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Mario Vitor Santos

Mario Vitor Santos é jornalista. É colunista do 247 e apresentador da TV 247. Foi ombudsman da Folha e do portal iG, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha.

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Lula e Alckmin, a gênese de uma frente antifascista

Mario Vitor Santos analisa os movimentos de Lula e Alckmin e anota: está no horizonte uma aliança da esquerda com o centro e mesmo uma ampla frente antifascista

Lula e Geraldo Alckmin (Foto: Ricardo Stuckert | Reprodução/Facebook)
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Por Mario Vitor Santos

Não importa se vai chegar a acontecer, pois o movimento em si já produziu efeitos. A aproximação, inesperada, mas que vinha sendo considerada há meses, do ex-governador tucano Geraldo Alckmin a Lula, visando a posição de vice na chapa presidencial, causou um strike.

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Cercada de descrédito inicial, ela foi se confirmando. Depois que o ex-governador não desmentiu as primeiras notícias, a mídia reaça teve convulsões de cachorro atropelado só superadas pelo êxtase de seus comentaristas ao advento da postulação presidencial do ex-juiz Sergio Moro.

Nenhum esforço analítico ou reserva ideológica retira o sabor dessa ruptura: como pode Alckmin, esse prócer tucano, em eterna luta com João Doria num PSDB colonizado pelo bolsonarismo, ousar cruzar a rua, saltar a greta da polarização e estender gestos de reconciliação com vistas a aliar-se a Lula, seu (da mídia tóxica, ao menos) maior inimigo? O presidente tucano, Bruno Araújo, gotejou fel diante do ato de insurgência. 

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Submetido a inúmeras derrotas mesmo depois de, em nome de um outro PSDB, ter sido quatro vezes governador do estado mais rico, Alckmin vinha sendo seguidamente massacrado em diversas disputas na luta interna tucana pela máquina de João Doria e seu delfim, Rodrigo Garcia.

Na política e na história, mágoas e traumas frequentemente têm primazia sobre convicções e princípios. O Brasil está diante do prospecto da aliança de dois humilhados em busca da volta por cima em graus muito diversos, mas com sinal trocado: 

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  • Lula foi sendo encurralado e acabou afinal condenado e preso. Foi também sempre apoiado pelo partido que agora ajuda a reerguer; 
  • Já Alckmin, após assistir ao sacrifício do adversário, foi sendo descarnado em silêncio, cristianizado e abandonado por Doria e pelo partido em 2018 (teve 4,76% dos votos, o pior resultado da história do PSDB). Desprezado na casa que sempre foi sua, corre agora sérios riscos de mais uma vez ter derrota humilhante. Líder de todas as pesquisas de intenção de voto para governador em São Paulo, Alckmin mesmo assim não se sentiu nada confiante. Tomou ele mesmo a iniciativa de praticamente retirar a própria candidatura ao Bandeirantes e ir procurar abrigo em local mais seguro, a chapa com Lula. Penhorou seu futuro ao ex-encarcerado. 

Qual demonstração de força, vinda do campo adversário, poderia ser melhor do que essa agora para Lula? Este não esperou para faturar e colocar a foto com Alckmin em sua galeria.

Desses movimentos, o que mais interessa é seu significado. Do ponta de vista político mais geral, abre-se uma importante fissura eleitoral no bloco conservador. Para Lula e o PT, surge a perspectiva mais concreta de aliança com parcelas mais expressivas do centro político e mesmo o espectro de criação de uma ampla frente antifascista contra Bolsonaro.

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As centrais sindicais apoiaram a aliança com Alckmin. Haddad, grande beneficiado, tweetou definindo a aliança como fator essencial para derrotar o fascismo no primeiro turno. Em entrevista à Rádio Gaúcha, Lula lançou a tarrafa mais longe, para além de Alckmin. Falou bem de José Serra, da ex-governadora gaúcha Yeda Crusius e, no PMDB, de Germano Rigotto. 

O movimento nitidamente almeja anexar quem apoiou o golpe contra Dilma. Não à toa, além dos olhos grandes para o PSB, Lula sempre faz questão de lembrar do “PSD do Kassab”. Quanto mais se amplia a aliança na chapa presidencial, mais complexas e apertadas ficam as alianças para governadores nos estados. A começar pela desafiadora e decisiva situação em Minas.

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Uma pesquisa aponta a aliança com Alckmin importante para a conquista de mais 4 a 5 pontos de intenções de votos. Há mais do que isso, pois o que importa é a sinalização. Não é a primeira vez que em função de uma resistência encarniçada dos setores populares frações das classes dominantes se descolam e se dispõem a alianças pontuais ou estratégicas com a esquerda, sob a hegemonia desta.

Nesta aliança, se ela ocorrer, é de se supor que haja disputa em torno de um programa nacionalista, de esquerda, popular, como foram os dois primeiros governos de Lula, ainda que com concessões pontuais que não impedem a obtenção de imensas conquistas. 

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Ao fim e ao cabo, as decisões sobre seu vice e programa de campanha caberão mesmo a Lula, que mais do que nunca, após 580 dias na prisão e tudo o mais, terá a palavra final.

Mais ao centro ou à esquerda, a decisão dependerá de uma única avaliação: qual caminho leva à derrota eleitoral do fascismo. 

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