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Liturgia e engajamento

A Igreja dos pobres, se quiser resgatar toda a Igreja, terá inevitavelmente de restaurar também os elementos essenciais da vida cristã e da identidade eclesial, como a liturgia e a expe­riência mística. Enquanto esses elementos perdurarem como característica exclusiva e nota dominante daqueles que temem a irrupção libertadora dos oprimidos, será difícil falar em verda­deira renovação da Igreja

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Há agentes pastorais que conseguem, ao orar, sobrepor‑se espiritualmente ao burburinho da racionalidade e mergulhar na união amorosa com o Pai. A dificuldade existe para os que fazem de sua atividade pastoral mera estratégia de organização, de conscientização e de mobilização populares. Reduzem a evan­gelização à conscientização.

A fé, quando não fica relegada à esfera privada da pessoa, passa a ser também “politicamente” alimentada ‑ a visão pastoral do trabalho e da sociedade predo­mina sobre a experiência teologal comunitariamente incremen­tada. Por vezes, uma simples reunião de discussão de tarefas é considerada oração ‑ modo grosseiro de batizar um ativismo que, sem dúvida, é importante, mas necessariamente não nutre a experiência teologal, assim como a prática não é capaz de, por si mesma, dotar o militante político da visão teórica livre de dogmatismo ou de sectarismo.

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Nem sempre é fácil articular a prática pastoral com a vida de oração. Esta parece não ter ainda encontrado o seu lugar próprio no novo universo dos agentes comprometidos com a pastoral libertadora. Na Igreja dos pobres, são novas as práticas pastorais, os métodos e os conteúdos da catequese e da prepa­ração aos sacramentos, o modo de organizar a comunidade e de entender o seu papel, e a forma de inserção social dos agentes; mas são ainda antigas as referências quando se trata de oração, de liturgia, de revitalização da vida teologal.

A Igreja dos pobres, se quiser resgatar toda a Igreja, terá inevitavelmente de restaurar também os elementos essenciais da vida cristã e da identidade eclesial, como a liturgia e a expe­riência mística. Enquanto esses elementos perdurarem como característica exclusiva e nota dominante daqueles que temem a irrupção libertadora dos oprimidos, será difícil falar em verda­deira renovação da Igreja.

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Em muitas CEBs permanece a duali­dade entre inovação pastoral e identidade canônica. A liturgia celebrada pouco tem a ver com a prática libertadora dos parti­cipantes. 0 celebrante mantém inalterado o rito tradicional, sem adequá‑lo às expressões e aos símbolos próprios da comunidade local, embora introduzindo um discurso político que, por vezes, leva os fiéis a se perguntarem qual a relação entre o discurso (avançado) e a liturgia (tradicional) ‑ tal a inadequação entre o significado (o sentido) e o significante (o rito). Daí o incô­modo: a impressão de que se “aproveitou” da liturgia para fazer política. Isso reforça a posição dos que, na Igreja, rejeitam a pastoral popular e se consideram fiéis detentores da identidade eclesial e dos símbolos ortodoxos ‑ pois neles não há inade­quação entre o sentido e o rito, na medida em que, tanto no que apregoam quanto no modo de celebrar, querem manter fun­damentalmente inalterada a realidade. Nesses há mais “coerên­cia", pois seu ritualismo desencarnado corresponde a seu dis­curso alienado.

Assim, fica mais fácil compreender por que o recuo cristão frente ao social vem sempre acompanhado por uma predominância quase exclusiva do litúrgico, do devocional e do sacramental, bem como de um espiritualismo evasivo que con­firma a desigualdade social vigente.

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