CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Paulo Moreira Leite avatar

Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

1179 artigos

blog

Junto com coronavírus, vem a fome

"Mesmo reconhecendo que a proposta original de Bolsonaro para os trabalhadores informais era muito pior do que a resultado final, a ajuda de R$ 600 está longe de atender as necessidades do país diante da catástrofe do Covid-19", escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

Enquanto trabalhador vai à rua, governo avança contra sindicatos (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Por Paulo Moreira Leite, para o Jornalistas pela Democracia

Ninguém precisa lembrar, aqui,  a diferença abismal entre as economias norte-americana e brasileira.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Em março de 2020, cabe registrar um ponto principal. A comparação entre a postura de cada governo para garantir a sobrevivência das famílias de trabalhadores quando o mundo ingressa numa das piores crises da história  do capitalismo não é apenas escandalosa pelos números.

Também é vergonhosa pelo que demonstra sobre a diferença de tratamento de dois governos que, mesmo alimentando uma semelhança ideológica evidente, assumiram compromissos diversos e até opostos na hora de garantir os direitos das camadas inferiores da pirâmide social.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

No Brasil, Bolsonaro pretendia assegurar uma ganho mensal de R$ 200 reais para cada trabalhador informal, uma massa que  hoje representa 41% da mão de obra empregada no Brasil.

Quando ficou claro que o governo caminhava para uma derrota desmoralizadora no Congresso, firmou-se um acordo em torno de R$ 600. A conta é que famílias com dois adultos sem emprego terão direito a R$ 1200,00.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Ainda que essa quantia seja três vezes maior que a miserável oferta inicial -- o que revela a natureza leviana dos cálculos oficiais quando envolvem os direitos das camadas inferiorizadas -- há alguma coisa para festejar mas muito lamentar, objetivamente.

Para fazer um debate tomando o salário mínimo como referência. Conforme o artigo 7, inciso VI, da Constituição Federal, o mínimo deve ser capaz de atender a um conjunto de dez "necessidades vitais básicas" que definem a sobrevivência em nosssa sociedade, desde educação, lazer, saúde e muitos outros.  

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Por decisão do governo Bolsonaro, no incio do ano o mínimo foi fixado em R$ 1045, num reajuste que  já diminuiu ganhos previstos na legislação deixada pelos governos anteriores desde Lula. 

Pelo mínimo, de qualquer maneira, dois adultos receberiam R$ 2090. Essa soma fica 70% acima do acordo celebrado e não há exagero em denunciar que a fome tornou-se uma perspectiva real de milhões de pessoas.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Mesmo envolvendo a mais básica das necessidades, a  "alimentação", cabe reconhecer um quadro de dificuldade.

Um dos raros projetos de alimentação subsidiada do país, o programa Bom Prato, mantido desde 2011 pelo governo de São Paulo, tem um custo total de R$ 5,70 por refeição, que pode ser considerada uma das mais baratas do país.  

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Quem entra na fila paga 1 real, o governo paga  o resto. Do ponto de vista da maioria da população, a clientela do projeto é simbólica. Os 22 restaurantes que oferecem o Bom Prato atendem 93 000 pessoas por dia, num Estado com 44 milhões.

No país do Covid-19, se cada família informal/desempregada conseguir de  fazer todas as refeições do dia pelos valores de mercado do programa, seu gasto com alimentação será R$ 2052,00 por mês, de longe superior ao benefício somado de dois adultos.

Desde ontem, esta é a perpectiva colocada para os milhões de brasileiros e brasileiras chamados a pagar a conta mais salgada do Covid-19/Bolsonaro. E aqui interessa conhecer o pacote aprovado pelo Congresso norte-americano.

Destinado em sua maior parte para salvar empresas e seus executivos, o pacote de US $ 2 trilhões reservou um quarto dessa quantia para os trabalhadores.

O plano estabelece uma ajuda mínima de US$ 600 dolares por semana -- quase o dobro do salário mínimo mensal. Também definiu um benefício de US$ 1200 dólares para assalariados com as remunerações mais baixas, além de um extra de R$ 500 dólares por filho.

Esquecendo as comparações que envolvem diferenças estruturais entre a economia e a sociedade de cada mais, o essencial é reconhecer como cada governo faz um uso diverso dos recursos de que pode dispor para enfrentar uma catástrofe que se aproxima.

O que se revela, aqui, são visões que, mesmo querendo ser semelhantes no plano das ideias gerais, levam levar a situações diferentes e mesmo opostas.

Um dos mais reacionários e nefastos presidentes da história norte-americana, Trump enfrentou os setores mais conservadores de seu partido e do empresariado de seu país para aprovar o pacote de 2 trilhões. Não correu o risco de se afastar da base da sociedade no ano em que irá disputar a reeleição.

Nem se escondeu atrás de alegações contábeis sobre "controle de gastos públicos" que são uma forma de esconder favores prestados aos barões do mercado finaneiro.

O governo Bolsonaro acoelhou-se diante da elite que sustenta seu governo e conta as moedas de cada vantagem obtida à beira do abismo.

Conforme levantamento da Folha, o Planalto aceitou total ou particalmente 11 das 13 revindicações do patronato, enquanto programava um avanço, centavo por centavo, até a fome da maioria dos brasileiros. Enquanto isso, as principais lideranças de trabalhadores sequer foram informadas sobre o teor das discussões e muito menos convidadas a dar qualquer palpites.

Compreensivelmente, um se faz de imperador. O outro, é seu súdito.

Mesmo reconhecendo que a proposta original de Bolsonaro para os informais era muito pior do que a resultado final, a ajuda de R$ 600 está longe de atender as necessidades do país diante da catástrofe cada vez mais próxima.

Alguma dúvida? 

 

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247,apoie por Pix,inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO