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Pedro Maciel

Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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João Herrmann e a reconquista da liberdade

João Herrmann o jovem prefeito que na defesa da liberdade e da democracia desafiou a ditadura militar, foi ainda Deputado Federal, Deputado Constituinte, foi candidato a vice-governador de São Paulo e ao Senado, nos deixou em 2009, mas é um herói da liberdade dos estudantes da minha geração

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Tenho de João Herrmann Neto as melhores lembranças, pois ele, então prefeito de Piracicaba desafiou a ditadura e recebeu a juventude de braços abertos nos congressos da UNE realizados na cidade em 1980 e 1982.
De 1977 a 1982 ele, campineiro de nascimento, era o Prefeito de Piracicaba.

Em 1980 Piracicaba, então com pouco mais de 200 mil habitantes, recebeu milhares de universitários, vindos de todo o país para o 32º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), num tempo em que as liberdades civis não existiam e que a UNE havia sido declarada ilegal pelo regime militar.

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O direito à liberdade, ou liberdades civis, que consiste em todas as liberdades que todo o cidadão possui e que não podem ser restritos delas, que está assegurada na Constituição do Brasil, que parece algo tão normal hoje em dia, não existia em 1980.

Não participei do 32º Congresso, pois de 1979 a 1981 eu era um estudante secundarista e dividia meu tempo entre apaixonados debates sobre a fundação de um partido - de caráter socialdemocrata - que representaria uma nova forma de ação cidadã, a reconstrução da UCES, UPES e UBES (entidades estudantis secundaristas), os dias mágicos no Colégio Vitor Meireles de amores definitivamente efêmeros e a tarefa - tristemente racional - de ingressar na universidade, mas sabíamos do que acontecia em Piracicaba.

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Os participantes do 32ª Congresso da UNE viveram o temor de represálias do regime de exceção e de seus órgãos de repressão (dizem que os estudantes mantinham esquemas próprios de segurança), por isso a coragem e espírito democrático dos que desafiaram a ditadura devem ser lembrados.

É verdade que em 1979, os estudantes já houvessem realizado em Salvador, sem intervenção policial, mas, pelo que sei, não houve apoio como o recebido em Piracicaba.

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João Herrmann colocou à disposição da UNE profissionais da área da saúde (para atendimento a eventuais emergências) e também a Guarda Municipal, para proteção dos estudantes e a Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) entrou em recesso por dez dias, cedendo seus espaços para alojar os cerca de 4 mil participantes, além de colocar funcionários e professores a serviço da infraestrutura do Congresso, ou seja, o Executivo Municipal e a UNIMEP legitimaram publicamente a UNE e ao hospedá-la e aos estudantes assumiram todos os riscos em defesa da liberdade e da democracia.

Esses fatos não podem ser esquecidos, ao contrário, devem ser relembradas nesses tempos de intolerância e retrocessos as escolhas corajosas de João Herrmann e do Reitor Elias Boaventura.

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Em 1981 o 33º Congresso ocorreu em São Bernardo do Campo.

Em 1982 o 34ª Congresso da UNE ocorreu novamente em Piracicaba no Ginásio do XV, lá conheci João Herrmann Neto, ele prefeito e eu aos dezoito anos empoderado na função de delegado eleito pela PUC Campinas. João Herrmann era jovem tinha trinta e cinco anos, era uma figura espetacular, um democrata genuíno (algo de raro hoje em dia).

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Mas voltemos ao 34º Congresso.

Quando chegamos ao ginásio do XV de Piracicaba percebemos que a tensão era grande, pois um dos principais dirigentes da UNE, Javier Alfaya, espanhol de nascimento, enfrentava um processo de expulsão do Brasil. Ele estava sob liberdade vigiada e era obrigado a apresentar-se periodicamente à Polícia Federal.

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Além disso, corria o boato que estava instalado a "Operação Pira" (cujos registros permaneceram nos arquivos do Dops) e que teria reunido nada menos do que oito equipes do Centro de Informações do Exército (CIE), Centro de Informações da Aeronáutica (CISA), Centro de Informações da Marinha (Cenimar), Serviço Nacional de Informações (SNI), Departamento da Polícia Federal (DPF) e Polícia Militar.

Foi nesse clima que se desenvolveu o congresso.

Ao final do 34ª Congresso, a UNE pela primeira vez foi eleita uma mulher para a presidência da entidade: Clara Araújo. Javier Alfaya, antecessor de Clara na UNE, foi condenado pela Lei de Segurança Nacional, mas não foi expulso do país: fixou-se na Bahia, onde chegou a ser eleito vereador.

João Herrmann o jovem prefeito que na defesa da liberdade e da democracia desafiou a ditadura militar, foi ainda Deputado Federal, Deputado Constituinte, foi candidato a vice-governador de São Paulo e ao Senado, nos deixou em 2009, mas é um herói da liberdade dos estudantes da minha geração.

E os amigos, com quem compartilhei aqueles dias e outros tantos momentos como as eleições de 1982 e a campanha das diretas em 1984, seguiram o caminho da defesa da democracia e das liberdades civis e suas escolhas representaram e garantiram a liberdade reconquistada.

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