendigasse nas ruas?”, repetiram.

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“Nem quero pensar no esse vermezinho se transformaria quando crescesse”, escreveu Leandro Candido Gomes.

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“Sinto muito, mas na minha opinião, foi tarde”, resumiu Priscila Bernardi.

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Não sei o que me preocupa mais: se as crianças que nascem condenadas à invisibilidade pelo estado e à mercê da mendicância e marginalidade ou os adultos por ignorância e indiferença irrecuperáveis.

Sabe o que realmente acho?

Que essas pessoas que sentenciam: “culpados são os pais”, podiam explicar como filhos com estrutura familiar, com todas as condições pra se desenvolver e se sustentar, se perdem na vida.

Quem sabe assim eu entendesse como quem não tendo nada disso, pode escapar à vulnerabilidade.

E acho mais.

Acho que quem analisa o contexto antropológico e sociológico de forma tão rasa, não tem noção alguma da realidade brasileira. Pergunto: onde estavam os pais dos que propagam a ‘faxina social” que não os educaram para enxergar o abismo que separa crianças ricas e pobres, suas causas e consequências? Por que permitiram que se tornassem adultos tão desinformados, preconceituosos e arrogantes?

O futuro está na educação, repetem da boca pra fora.

O governo Temer congelou, impôs um teto aos gastos com educação por 20 anos. Os investimentos vão acompanhar a inflação do ano anterior.
Por que se calaram? Permitiram menos pra quem mais precisa?

A turba de ignorantes que se calou pra PEC do Teto dos Gastos, agora aparece pra dizer que a morte de menores em vulnerabilidade quanto mais precoce, melhor.

A nota do Habib´s é fria, cumpre um dever com os clientes, não com a sociedade.

Leia abaixo a íntegra da nota do Habib’s sobre o caso da morte do adolescente:

“A Rede informa que continua apurando os fatos da lamentável ocorrência em uma de suas unidades franqueadas.

A franqueadora leva em consideração as informações relatadas pelos funcionários da unidade franqueada, presentes no momento da ocorrência, bem como os relatos registrados em B.O.

A polícia foi acionada, assim que verificaram que a conduta do menor estava incontrolável, ameaçando o patrimônio físico da loja e dos clientes.

Diante do estado do jovem, imediatamente, também o resgate foi acionado. E todas as orientações, por ele passadas, foram seguidas para garantir o devido socorro ao jovem, que, infelizmente, veio a falecer a caminho do hospital.

A Rede esclarece, ainda, que vai cooperar com as investigações, se empenhando em esclarecer todos os detalhes do ocorrido com prioridade.”

A publicação que fiz no meu facebook é para que a barbárie não seja potencializada pelo silêncio dos bons e para que a versão da mídia comprometida com o aprofundamento do abismo social não prevaleça.

Porque João não é o primeiro e infelizmente, não será o último condenado à morte por discriminação.

Se um dia me posicionar a favor da barbárie, me matem.

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