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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Já vivemos sob uma ditadura com um sorridente Bolsonaro

Colunista Ribamar Fonseca avalia que, após o "abraço extremamente apertado e afetuoso de Toffoli", Jair Bolsonaro "não mais precisará se preocupar com o Supremo, para onde no próximo ano pretende indicar um evangélico, para aplacar a fúria, entre outros, de Silas Malafaia". "E ninguém precisará mais ter medo de ditadura, porque ela já está praticamente instalada"

(Foto: Reprodução | Reuters | Mídia Ninja)
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O Brasil vive o pior período da sua história, adaptando-se vergonhosamente a uma disfarçada ditadura sob os olhares complacentes do Congresso, da Suprema Corte e da imprensa tradicional. O capitão Jair Bolsonaro, embora tenha chegado ao poder pelo voto direto, nunca escondeu sua natureza ditatorial: antes mesmo de assumir a Presidência da República já revelava sua tendência ao indicar, através do seu filho Eduardo, que o Supremo Tribunal Federal poderia ser fechado “apenas com um cabo e um soldado”. Mais tarde, depois de aboletado no Palácio do Planalto, o mesmo filho ameaçou o país com a possibilidade de ressurreição do AI-5, o ato institucional que permitiu à ditadura militar fechar o Parlamento e suspender as garantias individuais. Na verdade, por atos e palavras o capitão já deixou bem claro que sonha com o poder absoluto, não suportando ser contrariado e muito menos criticado, o que o levou a brigar com os principais veículos de comunicação do país. 

Sua primeira providência, ao assumir o mais alto cargo da Nação, foi militarizar o governo: nomeou mais de dois mil militares da ativa e da reserva das Forças Armadas para postos, inclusive, do primeiro escalão. E hoje até o ministro-chefe da Casa Civil é um general, assim como o ministro da Saúde. Com isso ele conquistou o apoio dos militares que, desse modo, voltaram ao poder pelo voto popular. E tratou, também, de controlar o aparelho policial:  após uma queda de braço sobre mudanças no comando da Policia Federal que custou a cabeça do ministro Sergio Moro, até então o homem forte do seu governo, Bolsonaro colocou nos principais postos da corporação nomes da sua total confiança, com os quais mantém linha direta. Com isso conseguiu não apenas blindar seus filhos, que estavam sendo investigados, como, também, montar extra-oficialmente uma polícia política que se empenha agora em intimidar os adversários. 

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Embora desde a campanha eleitoral tenha se revelado racista, homofóbico e adepto da tortura, aspectos sem dúvida negativos para qualquer político, Bolsonaro conseguiu, com a decisiva ajuda de uma bem montada máquina de mentiras na internet, conquistar um eleitorado decepcionado com os políticos tradicionais, graças, também, à imprensa corporativa que, através de uma sistemática campanha, criminalizou a classe política, em especial o PT. E o capitão, mesmo sem plano de governo e adotando medidas impopulares, à exceção do auxilio emergencial, fez milhares de seguidores fanáticos que fecham os olhos para seus defeitos e perseguem e agridem, inclusive com ameaças de morte, quem o critica. Só porque gritou “fora Bolsonaro” a jogadora de vôlei Carol Solberg vem sofrendo perseguições absurdas, enquanto um casal de idosos, provavelmente esclerosado, queimou livros de Paulo Coelho, o autor brasileiro mais traduzido e lido em todo o mundo, por ter o escritor criticado o capitão.  

O comportamento agressivo dos bolsonaristas lembra os nazistas da época de Hitler. Mesmo sem os recursos tecnológicos atuais de comunicação, o medíocre cabo do exército alemão conseguiu em apenas quinze anos, através de uma bem estruturada propaganda, ascender ao poder absoluto num país de tradição intelectual como a Alemanha.  E anestesiou o povo alemão com seus discursos teatralizados, fazendo aflorar nas pessoas os seus piores instintos, materializados pela Gestapo no assassinato de mais de seis milhões de judeus.  A estratégia de propaganda é a mesma adotada por Bolsonaro que, usando as redes sociais, já conseguiu, segundo pesquisas, a aprovação de 52% dos brasileiros, mesmo em meio às queimadas, ao desmonte da Petrobrás e ao desemprego de mais de 50 milhões de trabalhadores. Segundo a DataPoder, o maior índice de aprovação está, surpreendentemente, justamente entre os desempregados.

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O fato é que Bolsonaro, mudando o seu comportamento agressivo do início do mandato, foi gradativamente assumindo o controle de tudo, inclusive do Congresso, da Suprema Corte e da imprensa tradicional e hoje vivemos uma ditadura disfarçada em que as instituições funcionam apenas para oferecer, ao resto do mundo, a aparência de democracia, pois aceitam sem gemido todas as ações do governo, mesmo aquelas que contrariam a Constituição e os interesses nacionais. O Supremo Tribunal Federal, por exemplo, acaba de autorizar a venda de ativos da Petrobrás sem o aval do Congresso que, por sua vez, adota um silêncio cúmplice. E a imprensa igualmente se cala diante da escandalosa destruição da mais importante estatal brasileira. Gradativamente, sem alarde, um sorridente capitão foi envolvendo o Congresso e o Supremo, virando rotina os seus encontros festivos com ministros da Corte Suprema e o senador Davi Alcolumbre, com abraços de velhos amigos que, sem dúvida, estarão sempre prontos a fazer a sua vontade. E o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, engaveta todos os pedidos de impeachment. 

Ao mesmo tempo, ele criou um clima de medo entre os seus adversários. Quem ousa criticá-lo fica sujeito a ser investigado pela Policia Federal e a responder inquérito.  Além da jogadora Carol Solberg, que vem sendo perseguida porque gritou “fora Bolsonaro”, o chargista Renato Aroeira e os jornalistas Ricardo Noblat e Helio Schwartsman, por exemplo, foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional, esta herança da ditadura militar, porque criticaram o capitão. O ministro da Justiça, André Mendonça, como um eficiente cão de guarda do Presidente, está atento a qualquer movimento que possa representar uma crítica, enquanto os fanáticos bolsonaristas agridem verbalmente – e às vezes até fisicamente – quem ousa chama-lo de feio. A imprensa, em especial a Globo, afora algumas críticas tímidas, faz agrados disfarçados para tentar recuperar as gordas verbas publicitárias que perderam. Os Marinho, aliás, embora com a espada no pescoço, ameaçados de perder a concessão da televisão, preferem tentar uma conciliação com o capitão a aproximar-se de Lula que, mesmo atacado por eles, nunca lhes fez qualquer tipo de ameaça. Nem cortou a publicidade.  

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Aparentemente, com o ministro Celso de Mello fora da Suprema Corte – ninguém conseguiu até agora entender a estranha antecipação da sua aposentadoria – Bolsonaro terá o domínio do STF, sobretudo com a nomeação do desembargador Kassio Muniz para a vaga do decano.  Isso significa que ele ganhará todas as ações naquela Corte, sem precisar mais fechá-la com um cabo e um soldado. Depois daquele abraço extremamente apertado e afetuoso de Toffoli, que os bolsominions não gostaram, Bolsonaro não mais precisará se preocupar com o Supremo, para onde no próximo ano pretende indicar um evangélico, para aplacar a fúria, entre outros, de Silas Malafaia. E ninguém precisará mais ter medo de ditadura, porque ela já está praticamente instalada.  

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