Lesa pátria

O governo MT, ilegítimo, inseguro e subalterno tem o perfil adequado para as intenções do conglomerado de forças que impetrou a quebra da normalidade democrática em nosso país.

De fato, os grupos de justiceiros acometidos de surto messiânico, dos corruptos em busca de valhacouto, dos membros de partidos obcecados pelo poder a qualquer custo e ainda de uma determinada elite equivocada e de mente colonizada que se mancomunaram para impetrar verdadeiros crimes de Lesa Pátria, todos se comprazem a cada episódio tragicômico apresentado pelo governo federal.

A última patacoada, a operação "carne fraca", em evidência em todos os meios de comunicação, até no exterior (e na vergonha nacional) vai muito além de mais uma midiática operação da Política Federal, ultrapassa a questão dos prejuízos bilionários à dimensão econômica, transcende a agressão quase irreparável à imagem do país e serve como uma luva aos interesses do acima mencionado conglomerado de forças espúrias.

Ao mesmo tempo em que nas rodas de conversa, nas entrevistas, nas reportagens, nos artigos e em outras manifestações a mídia fala do absurdo e canhestro churrasco de carne importada do caricato Presidente MT, oferecido a convivas para "resgatar" a credibilidade da nossa pecuária, na Câmara corre com celeridade e sem pudor mais uma tentativa de ataque aos direitos do trabalhador. Trata-se da terceirização ampla geral e irrestrita, ataque frontal à CLT já tentada no passado, mediante o PL 4302 de 1998, no governo FHC com o apoio do PMDB e do PSDB.

A coisa toda, em outro período obscuro da nossa História, inspirou o genial Chico Buarque, que na canção "Vai Passar" alertava - "dormia a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações".

Para que o "Vai Passar" se concretize, para que o vilipêndio à Nação seja barrado não podemos nos distrair ou sermos ingênuos. A operação desmonte do Estado Democrático de Direito, os ataques ao patrimônio nacional e aos mais diferentes interesses do trabalhador foram muito bem arquitetados e vêm sendo implementados com rapidez, para serem consumados antes que o país acorde, e com eficácia, amarrados em Emendas à Constituição, de modo a não serem facilmente desfeitos quando o país voltar a normalidade democrática.

São muitas as frentes de luta. Assim por exemplo, enquanto estamos engajados na defesa das aposentadorias, eles agem nas Comissões do Congresso, procurando evitar o Plenário, para remendar a legislação trabalhista; enquanto os setores progressistas buscam motivar o povo para as manifestações, eles vão tentar evitar eleições diretas. Não tenham dúvida, sistematicamente derrotados nas urnas, os Partidos que se associaram à quebra da normalidade democrática, em especial o PMDB e o PSDB não terão pejo em modificar a legislação eleitoral para adequá-la à sua feição e aos seus interesses.

As ações do conglomerado ilegítimo que governa direta e indiretamente o país são praticadas com base na lógica que Max Weber designava como "Zweckrationalität" ou racionalidade das consequências, ou ainda razão objetiva, típica do Mercado, onde quem pode tem e quem não pode, fica sem. E por isso são tão ardilosas.

Referem-se portanto a uma crença, quase uma religião de que o Mercado e sua lógica são a melhor forma de perceber e de agir no mundo.

Sequer percebem que se trata de postura absolutamente responsável pela crua realidade mundial na qual 1% da população detém 50% da riqueza produzida.