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Luis Costa Pinto

Luis Costa Pinto é jornalista, escritor e consultor na Ideias, Fatos e Texto. É também membro do Jornalistas pela Democracia. Twitter: @LulaCostaPinto, Facebook: lula.costapinto

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Luiz Inácio e o sentimento do mundo

Para Luis Costa Pinto, do Jornalistas pela Democracia, em seu pronunciamento aos brasileiros neste 7 de setembro, o ex-presidente Lula "levantou o braço esquerdo à margem do gramado e pediu para entrar no jogo"

Ex-presidente Lula em pronunciamento de 7 de setembro (Foto: Reprodução)
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Por Luis Costa Pinto, do Jornalistas pela Democracia

No pronunciamento à Nação que fez no 7 de Setembro desse Ano da Peste de 2020, o ex-presidente Lula deu a um só tempo lições de Política e de Vida. Foi didático ao expor o duro aprendizado que viver nos impõe.

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No plano político, o homem que exerceu por duas vezes o mandato de Presidente da República, tendo-os disputado em cinco oportunidades, revela-se pessimista em relação ao futuro do País. Além disso, dá sinais de ter aprendido a contemporizar menos e a radicalizar mais a fim de governar de acordo com o rumo a ser apontado pelas urnas que eventualmente o reconduzirão à Presidência.

Escutado a partir da dimensão humana, o Lula que se pronunciou ao Brasil e aos brasileiros na última segunda-feira demonstra imensa resiliência ante os recalques classistas que estão na raiz dos processos persecutórios imorais, exacerbadamente injustos e politicamente calibrados que foram disparados contra ele a partir do gabinete do ex-juiz Sérgio Moro e da “força-tarefa” da Lava Jato, em Curitiba. Tudo, claro, polidifundido por parcela majoritária da mídia tradicional e de uma rede abjeta de disseminação de mentiras e de discursos de ódio por meio da Internet e das redes sociais.

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O vídeo, disponível no YouTube e em diversos outros canais (pode ser visto aqui), não traz a lume uma versão 2020 do “Lulinha Paz e Amor” de 2002. Ao contrário, é um Luiz Inácio que parece olhar o telespectador e ouvinte diretamente nos olhos e dizer, sem precisar explicitar, que o compromisso dele é com os estratos mais miseráveis, abandonados, famintos, perseguidos e esquecidos da população brasileira. E, para atendê-los, não transigirá em acordos com as parcelas mais tradicionais da economia e da sociedade brasileiras.

O ex-presidente, dono do melhor feeling da História nacional para captar os sinais de cansaço e ruptura na base de nossa pirâmide, sabe que as urnas municipais deste ano absorverão os primeiros sinais do sufocamento social do povo brasileiro. A partir da cadeira que foi dele no Palácio do Planalto, e onde jamais deveria estar sentado um desqualificado que atende pelo nome de “Jair Bolsonaro”, vê-se há quase dois anos inaptidão para a gestão pública e ausência absoluta de sintonia ou empatia com as parcelas mais humildes da população. As urnas de novembro regurgitarão esse fastio.

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À vocação para a cleptocracia nata ao grupo palaciano de Michel Temer, o vice figurativo que assumiu a caneta presidencial com a deposição de Dilma Roussef no golpe jurídico/parlamentar/classista de 2016, Bolsonaro somou a natureza autoritária de sua gangue doutrinada na caserna. Os militares que ora despacham no Planalto integram o lado ruim, a escória mesmo, da turma que ascendeu ao generalato nos últimos anos. Lula sabe disso. E infere, ainda, com a sensibilidade e sabedoria tão peculiares a si, que de onde menos se espera, nada sai: o atual governo não possui qualidade, inteligência ou capacidade para desenhar um caminho por meio do qual, ao trilhá-lo, o brasileiro reencontre a esperança. Daí ter exposto suas virtudes gerenciais e competitivas no pronunciamento – a oportunidade bate-lhe à porta uma vez mais.

Logo depois de assistir à fala de Lula, ocorreu-me ato contínuo o poema Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade:

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“Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

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Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.

Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

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Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.”

Os versos de Drummond são de 1940. Em 1961, ao assumir o Governo de Pernambuco pela primeira vez, Miguel Arraes usou parte da estrofe inicial no discurso de posse. Dos políticos de linha popular pré-1964, o governador pernambucano cassado pelos golpistas fardados foi aquele por quem Lula cultuou mais respeito. Ele sempre deixou isso claro, apesar das dobradinhas eleitorais terem sido mais intensas com Leonel Brizola. Em 1998, derrotado pela terceira vez numa eleição à Presidência, o ex-presidente enfim eleito em 2002 e reeleito em 2006 já havia inscrito o discurso de Miguel Arraes na biblioteca imaginária de textos que lhe são caros e essenciais. Exerceu os oito anos de mandato presidencial como a perseguir o resgate daqueles versos drummondianos.

Em seu pronunciamento de 7 de Setembro, numa prosa direta e pragmática, Lula lembrou as linhas imortais do poeta mineiro e não deixou dúvidas: tem duas mãos, e o sentimento do mundo. Armado de tal determinação, levantou o braço esquerdo à margem do gramado e pediu para entrar no jogo.

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