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Pedro Maciel

Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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Jânio Quadros, os cosmonautas e o vestido da rainha

Poucas vezes o mundo viu semelhante quebra de protocolo. Mas a rainha Elizabeth achou aquilo engraçado, retribuiu o sorriso e agradeceu a "ajeitadinha" com um sinal de positivo com a cabeça

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Uma das histórias que vou contar hoje já foi trazida às páginas do CORREIO pelo jornalista Rogério Verzignasse, a quem rendo minhas homenagens e renovo gratidão por ter ouvido meu pai, até então o guardião das histórias, com generosa paciência.

Meu avô Pedro, foi um funcionário público exemplar, trabalhou mais de trinta anos no Instituto Agronômico de Campinas; todos os dias, pontualmente, caminhava de sua casa, na Rua Carolina Florence até o IAC na Avenida Barão de Itapura, onde desenvolveu por mais de três décadas anonimamente um trabalho memorável. Nas palavras de Rogério Verzignasse: "Seo Pedrinho (como era chamado), criou o centro de documentação histórico sobre as pesquisas. O acervo fantástico, composto também por imagens flagradas por outros profissionais do instituto, mostra aldeias africanas durante as expedições científicas do IAC. Há presidentes e pesquisadores do mundo inteiro subindo os degraus do saguão. Sobram paisagens de cafezais imensos, cobrindo roças do Interior”. 

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No instituto meu avô amealhou muitos amigos, dentre eles José de Castro Mendes, artista, historiador, jornalista, músico e pesquisador, que chegou a trabalhar no CORREIO e que dá nome ao teatro municipal de Campinas. 

Mas era do agrônomo e geneticista Alcides Carvalho, de quem ele mais gostava e a quem admirava. Cientista abnegado, que após aposentar-se foi nomeado servidor emérito pelo governo do Estado de São Paulo, trabalhou pela ciência e pelo Brasil, por quase 50 anos.

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Suas pesquisas no IAC salvaram a economia brasileira ao desenvolver uma variedade de café resistente à praga da ferrugem. Feita a referência ao cientista Alcides Carvalho vale a pena, antes das histórias, uma reflexão sobre a situação dos institutos de pesquisa no liberal.

Apesar da importância do IAC e de outros institutos, nos últimos anos o quadro de pesquisadores teve redução de 25% e o quadro de apoio à pesquisa tem 77% de cargos vagos. 

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Essa realidade afeta todos os institutos em São Paulo, até mesmo o Instituto Butantã, tão destacado atualmente no discurso oficial, tem 46% de cargos de pesquisadores vagos e cerca de cinquenta pesquisadores estão prestes a aposentar, o que equivale a cerca de 36% do quadro atual.

O IAC e o Butantã são prova da essencialidade do investimento público na pesquisa, mas pessoas como o Alcides Carvalho, são taxados de “ineficazes”, “corruptos” e “inúteis” pelo discurso liberal, uma narrativa que busca legitimar a redução de investimentos, corte de verbas, extinção de serviços, e sucateamento dos institutos de pesquisa.

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A pandemia veio mostrar que esse discurso está errado.  

Feito esse registro, que meu avô aprovaria, retomo as histórias. 

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Numa manhã comum meu avô recebeu o expediente, e entre memorandos, ofícios etc., havia um bilhete escrito à mão, supostamente assinado pelo então governador Jânio Quadros. No bilhete uma ordem direta: que o “responsável pelo departamento de documentação”, meu avô, providenciasse dois álbuns com fotos para os cosmonautas russos que visitariam o IAC, seria, segundo o bilhete, um presente que o governador ofereceria aos ilustres visitantes.

Seo” Pedrinho, prudente, lembrou-se da vigência de um decreto de Jânio Quadros que proibia gastos extraordinários, razão pela qual escreveu no verso do bilhete: “Não conheço a letra do governador. Portanto, entre atender o bilhetinho e cumprir o decreto, opto por cumprir o decreto”, anexou o decreto ao bilhete e devolveu ao remetente.

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Passados alguns dias no Diário Oficial do Estado foi publicado decreto autorizando “o servidor Pedro Benedicto Maciel, em caráter excepcional, a realizar todos os gastos necessários” para que dois álbuns, com fotografias das pesquisas e da História do IAC, fossem confeccionados, para o Governo do Estado de São Paulo oferecer aos cosmonautas russos que visitariam o IAC. 

Além da autorização em caráter excepcional, a realizar todos os gastos necessários, meu avô recebeu elogio formal do governador, o qual passou a constar do seu prontuário funcional.

Fato é que, como escreveu Verzignasse, “o cosmonauta Yuri Gagarin se curvou para ver as mudas de café. Quem estava por perto, esticou o pescoço para não perder o momento histórico. Afinal de contas, o primeiro homem a ficar em órbita da Terra visitava o Instituto Agronômico de Campinas”. Foi um fato marcante para aquela Campinas, para o estado e para o país dos anos 1960, pois a presença de Gagarin representou o reconhecimento da comunidade científica internacional à pesquisa de excelência realizada no IAC. 

Meu avô estava acostumado às andanças pelo planeta, ao lado de grandes como o pesquisador Alcides Carvalho, ele circulava entre os famosos ou modestos agricultores com naturalidade, sem cerimônia, por conta disso acabou sendo protagonista de um outro episódio singular. 

Também nos anos 1960 ele fotografava a visita ao IAC da rainha Elizabeth, a Inglaterra tinha enorme interesse pelas pesquisas do IAC. 

Bem, a soberana inglesa, cercada de curiosidade e seguranças, desfilava inalcançável, distante da possibilidade de uma boa foto. Meu avô, buscando o melhor ângulo, luz e distância, foi se enfiando no grupo, até chegar na frente da rainha e sorrindo arrumou com a própria mão seu vestido, que estava desalinhado o que, segundo ele, poderia comprometer a estética do click.

Poucas vezes o mundo viu semelhante quebra de protocolo. Mas a rainha achou aquilo engraçado, retribuiu o sorriso e agradeceu a "ajeitadinha" com um sinal de positivo com a cabeça.

Tudo isso, e muito mais, aconteceu ali na Avenida Barão de Itapura, onde repousa mais de 134 anos de história da ciência e serviços prestados ao país, sendo assim #VivaIAC , #VivaButantã , #VivaaosServidoresPublicos.Essas são as histórias e as reflexões.

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