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Pedro Simonard

Antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

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Jornalismo, mas pode chamar de ideologia

O jornalismo possui uma função de controle social importante que é difundir uma visão de mundo particular de uma classe social como se fosse a verdade única, como se fosse a visão de mundo de todas as classes sociais e sujeitos

(Foto: Reprodução)
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A imprensa industrial ou grande imprensa ou PIG zela pouco ou quase nada pelo conteúdo do que publica. A maior parte das matérias e das colunas publicadas repercutem os interesses dos patrões, dos donos dos veículos de comunicação. Isso é chamado, cinicamente, de liberdade de imprensa e de liberdade de expressão. Liberdade de imprensa, então, é a liberdade que o dono do veículo tem de publicar o que quiser e bem entender sem ser criticado nem censurado por ninguém. Obviamente não é ele quem escreve as notícias e as colunas. Isso ocorre muito raramente que é para não dar muito na vista. Ele emprega prepostos para executarem esta tarefa e sempre poderá contar com a pusilanimidade de alguns que se submetem a escrever, sem questionar, as maiores barbaridades a mando do patrão.

O jornalismo possui uma função de controle social importante que é difundir uma visão de mundo particular de uma classe social como se fosse a verdade única, como se fosse a visão de mundo de todas as classes sociais e sujeitos. Esta visão de mundo particular podemos definir como ideologia. Um dos muitos significados de ideologia a define como um modo de ver o mundo que mascara a realidade. Outra definição muito difundida define a ideologia como algo propositalmente distorcido, quase um sinônimo de mentira. 

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A visão de mundo que predomina na sociedade capitalista é a da burguesia. Isso significa que é a ideologia da burguesia que predomina e se faz passar como a única possível. A imprensa industrial se encarrega de reproduzi-la e difundi-la em seus veículos.

A coluna de estreia da jornalista Malu Gaspar no jornal O Globo é um exemplo de uso ideológico da imprensa. Intitulada O bolsopetismo e a Petrobras, esta coluna tenta convencer o leitor de que o bolsonarismo e o petismo são faces de uma mesma moeda, que ambos guardam semelhanças entre si. No artigo em questão, a jornalista comenta a intervenção de Jair Bolsonaro que levou à substituição na presidência da Petrobras do queridinho dos neolibs, Roberto Castello Branco, indicado por Paulo Guedes, pelo general (mais um em cargos públicos!!!) Joaquim Silva e Luna. Malu Gaspar, de maneira, leviana e ideológica, aponta que haveria uma certa convergência entre o bolsonarismo e o petismo e a esquerda em geral no que concerne à Petrobras. Não explica que convergência seria esta e utiliza o termo bolsopetismo (ou dilmonarismo, segundo ela) que ela não define com precisão, não significa nada e é utilizado por quem busca “lacrar” e desinformar.

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Nos governos do PT, a Petrobras cumpria várias funções sociais como desenvolver tecnologia própria, incentivar o desenvolvimento científico, formar mão de obra qualificada entre os jovens, incentivar a indústria nacional, substituir importações, gerar emprego em áreas de apoio as suas atividades fins, manter os preços dos combustíveis em um nível condizente com a renda do trabalhador brasileiro, apoiar a cultura e programas sociais e muitas outras atividades.

Comparar, como se fossem semelhantes, as ações de governo de um partido que democratizou o orçamento público por meio do orçamento participativo,  que investiu em pesquisa e educação, investiu em saúde pública, que vacinou 80 milhões de brasileiros contra o H1N1 em três meses, que apoiou a indústria nacional, defendeu os interesses do povo brasileiro contra os interesses de outros países e realizou muitas outras ações com as ações de um presidente entreguista, impopular, traidor do povo, que desmontou a indústria nacional, que implementou políticas de extermínio do povo brasileiro entre outras ações e medidas de traição ao povo brasileiro é, no mínimo, muita insensatez.

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Falta à jornalista formação política. Ela estranha o fato de que setores da esquerda e funcionários da Petrobras tenham apoiado a troca de comando promovida por Bolsonaro na empresa. Tivesse ela formação política saberia que alianças podem ser provisórias e seguirem os ventos da conjuntura. Os esquerdistas que apoiaram a troca podem não conhecer muito bem o general, mas conheciam bastante o estrago que o preposto de Paulo Guedes fez ao longo do tempo em que permaneceu à frente da empresa. A oportunidade de se livrar de um entreguista, cuja missão era destruir a empresa, uniu diferentes campos políticos, mesmo que não se tenha absoluta certeza de como o general indicado irá atuar. Dependendo das medidas que o general irá implementar, é possível que estes diferentes campos políticos possam se unir contra ele. Política é assim.

A jornalista se pergunta o que a sociedade espera da Petrobras. Se ela tivesse lido um almanaque de história teria compreendido que, desde a luta de Monteiro Lobato, a sociedade brasileira espera que a empresa seja indutora de desenvolvimento industrial, econômico, agrário, científico e tecnológico.

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Ela trata da dívida da Petrobras como se fosse um grande problema. Toda grande empresa faz dívidas para financiar seu crescimento. O importante é que a Petrobras é uma empresa lucrativa, não deficitária, e poderá arcar com esta dívida. Nos governos petistas a empresa deu lucro e mesmo sob o controle dos entreguistas ela também lucrou.

Malu Gaspar critica o fato de a empresa ter sido utilizada “nos governos petistas” para impulsionar o crescimento da economia. Isso é ruim? Por acaso ela vive de renda, não tendo que trabalhar? O salário que ela recebe não depende das assinaturas dos leitores, da venda de jornais impressos e de espaços para publicidade? A jornalista comemora o fato de o “petrolão”, vulgo Lava Jato, ter desmontado a empresa e a economia brasileira. 

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A colunista não aprofunda nenhuma questão que ela mesma levanta. Não explica por que é ruim a Petrobras incentivar o crescimento da economia e, por extensão, a geração de empregos. Deve achar que é mais importante distribuir o lucro da empresa entre seus acionistas e desempregar centenas de milhares de trabalhadores, deixando-os na miséria. Não explica o que é bolsopetismo. Ao tratar deste tema ela propõe uma vaga relação entre a Itaipu Binacional, onde o general Silva e Luna era o diretor, e a Petrobras a partir de uma não menos vaga comparação das duas empresas como indutoras do desenvolvimento nacional. Seu artigo não é nem um texto jornalístico, porque carece de informações precisas e aprofundadas, e ainda é um péssimo artigo opinativo já que chegamos ao fim a não sabemos o que propõe a jornalista, qual a sua opinião, onde ela quer chegar. 

No último parágrafo, ela aborda o que chama de “debate repetitivo”, mas “necessário” sobre os objetivos da Petrobras, propondo que o povo brasileiro, dono da empresa, decida se quer uma empresa com ações na bolsa que “assuma compromissos com investidores para financiar suas atividades” ou se quer uma empresa que assuma funções sociais. 

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A lógica do mercado especulativo e dos investidores é aumentar seu lucro em detrimento dos interesses dos trabalhadores. Para atender a estes interesses, os entreguistas que conduzem a empresa sob o governo Bolsonaro venderam, a preço de banana, a rede de distribuição de combustíveis da Petrobras, sua subsidiária de distribuição de gás, sua rede de postos de gasolina, a rede de gasodutos e oleodutos de uma de suas subsidiárias, refinarias e outros ativos que permitiam que a empresa controlasse uma fatia significativa do mercado de extração de petróleo, produção e distribuição de combustíveis. Tudo isso para diminuir as atividades de risco e aumentar a margem de lucro de seus cerca de 700 mil acionistas. Tudo isso para transformar a empresa, que detém tecnologias de alto interesse nacional, em produtora de commodity e importadora de produtos com maior valor agregado. Esta nova função da Petrobras aumentou a margem de lucro dos acionistas, mas gerou desemprego, desnacionalização e perda de controle sobre atividades fundamentais para o crescimento do país.

A jornalista desconhece que toda empresa desempenha uma função social. Cabe a ela esclarecer qual é a sua posição no debate que propõe se ela acha que a função social da Petrobras deve ser contribuir para que o Brasil se torne uma país independente e soberano ou se a empresa tem que existir para dar lucro aos seus acionistas.

O artigo de Malu Gaspar parece – repito, parece porque é um artigo obscuro, como já mostrei - defender os interesses de seus empregadores que apoiam todas as políticas neolibs implementadas por Paulo Guedes, apesar de Jair Bolsonaro. É mais um jornalista a defender os interesses do patrão, é mais um cumprindo a função ideológica de vender como bom para todos aquilo que é do interesse de uma pequena minoria, a burguesia neocolonial brasileira. Ao agir desta maneira ele se coloca ao lado de tantos colegas de profissão que fazem da desinformação seu modus operandi.

Alguns jornalistas que trabalham na grande imprensa fazem uma profissão de fé da frase “ideologia, eu quero uma para viver”. O problema é que o Cazuza escreveu esta assertiva como ironia, não como lema de vida.

P.S.: Precisamos defender uma reforma constitucional que substitua o impeachment, instrumento utilizado pelas oligarquias que compõem a burguesia neocolonial para retomar o controle do poder, pelo recall, instrumento que coloca nas mãos do povo a destituição daqueles que ele mesmo elegeu.

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