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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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Jornalismo, e daí?

Miguel Paiva escreve sobre a busca da compreensão dos significados dos fatos políticos e registra a importância dos comentaristas políticos: "Para isso, ler os comentaristas políticos é fundamental. Cabe a eles e a todos nós salvar essa imagem para que não viremos pequenas notas de pé de página."

(Foto: Miguel Paiva)
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Por Miguel Paiva, do Jornalistas pela Democracia

Fico pensando como fazem meus colegas comentaristas políticos neste Brasil de hoje. Temos uma tradição de excelentes comentaristas na história do jornalismo e, mesmo nos tempos da ditadura, algo de valioso sobrava por debaixo de tanta violação dos direitos de expressão. Hoje vivemos uma violação semelhante. Não é que não podemos falar. Até podemos, mas falar sobre o quê? O mundo político de Brasília virou um espetáculo de quinta categoria onde os atores, todos péssimos, se esmeram em não dar nenhuma qualidade ao espetáculo. É uma opera buffa sem a menor graça. Mesmo as articulações, as alianças, os jogos de cena típicos da política deram espaço a um fanfarronice onde nenhum conceito ou ideia sobrevive. O que os jornalistas ainda dizem cai no vazio da perplexidade e as ameaças à democracia cavalgam como numa parada militar.

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Bolsonaro reduziu a política como um jogo de poder a um pega pra capar onde só se salva quem não tem nada a dizer. Os protagonistas são os piores possíveis e as discussões, quando acontecem, são realizadas aos gritos, palavrões , ofensas e ameaças.

Todos os dias, ao abrir o jornais, nos deparamos com um relatório inócuo de coisas absurdas que ocorreram no dia anterior. Não leio mais todos os colunistas e os poucos que leio se esforçam barbaramente em trazer algum assunto, ou fazer alguma analogia mesmo que distante, ao fato mais importante do dia. Mas não há dúvida que fatos importantes estão rareando. 

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Encontramos sim, ofensas ao STF, ameaças ao meio ambiente, denúncias de mau comportamento, relatórios pífios de atitudes patéticas dos governantes, constatações de envolvimentos familiares que se repetem a cada dia. Falar da família Bolsonaro e suas ligações perigosas, além de trazer risco ao escriba, não revela nada de novo. Os ministros do STF devem morrer de vergonha de ter que sentenciar sobre fatos do calibre dos que o governo fornece. 

Os grandes comentaristas políticos tentam descobrir significados onde não existe inteligência para isso. Nessa luta inglória e teimosa sobra ao colunista fingir que a política brasileira ainda existe. A tradição do comentário político cede espaço à crônica de costume ou a página policial. O país caminha a passos largos para um regime sem cultura, sem contestação, sem opinião, sem jornalismo e sem pensamento. Os pobres continuarão morrendo de fome e quem pensa terá de se contentar com uma bela partida de xadrez ou um livro interessante, lido pela internet, enquanto ela ainda não for controlada.

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O país virou um deserto de ideias, a política um exercício de autoflagelação e o jornalismo, se houver resistência, a única boia de salvação da civilização. Somos a informação e hoje, a informação circula pelas redes. Para se chegar ao controle dessas redes é preciso virar uma China, onde a informação é controlada mas em troca, o país consegue crescer e sobreviver com dignidade. Estamos longe disso. Prefiro viver sabendo do que acontece e podendo escolher o que fazer e em quem votar. Para isso, ler os comentaristas políticos é fundamental. Cabe a eles e a todos nós salvar essa imagem para que não viremos pequenas notas de pé de página. 

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