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Hildegard Angel

Jornalista, ex-atriz, filha da estilista Zuzu Angel e irmã do militante político Stuart Angel Jones

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Leandro Lo, o ídolo brasileiro que gostaríamos de ter festejado em vida, e não apenas após sua morte

"Todo mundo sabe quem é ex-BBB, mas ninguém sabe quem foi Leando Lo", escreve Hildegard Angel

(Foto: Reprodução/Instagram)
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Por Hildegard Angel, para o 247 

No Brasil, o boxe não é nem era um esporte popular. Mas quando Eder Jofre ganhou o título de Campeão Mundial de Peso Galo, em 1962, virou celebridade nacional, e até hoje é lembrado e sua memória reverenciada. Quando Maria Esther Bueno ganhou o torneio de Wimbledon em 1959, a maior parte do povo brasileiro não jogava tênis, como ainda não joga, não conhecia o Torneio de Wimbledon, tampouco tinha viajado à Inglaterra. No entanto, Maria Esther Bueno se tornou ídolo nacional, sabia-se tudo sobre ela, e sua roupa de tenista era copiada e comentada. Naqueles tempos não havia redes sociais, assim como não havia grandes feitos brasileiros a divulgar e se tornarem febre nacional, como Maria Esther e Eder Jofre. Será que isso explica o fato de passarmos a conhecer alguns dos grandes fenômenos das artes e dos esportes apenas após sua morte?

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Por ordem, puxando pela memória, os Mamonas Assassinos surpreenderam um colosso de gente, que não os conhecia e só tomou conhecimento de sua importância depois de a Globo mudar a programação por dois dias para falar deles, falar da Brasília Amarela e para chorar sua morte, sempre repetindo o mesmo vídeo dos Mamonas no Chacrinha, pois, ao que parece, não havia participação deles em outra atração musical da casa. Eram artistas importantes que, até então, não haviam tido o reconhecimento daquele conglomerado de TVs, rádios, jornais, revistas e gravadora.

Mais recentemente, o mesmo ocorreu com Marília Mendonça, a cantora da sofrência, sensacional, maravilhosa, e de que o público fora do circuito sertanejo só ouviu falar após a tragédia aérea. O próprio Paulo Gustavo, que bombava no teatro, lotava auditórios, arrastava multidões para os cinemas, não merecia o mesmo estrelato televisivo e jornalístico de outras celebridades. Na TV, ele era apenas do elenco do Vai que Cola, em canal pago. Sua morte foi uma comoção, multiplicou glórias, louros e reconhecimentos, que poderiam ter acontecido antes. Tal e qual com Marília.

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As grandes corporações midiáticas promovem e incensam os artistas e atletas seus contratados, não os demais. Elas dominam o mercado com suas gravadoras, produtoras de cinema, tevês, rádios, imprensa, apoiam os grandes espetáculos etecetera, e quem não está nesse catálogo fica de fora. Não participa dos shows de Roberto Carlos no fim de ano, não é mencionado nas novelas, muito menos desperta o interesse de seu jornalismo. Fato.

Não falo só na Globo. A Record também tem a sua bolha evangélica, e só joga pra ela. Além de haver uma política de discriminar artistas contratados e/ou prestigiados pelas emissoras concorrentes. Quem ainda escreve a história da fama nacional é a TV.

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Vamos ao Leandro Lo. Um ídolo internacional, ícone mundial do jiu-jitsu. São impressionantes as manchetes no mundo inteiro lamentando sua morte trágica. Altos elogios e lamentos dramáticos contra a violência covarde de que foi vítima. No exterior acontecem vigílias de fãs, manifestações indignadas dos aficionados do esporte. No entanto, no Brasil, o atleta brasileiro Leandro Lo foi praticamente uma novidade pós mortem. Aqui, quando se fala em Jiu-Jitsu, ainda é só a família Gracie.

Esperamos que o monopólio do reconhecimento saia do âmbito apenas das emissoras douradas e platinadas e se espraie por todas as outras mídias. Nesse aspecto, os influenciadores digitais já estão batendo um bolão. Eles passaram ao controle da opinião, e torço para que assumam o papel importante de repercutir quem de fato acontece, e não apenas reverberar os contratados por A, G ou R.

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Numa busca no Google de registros da mídia brasileira sobre o super-campeão mundial Leandro Lo encontrei apenas 11 páginas, sendo que 10 com datas de a partir de seu assassinato. Lo era solenemente ignorado. Ao fim da 11ª página (incompleta) do site de buscas, com menções ao atleta, surge a observação:

In order to show you the most relevant results, we have omitted some entries very similar to the 102 already displayed.”

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Tradução: “Para mostrar os resultados mais relevantes, omitimos algumas entradas muito semelhantes às 102 já exibidas.” Cento e duas matérias!  Nosso mais fabuloso atleta mereceu apenas 102 entradas consideradas relevantes pelo Google.

Aos 14 anos, Leandro Lo recebeu a faixa preta. Aos 21 anos, em 2011, já era campeão brasileiro de Jiu Jitsu sem quimono, e depois em 2012. Naqueles mesmos dois anos foi Campeão Brasileiro (CBJJ), feito que repetiu em 2017. Foi Campeão Mundial Abu Dhabi Pro (UAEJJF), em 2011, 2013, 2014 e 2015. Campeão Pan-americano (IBJJF) em 2012, 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018; Campeão Europeu (IBJJF) em 2017. Em 2012, conquistou seu primeiro Campeonato Mundial (IBJJF). Em seguida em 2013, 2014, 2015, 2016, 2018 e 2019. Sete títulos sucessivos de Campeão Mundial!

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Essa gloriosa carreira de sucessos no jiu-jitsu de Leandro representou uma vergonhosa carreira de insucessos da mídia brasileira. Todo mundo sabe quem é ex-BBB, mas ninguém sabe quem foi Leando Lo. Agora só nos resta lamentar os títulos, que não festejamos, os campeonatos, que não acompanhamos, o ídolo, que não adoramos ao tempo em que estava vivo para receber o calor de nossa gratidão, o afago de nosso reconhecimento.

A Bandeira do Brasil que nos orgulha é aquela que sobe aos pódios das vitórias suadas, das realizações corajosas e únicas de nossos atletas, artistas, empreendedores. Não aquela usada como foulard no pescoço, pareô e camiseta das passeatas que empurraram nosso país para o desastre mais calamitoso de todo o seu tempo.

A propósito, Marielle Franco também só se tornou conhecida após sua morte.

Para esse quadro exclusivo, que favorece e contempla apenas os privilegiados contratados e protegidos da mídia corporativa, há uma solução: a regulação da mídia, que não permite a criação de monopólios, esse tentáculo, verdadeiro garrote que aperta, limite, restringe o reconhecimento, sem discriminação, dos nossos valores nos mais variados campos da vida brasileira.

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